Cenário para a América Latina será desafiador – mas ela está mais preparada para isso

Para o Itaú BBA, o aumento nas taxas nos Estados Unidos, trazendo mais rentabilidade para os títulos que já são considerados os mais seguros do mundo, reduzirá a capacidade de financiamento das economias da região
Pesos argentinos (Foto: Bloomberg)
Pesos argentinos (Foto: Bloomberg)

Publicidade

SÃO PAULO – Diante de um quadro de desaceleração na China e de um iminente aumento dos juros básicos na economia dos Estados Unidos, o crescimento na América Latina será mais desafiador e arriscado, segundo a avaliação do Itaú BBA, braço de investimentos do Itaú Unibanco (ITUB4). 

Para o banco, o aumento nas taxas de juros nos Estados Unidos, trazendo mais rentabilidade para os títulos que já são considerados os mais seguros do mundo, reduzirá a capacidade de financiamento das economias da região. O texto assinado por Ilan Goldfajn e Felipe Salles lembra que os déficits em conta corrente dos países latinoamericanos mostram que o investimento na região é parcialmente financiado pela poupança externa, e, portanto, dependente do capital estrangeiro. 

Além disso, os preços das commodities em queda também prejudicam os investimentos na região. “Na última década, os termos de troca na América Latina melhoraram à medida que a urbanização na China impulsionou a demanda por commodities”, diz o relatório. “A região enfrentará termos de troca menos benignos adiante”. 

Continua depois da publicidade

Para sair dessa situação complicada, a receita para as economias da América Latina será investir em um aumento da produtividade. Dentro desse cenário, há três países com um ambiente institucional positivo. Nenhum deles é o Brasil, contudo. O Itaú BBA cita Chile, Colômbia e Peru como exemplos em que o ganho de produtividade é mais provável. 

No caso brasileiro, o mais importante agora é restaurar a confiança e implantar reformas para enfrentar os desafios como déficit fiscal, inflação e desequilíbrios macroeconômicos, além do excesso de burocracia e falta de infraestrutura adequada, segundo o relatório. 

Apesar de todas essas dificuldades, o banco ressalva que a América Latina está mais preparada para enfrentar esses desafios agora do que no passado, uma vez que diversos países aproveitaram os anos de bonança global para aprimorar fundamentos domésticos. Novamente, o Brasil não foi um deles. Para a instituição financeira, Chile, Colômbia, México e Peru são as nações que conseguiram reduzir a dívida pública e implantar metas de inflação com sucesso. 

Na ponta negativa, citados como exemplos de políticas monetárias e fiscais extremamente expansionistas, aliadas a um câmbio fixo, estão os suspeitos de sempre: Argentina e Venezuela. A inflação no país de Cristina Kirchner está em 38,5%, enquanto na de Nicolás Maduro, está em 66,7%. O Brasil fica no meio, com uma variação nos preços em 6,4%, não tão alta como a dos vizinhos venezuelanos nem tão baixa quanto a dos peruanos, atualmente em 3,2%.