CCR e Ecorodovias subiram demais? Analistas convergem para Rumo à espera de mais investimentos em infraestrutura no Brasil

Enquanto BBI segue positivo com as ações das concessionárias, Morgan reduziu a recomendação para os ativos - mas ambos seguem otimistas com os ativos RAIL3

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Com alta expressiva no início da semana, mas encerrando a semana em queda, as ações das concessionárias Ecorodovias (ECOR3) e CCR (CCRO3) registram volatilidade no período, também refletindo as diferentes visões dos agentes do mercado sobre o setor de infraestrutura e como os papéis do setor podem se beneficiar.

Enquanto o Bradesco BBI reforçou a sua visão positiva com as ações em meio às oportunidades com concessões no Brasil e destacou outros vencedores do setor. Já o americano Morgan Stanley foi mais seletivo e reduziu a recomendação para os ativos ECOR3 e CCRO3 de overweight (exposição acima da média do mercado) para equal-weight (exposição em linha com a média do mercado), elegendo outra ação como preferida, que também está no radar dos analistas do banco brasileiro: a Rumo ( (RAIL3).

Para Victor Mizusaki e Gabriel Rezende, do BBI, no geral, o atual cenário de baixo custo de capital associado à capacidade das empresas alocarem recursos com bons retornos deve estimular o desempenho do setor.

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As rodovias com pedágio e ferrovias são os setores mais aquecidos, demandando R$ 240 bilhões em investimentos.

Através de um mapeamento de 26 concessões rodoviárias e ferroviárias no Brasil para serem leiloadas nos próximos meses, os analistas avaliam que os leilões exigirão R$ 127 bilhões em investimentos, com outros R$ 50 bilhões a serem desbloqueados por meio de alterações de contrato em troca de contrato extensões e / ou renovações. “Ecorodovias, CCR e Rumo estão bem posicionadas para beneficiar deste novo ciclo de investimentos”, avaliam.

Os analistas apontam que a Rumo está comprometida com a implantação de R$ 6 bilhões de investimentos na Malha Paulista para aumentar sua capacidade de 30 milhões para 75 milhões de toneladas, com uma Taxa Interna (TIR) desalavancada de 11% (em Reais).

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Enquanto isso, Ecorodovias e CCR terão várias oportunidades para expandir seus portfólios e também estender contratos com reequilíbrios econômicos no estado de São Paulo.

O banco reforça que o pipeline de projetos ferroviários está crescendo. A Ferroeste foi incluída recentemente na lista de projetos de infraestrutura estruturados pelo Programa de Parceria de Investimento (PPI), sendo que estudos preliminares do Governo do Estado do Paraná sugerem R $ 10 bilhões em investimentos para estender essa ferrovia ao estado de Mato Grosso do Sul e conectar a ferrovia com o porto de Paranaguá.

Além disso, após um período em que a indústria de equipamentos ferroviários enfrentou atrasos na renovação e no leilão de concessões ferroviárias, o cenário está mudando, afirmam os analistas. A Rumo poderia comprar 3.795 vagões e 113 locomotivas para a Malha Central, que começar a operar em 2021, enquanto a FIOL poderia exigir 2.864 vagões e 53 locomotivas, e Ferrogrão, outros 7.524 vagões e 239 locomotivas.

A Randon (RAPT4), nesse cenário, seria a mais beneficiada, mas a a Iochpe-Maxion (MYPK3) também poderia colher frutos através da sua participação minoritária (de 19,5%) na empresa de equipamentos e serviços ferroviários Greenbrier Maxion.

Com isso, os analistas possuem recomendação de compra para as ações de CCR, Ecorodovias, Rumo, Santos Brasil (STBP3) e Randon, com recomendação neutra apenas para Iochpe-Maxion. Os preços-alvos respectivos são de R$ 17, R$ 19, R$ 30, R$ 8, R$ 13 e R$ 15.

Vale ressaltar que o Bradesco BBI reduziu o custo de capital estimado dessas companhias e elevou os preços-alvo em 20% na média. “A Ecorodovias, Rumo e Randon são os nomes preferidos no setor”, apontam.

Mais seletivos, com preferência pela Rumo

O Morgan Stanley, por sua vez, reduziu a recomendação para as ações da CCR e Ecorodovias para equivalente à neutra, levando em conta que a maior parte do potencial de alta com o reequilíbrio de contratos já está no preço dessas ações.

