Cia Hering e Marisa desafiam cenário macro e seguem em alta: há espaço para mais?

Ao combinar vigoroso plano de expansão à reestruturação dos negócios, ações destas empresas se descolam do setor

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SÃO PAULO – O bom momento de varejistas de vestuário parece não ter passado, mesmo com valorizações bastante fortes no último ano. Só as ações da Hering (HGTX3) subiram mais de 150% em 2010 e ultrapassam uma alta de 15% nos primeiros quatro meses de 2011. Outra small cap do setor, a Lojas Marisa (AMAR3), acumulava até terça-feira (12) valorização de 9,5% no ano e de 21% em 30 dias. O cenário de menor crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e do crédito – que tem pressionado outras tradicionais varejistas da bolsa, levando ações como Lojas Renner (LREN3), Lojas Americanas (LAME4) e Natura (NATU3) a acompanhar o sinal negativo do Ibovespa em 2011 – parece ter desviado destas duas empresas. 

A Raymond James, por exemplo, elevou na última quarta-feira (6) as recomendações para o segmento em 45%, admitindo seu tom excessivamente pessimista no início do ano, devido às perspectivas macroeconômicas de elevação dos juros e alta dos preços do algodão. Os analistas da consultoria agora passam a avaliar um repasse de preços mais equilibrado e o crescente potencial de consumo da classe C.

Além disso, outros analistas chamam atenção para o fato de que o aperto monetário prejudica mais alguns membros do varejo do que outros. “A desaceleração do crédito tende a acontecer em produtos de maior valor agregado e ticket médio, principalmente em automóveis, imóveis e eletrodomésticos e eletroeletrônicos”, diz a equipe do Banif. O banco afirma que as vendas de produtos têxteis possuem menor valor agregado e, assim, dependem menos de financiamentos, podendo até ser beneficiados pela diminuição do consumo de produtos mais caros. 

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Sandra Peres, analista da Coin, acredita que as linhas branca e marrom, de eletroeletrônicos e eletrodomésticos, tendem a ser mais afetadas no setor. Ainda assim, ela diz que o crescimento do varejo continuará sustentável e forte em 2011, ainda que com margens menores por conta da elevada base de comparação com o período anterior.

O contraponto vem com o analista Renato Prado, do Banco Fator. Ele diz que a redução das perspectivas econômicas afeta sim o segmento, tanto por um aumento de custos do algodão quanto de materiais sintéticos, usados como alternativa ao aumento de preços do commodity. Ao mesmo tempo, ele destaca a importância de financiamentos e da inflação para companhias como a Lojas Marisa e Lojas Renner.

Hering é um caso à parte
A ação líder no segmento de varejo têxtil desde o início do ano traz importantes diferenciais para explicar sua performance. Prado destaca a penetração da marca entre os mais diversos estratos sociais como um das principais estratégias da companhia sobre o setor. Por isso, o analista diz que a questão do crédito passa a deter menos importância do que em relação às concorrentes. 

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O Banif prefere enfocar o sistema de franquias da companhia, capaz de permitir a abertura de inúmeras lojas sem investimentos muito grandes. Além disso, a empresa usa um modelo de lojas bem mais compactas que suas concorrentes, capazes de atingir uma boa penetração em diferentes cidades e classes sociais, com menores despesas.

Corretora Recomendação Preço-alvo Upside
Banco Fator Manter R$ 32,87 4,18%
Coin Comprar Em revisão
Raymond Jamess Marketperform Em revisão

Sandra, da Coin, aproveita para destacar que a Hering revelou sua prévia operacional do primeiro trimestre de 2011, mostrando um crescimento de 23,1% nas vendas no quesito mesmas lojas. A capacidade da companhia em manter elevados patamares de crescimento também sustentaria seu forte desempenho em bolsa, ela diz.

Marisa depende mais do crédito, mas também está em expansão
Com alta de quase 8% desde janeiro, segundo o pregão da última segunda-feira (11), as ações da Lojas Marisa não deixam de brilhar no setor. “Nós acreditamos que a Marisa ainda é a melhor varejista de vestuário para surfar na onda de consumo dos emergentes”, diz o Raymond James em relatório.

