Cielo (CIEL3): resultado decepciona com volumes menores e ações desabam 9,15%; executivos falam em ganhar mercado

Companhia vem sofrendo com competição mais acirrada e anunciou contratação de funcionários para ganhar marketshare

Lara Rizério Vitor Azevedo

Publicidade

Analistas já esperavam dados não tão empolgantes da Cielo (CIEL3) para o segundo trimestre de 2023 (2T23) – e a expectativa se confirmou. Os números foram considerados fracos, não sendo um catalisador para uma ação que já carecia de triggers de curto prazo. Com isso, nesta terça-feira (2), as ações caíram 9,15%, a R$ 4,27.

A adquirente registrou lucro líquido recorrente de R$ 486 milhões no 2T23, um crescimento de 26,8% frente a mesma etapa do ano passado.

A Genial Investimentos apontou que o lucro ficou praticamente em linha com as suas estimativas de R$ 492 milhões (um valor apenas 1,3% menor), apresentando um crescimento de 10,2% no trimestre e 26 no ano, sendo o 8º trimestre consecutivo de expansão anual do lucro líquido recorrente, além de atingir uma rentabilidade (ROE) de 17,0% (+1,1 ponto no trimestre e +2,2 pontos no ano). Já o lucro reportado, ficou em R$ 709 milhões versus R$ 722 milhões de suas estimativas, beneficiado pelo impacto extraordinário do imposto sobre serviços (ISS) no montante de R$ 223 milhões.

Ebook Gratuito

Como analisar ações

Cadastre-se e receba um ebook que explica o que todo investidor precisa saber para fazer suas próprias análises

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Assim como esperavam os analistas da casa, a empresa apresentou uma forte evolução nas margens, impulsionado pelo melhor take rate ( ganho obtido com cada transação, receita com pré-pagamento/ volume financeiro transacionado) das operações que ficou em 1,16%,  impulsionado em parte pelo processo de reprecificação dos produtos e a nova regra do intercâmbio para o pré-pago que entrou em vigor no 2T23.

Saiba mais:

Confira o calendário de resultados do 2º trimestre de 2023 da Bolsa brasileira

Continua depois da publicidade

O que esperar da temporada de resultados do 2º trimestre? Confira ações e setores para ficar de olho

Por outro lado, o volume financeiro transacionado (TPV) ficou bem abaixo das suas expectativas, apresentando uma queda trimestral e anual de -2,6% frente o 1T23 e -11,4% na base anual, reflexo da perda de clientes no período e um cenário macroeconômico ainda desafiador.

“Apesar do grande avanço na precificação e penetração de produtos de pré-pagamento, os volumes foram bem fracos, levantando dúvidas em torno de uma robusta recuperação esse ano, principalmente se a competição começar a acirrar no rentável meio da pirâmide de clientes com uma guerra de preços”, avalia a Genial.

Continua depois da publicidade

Rentável, mas perdendo volume

A Cateno também reportou volume financeiro fracos com crescimento de apenas 2% frente o 2T22, levando a uma desaceleração da expansão do lucro de 34% frente o 1T23 para 15,9% na base anual agora no 2T23 alcançando R$ 284 milhões.

Os analistas acreditam que o preço de mercado da Cielo reflete um pessimismo do momento de mercado, deixando assim o valuation atrativo – CIEL3 negocia a atraentes 5,95 vezes o Preço sobre Lucro (P/L) esperado para 2023 e 5,11 vezes o P/L esperado para 2024.

“Mas sem nenhum gatilho de curto prazo e volumes bem mais fracos, estamos com receio de que a competição aumente. Por tanto, apesar dos múltiplos atraentes, estamos rebaixando nossa recomendação de compra para manter, reduzindo nosso preço alvo de R$ 5,65 para R$ 5,15”, avalia a Genial.

Publicidade

O Credit Suisse também avaliou que os resultado da Cielo vieram fracos, com a receita líquida 5% abaixo do consenso (com TPV fraco), enquanto os custos operacionais aumentaram, levando a um número abaixo do esperado de 3% no lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês). O Ebitda recorrente totalizou R$ 1,045 bilhão no 2T23, um crescimento de 14,3% em relação ao 2T22.

Do lado positivo, os resultados financeiros foram impulsionados por fortes receitas de pré-pagamento (+64% frente o 2T22).

“No geral, acreditamos que, apesar do valuation descontado, mas com os números indicando um crescimento menor da indústria de cartão e maior competição levando a um fraco desempenho operacional, os investidores devem continuar neutros em relação ao papel”, avaliam os analistas do banco suíço.

Continua depois da publicidade

O Itaú BBA vê resultados mornos no 2T23, conforme o esperado, também ressaltando a combinação de forte queda de TPV e maiores despesas, que é particularmente preocupante para a companhia no segundo semestre (e provavelmente para todas as empresas da indústria).

“O Yield aumentou menos do que o esperado e pode ter atingido o pico no segundo trimestre. Cateno também apresentou volumes menores, compensados pelas margens. Entendemos que hoje o nome está bem precificado a 7,5 vezes o preço sobre o lucro esperado para 2024, sem catalisadores de curto prazo”, avalia o BBA.

Executivos da Cielo falam sobre recuo – e reação

Em teleconferência com jornalistas, o recuo dos volumes da Cielo foi destaque entre as perguntas. A companhia, já há algum tempo, vem defendendo que tem foco em manter sua rentabilidade – mas sofre também pressão de concorrentes, que aparentemente, de acordo com executivos da adquirente, aceitam trabalhar com margens menores ou até mesmo deficitárias.

Publicidade

“No primeiro semestre, passamos por readequação de preços, de olho no macro, nos custos e no valor agregado nos nossos produtos. Essa readequação demonstra que estamos em um bom nível de racionalidade. Nós mantemos esse ponto”, falou Estanislau Bassols, diretor executivo (CEO).

Indo mais longe, Bassols defendeu que, no passado, a Cielo já teve de encarar outros players trabalhando de forma não rentável e ganhando market share, mas que, na história, os clientes acabam voltando.

Fora isso, a companhia também destaca a dificuldade em entender o recuo causado pelo momento macroeconômico, que inibe transações, do assédio de concorrentes.

De toda a forma, a Cielo pretende reagir. A companhia vai contratar mais de mil pessoas para atuarem no segmento de varejo, com foco principalmente  nos clientes menores, onde vem sofrendo mais.

” Quando levamos apoio comercial e logístico para os parceiros, temos produtividade superior do que aquilo que temos no vendedor porta a porta. Isso nos levou a expandir nossa força comercial, com a visão de que vamos ter um diferencial”, comentou Bassols. “Não mudamos, no entanto, a nossa busca por eficiência e por rentabilidade. Temos esse compromisso”.

Quanto às margens, os diretores afirmaram que a expansão é significativa, sendo que a Cielo tem hoje 2500 funcionários “na rua”. “Temos a primeira onda de contratação de 400 pessoas e depois temos outras. A ambição é que conseguirmos ganhar o market share que desejamos. As contratações ainda não estão  nos gastos neste trimestre e devem, sim, pesar um pouco nos próximos. Mas temos trabalhado em rentabilidade”, falou Filipe Oliveira, diretor financeiro (CFO).

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.