Ainda assim, o preço-alvo de ambas as empresas foi elevado. O da CCR passou de R$ 14,70 para R$ 16,30 e o da Ecorodovias, de R$ 13,40 para R$ 15,30.

“Nós não acreditamos que a Ecorodovias terá espaço em seu balanço para assumir novos projetos importantes a médio prazo (a menos que aumente o patrimônio)”, avaliaram, em relatório, os analistas do Morgan.

No caso da CCR, os analistas apontam que o preço-alvo continua a creditar a empresa pela grande
oportunidade de ganhar novas concessões nos próximos anos. “Com uma premissa de alavancagem máxima de 3,5 vezes, incorporamos R$ 24 bilhões em novos projetos no nosso caso-base a taxas de retorno atrativas (TIR de 9% reais, desalavancadas) considerando uma expectativa de concorrência relativamente baixa para os ativos nos próximos anos. No entanto, acreditamos que o mercado já está precificando a maior parte dessas avaliações”, avaliam.

Eles ressaltam que, desde abril até o fechamento dos ativos na última quarta-feira, os papéis ECOR3 subiram 52% e os ativos CCRO3 tiveram alta de 28%; os papéis também precificam a recuperação do tráfego das rodovias administradas pelas companhias, após um período de forte queda por conta da pandemia de coronavírus. Contudo, a estimativa dos analistas é de uma queda de 10% no tráfego orgânico como um todo em 2020, com uma recuperação de 6% em 2021, ainda insuficiente para que chegue aos patamares de 2019.

Nesta semana, a Ecorodovias teve uma boa notícia, uma vez que a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) reconheceu a ocorrência do desequilíbrio econômico-financeiro referente ao contrato de concessão firmado com a Ecovias em 1998, em função do recálculo dos valores de depreciação dos investimentos da concessionária. O valor a ser reequilibrado em favor da Ecovias foi de cerca de R$ 1,605 bilhão.

O valor foi superior às expectativas do mercado e, na visão do Morgan, também foi claramente positivo para a CCR, sugerindo que ela também poderia ter um reconhecimento de reequilíbrio relacionado a depreciação a curto e médio prazo, além de indicar acordos que poderiam vir, em um cenário em que o governo tem a intenção de estimular investimentos no segmento. Contudo, dada a alta recente das ações, a avaliação é de maior cautela com os ativos.

Já a Rumo segue sendo a empresa preferida do setor para o banco americano, com recomendação sendo mantida em “overweight”, coincidindo com uma das preferências do setor do Bradesco BBI.

Os analistas do Morgan destacam que ela é uma empresa com uma taxa de retorno mais atrativa na comparação com os pares, com perspectivas favoráveis ​​para o próximo 18 meses em um cenário de mercado forte de exportação de grãos.

O maior otimismo é reforçado pela expectativa positiva de crescimento do lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) para os próximos 4 anos, menor dependência de um cenário de recuperação da economia brasileira e o fato da companhia contar com projetos adicionais que poderiam agregar valor nos próximos anos (Rede Central, extensão de Malha Norte até Lucas do Rio Verde, esta última parceria com a Ferroeste).

Em live recente realizada pela XP Investimentos, Sara Delfim, gestora e sócia da Dahlia Capital, explicou também a sua preferência por Rumo a despeito das duas concessionárias da bolsa – CCR e Ecorodovias -, também destacando a taxa interna de retorno maior dos projetos da companhia.

“A malha ferroviária tem muita oportunidade de expansão no Brasil: países como Índia e Argentina, que possuem um terço do tamanho do Brasil, têm uma malha ferroviária maior ou igual à nossa. Sem dizer que ele se beneficia diretamente do crescimento agro no Brasil: temos 150 milhões de hectares aráveis para produção, porém utilizamos apenas 60 milhões”, afirmou.

A maior preferência por Rumo também pode ser observada ao olhar as recomendações compiladas das casas de análise. De acordo com levantamento feito pela Bloomberg, de 19 casas que possuem recomendação para Ecorodovias, 13 são de compra, 7 são de manutenção, enquanto somente 1 recomenda venda. Já no caso da CCR, de 20 casas, 11 recomendam compra, 7 manutenção e 2 venda. Para a Rumo, por sua vez, há 16 recomendações: 14 são de compra e 2 são de manutenção, sendo que nenhuma casa recomenda a venda dos ativos.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.