China: dá para confiar em indicadores econômicos sem parâmetros e fontes claras?

Apesar da falta de pontos cruciais para credibilidade, mercado "aprendeu a aceitar" dados oficiais do governo chinês, diz analista

Marcel Teixeira

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SÃO PAULO – Os últimos indicadores econômicos revelados pela China apontam dados animadores, com um desempenho da economia do país melhor do que o esperado pelos analistas. No entanto, a metodologia “nebulosa” adotada para mensuração desses dados levantam dúvidas sobre a confiabilidade desses números para o mercado.

Apesar da abertura econômica ao capitalismo na década de 1970, que impulsionou a indústria local, a China ainda mantém muitas características socialistas já enraizadas no país, principalmente em seu sistema político, fato que fica evidenciado na falta de clareza na divulgação de dados oficiais do governo, dentre eles os indicadores econômicos, colocando em xeque sua credibilidade. “Não dá para confiar nos números deles, num sistema político opaco”, afirma o economista norte-americano Paul Krugman, vencedor do prêmio Nobel de Economia em 2008.

Para o analista econômico internacional da corretora Cruzeiro do Sul, Jason Vieira, no caso chinês faltam dois pontos cruciais para dar maior credibilidade aos indicadores do país: parâmetros e fontes de coletas desses dados. “Se pegarmos um exemplo, é bem diferente da Argentina, que possui diferentes parâmetros com outros estudos fazendo um contra-ponto com o governo”, compara o analista.

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Mercado aprendeu a aceitar
Mesmo desta forma, Viera afirma que esta maneira de divulgação já está consolidada e “o mercado já aprendeu a aceitar” os números do governo chinês. Isto porque não há como contestá-los, por não existir qualquer outra forma de acesso a estas estatísticas, a não ser pelos dados oficiais.

Algumas instituições, como o HSBC, reportam alguns indicadores econômicos do país, no entanto, o analista lembra que os dados são baseados em indicadores como de Hong Kong e Taiwan, não tendo efetivamente como comparar com a coleta de dados do governo.

O que mostram os indicadores?
No final de semana, o governo da China revelou indicadores que sugerem uma economia mais forte do que as expectativas do mercado. Segundo dados oficiais, as exportações a as importações tiveram forte desempenho em maio, com as vendas externas subindo 15,3% na comparação anual, enquanto as importações aumentaram 12,7%, bem acima dos valores esperados pelo mercado, que eram de avanços de 7,2% e 4%, respectivamente.

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Os dados sobre inflação também foram positivos. O índice de preços ao consumidor caiu de 3,4% em abril para 3% em maio, configurando seu menor crescimento desde junho de 2010. Já a inflação ao produtor chinês passou de -0,7% para -1,4% no mesmo período.

Além desses números, na última quinta-feira (7) o governo chinês já havia surpreendido o mercado ao anunciar um corte de 25 pontos-base na taxa básica de juro do país, chegando ao patamar de 6,31% ao ano. O fato denota a intenção da China em estimular o crescimento da economia em um momento de desaquecimento – a projeção do FMI (Fundo Monetário Internacional) para o PIB (Produto Interno Bruto) chinês foi reduzida para “apenas” 8% para 2012.