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A loja mantém um apelo mais sustentável enquanto lojas como C&A e Riachuelo buscam assinaturas de estilistas internacionais. Neste momento, um aumento de liquidez seria o principal catalisador para os papéis, diz a Raymond James.

A empresa vem de um 2010 marcado pela inauguração de 53 lojas, 14 acima de seu plano inicial, o que reforçou seu posicionamento em várias cidades brasileiras. Além disso, a companhia criou a Marisa Lingerie e renovou seu portal na internet no último ano. “A Marisa comunicou que já estão contratadas 33 novas lojas para 2011, podendo ser elevadas se as condições macroeconômicas continuarem aquecidas. Destacamos também que ao longo do ano [de 2010] as novas lojas começaram a entrar em estágio de maturação, podendo melhorar as vendas e reduzir os custos da companhia”, afirma Sandra, da Coin.

Corretora Recomendação Preço-alvo Upside
Banco Fator Manter R$ 28,83 5,99%
Coin Comprar R$ 32,00 17,64%
Raymond James Outperform R$ 33,00 21,32%

Apesar dos planos de expansão, a empresa ainda fica na dependência da disponibilidade de crédito, diz o Banco Fator. Com seus cartões e produtos financeiros, a Marisa sofreria mais com a inflação e as taxas de juros do que a Hering. “Neste caso, não é uma questão de ter uma marca forte, mas das pessoas terem renda para gastar”, diz Renato Prado.

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Altas são sustentáveis, dizem analistas
Ambas as empresas, Hering e Marisa, trouxeram resultados acima do esperado no último trimestre. Acompanhando-os, veio a continuidade dos planos de expansão. Enquanto a Marisa espera abrir mais 33 novas lojas este ano, a Hering deve inaugurar 71 lojas Hering Store, o carro-chefe da companhia, para finalizar o ano com 418 unidades. “A abertura de lojas vai gerar mais receitas, melhorar o desempenho da empresa e dar resultados e lucros, e tudo vai se refletir no cenário das ações”, diz a Coin.

Por sua vez, as duas também mostram interessantes reposicionamentos de marca. Enquanto a Marisa apostou em lojas dedicadas exclusivamente a peças íntimas, a Hering procura encontrar novos nichos de mercado com a marca Hering Kids, uma versão mais acessível da PUC, e aposta no direcionamento da marca Dzarm para atingir um público jovem das classes A e B.

“As duas empresas tiveram um desempenho forte, mas que pode ser justificado por seus resultados”, diz o Banif. Segundo o banco, ambas foram rápidas em revisar seus planos de expansão para manter o crescimento orgânico. A Coin, por sua vez, ainda aponta a competência da Hering em manter elevadas margens, enquanto a Marisa mostra uma bem sucedida gestão de custos e despesas.

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Espaço para crescer divide opiniões
Para a Raymond James, os papéis da Hering já estão em bem precificados no setor, sendo a ação com maiores chances de ter uma realização no setor. Além disso, “a Hering possui a maior exposição a preços do algodão, entre as varejistas de roupas de nosso universo de cobertura, dada sua coleção mais básica e seu modelo de negócio integrado”, afirmam os analistas Guilherme Assis e Daniela Bretthauer em relatório.

O preço da papel da Hering também já está bastante próximo do projetado pelo Banco Fator até o final de 2011, de R$ 32,87. “Não vejo muito mais o que subir, há um espacinho mínimo”, disse o analista da corretora em entrevista ao Portal InfoMoney.

Por sua vez, a Coin guarda a projeção de preço-alvo para a Hering em revisão, já que a empresa superou a abertura de lojas e as margens projetadas para o período. “Acredito que ela continuará com desempenho forte em bolsa e em seus resultados em 2011, basicamente devido ao cenário muito forte e por sua projeção de abertura de lojas. A empresa comprova que tem expertise para elevar vendas e reduzir custos e despesas”, diz a analista da corretora.

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Em relação à Marisa, a expectativa é que a empresa possa colher em breve os frutos da maturação de suas lojas. Entretanto, mesmo atrativa, a ação ainda depende de níveis mais elevados de liquidez.