Caso Oi: possível grupamento é suficiente para “resgatar” o valor das ações?

Fundamentos das empresas que fazem a operação, geralmente deteriorados, continuam os mesmos — por isso a tendência é de continuidade da queda dos papéis

Anderson Figo

(Foto: Reprodução)

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SÃO PAULO — Pela primeira vez desde que entrou em recuperação judicial, em junho de 2016, as ações da Oi (OIBR3) completaram em novembro 30 pregões consecutivos abaixo de R$ 1.

A empresa ainda não se pronunciou, mas é possível que anuncie em breve um grupamento para aumentar o valor dos papéis.

O grupamento de ações é um evento no qual ocorre uma condensação do capital em um número menor de ações com consequente aumento do valor patrimonial da ação.

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A operação também é chamada de “inplit” e é feita principalmente para ajustar o valor nominal da ação. A empresa diminui o número de ações disponíveis no mercado sem reduzir seu capital.

Por exemplo, um grupamento na proporção quatro para um significa que cada quatro ações da companhia passarão a ser um só papel. Ou seja, se antes eles custavam R$ 0,50 cada um, agora passarão a custar R$ 2.

Assim, se essa mesma empresa tinha 10 milhões de ações que valiam R$ 0,50 cada uma antes do grupamento, depois da operação ela vai passar a ter 2,5 milhões de ações que valem R$ 2.

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O seu valor de mercado (total de ações vezes o preço do papel) vai continuar sendo o mesmo — nesse caso, de R$ 5 milhões (2 x 2.500.000 ou 0,50 x 10.000.000).

Pela regra da B3, quando uma empresa completa 30 pregões com seu papel valendo menos de R$ 1, como é o caso da Oi, a companhia tem um prazo de 15 dias para apresentar um plano de recuperação do preço do papel.

“Para o investidor, não há prejuízo algum com o grupamento: ele vai ter menos ações, mas que valem a mesma coisa como um todo”, diz Igor Cruvinel, sócio responsável pela área de assessoria de investimentos da Doc Concierge.

Já pela ótica da empresa, “um grupamento ajuda a reduzir a volatilidade dos papéis, o que é ótimo”, afirma Luiz Guilherme Dias, CEO da Sabe Invest.

Uma ação que custa R$ 0,50, por exemplo, e registra alta de R$ 0,25 no pregão (ou seja, termina o dia valendo R$ 0,75), na prática, apresenta uma oscilação diária de 50%. Se o papel custasse R$ 50,00 e ganhasse os mesmos R$ 0,25 no dia, a variação seria de 0,50%.

Um grupamento também pode ajudar a “mascarar” o preço real dos papéis. “Quando uma ação é negociada a um valor mais alto do que meros centavos, isso dá uma percepção de que ela vale mais. Facilita as negociações, traz mais valor agregado ao papel”, diz Karina Garbes, economista do app Renda Fixa.

Mas é apenas uma impressão: embora o preço da ação esteja maior do que antes, os fundamentos da empresa que são levados em conta na precificação do papel continuam os mesmos do que quando ele valia centavos.

E geralmente as chamadas “penny stocks” (empresas cujas ações valem menos do que R$ 1) pertencem a companhias que estão enfrentando dificuldades financeiras e operacionais, ou estão em recuperação judicial, como a própria Oi.

Não à toa, na maior parte das vezes, uma ação que sofreu grupamento perde valor nos pregões seguintes à operação. Apenas o grupamento não basta para “resgatar”, de fato, o valor dos papéis.

No caso da Oi, analistas ouvidos pelo InfoMoney destacaram a situação financeira e operacional difícil da companhia, mas há alguns cenários possíveis que podem devolver ao papel um preço justo mais elevado no futuro.

“Em nossa opinião, apenas uma combinação de execução impecável de seu plano de fibra, melhoria regulatória e a venda de seus negócios móveis e ativos em Angola poderia ajudar a Oi”, diz André Baggio, do JP Morgan.

Segundo o analista, a Oi está enfrentando forte deterioração nas receitas e no ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Dado o subinvestimento em sua rede na última década, a Oi continua perdendo participação em telefonia móvel, bem como em banda larga e telefonia fixa para pequenas operadoras.

Uma possível venda dos negócios de telefonia móvel da Oi até poderia gerar algum benefício para a empresa, mas isso sozinho não a “salvaria”. Nesta semana, a Vivo, através de sua controlada Telefônica, afirmou que estuda adquirir os negócios de telefonia móvel da Oi. A TIM já tinha afirmado no passado que também avaliava o negócio.

“A venda do negócio de telefonia móvel da Oi pode gerar de R$ 7 bilhões a R$ 13 bilhões à companhia, assumindo que um comprador esteja disposto a pagar 4-6x seu ebitda, um prêmio de 0-50% sobre a TIM, pois o potencial comprador deve estar disposto a elevar a margem de ganho potencial dos níveis da Oi (24%) aos níveis da indústria (cerca de 39%)”, afirma Baggio.

O JP Morgan, no entanto, segue com recomendação underweight para a Oi, de desempenho abaixo da média do mercado. E, no setor, Baggio prefere a TIM.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.