Caso Bear Stearns: um ano do susto, um ano de bolsas contaminadas pela crise

A impressionante história do gigante de 85 anos que pontuou ao mundo a chegada da crise e aplicou seleção natural à bolsa

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SÃO PAULO – Há um ano, a bolsa levou um grande susto. Grande pois prenunciou tudo o que estaria por vir. Foi o primeiro sinal concreto da crise e de que a crise seria devastadora. No alto de seus 85 anos, o banco Bear Stearns caiu de joelhos. Por ser um dos mais agressivos, por estar exposto demais à então novidade do subprime, por má administração. Seja o que for, custou caro ao mercado.

A instituição fundada por Joseph Bear e Robert Stearns em 1923 e listada na Bolsa de Nova York desde 1985 estava a um passo da falência. Quando o mercado ainda previa o que o tal subprime poderia acarretar, Alan Schwartz, CEO do grupo, afirmou: “nossa liquidez se deteriorou significativamente nas últimas 24 horas”. Depois disto, todo mundo está cansado de saber o que aconteceu; ou melhor, o que vem acontecendo faz um ano.

Impressionante

Citando apenas esta frase, não dá para ter uma imagem do quanto impressionante foi. O quarto maior banco dos Estados Unidos na época possuía valor de mercado, já devastado, de US$ 3,5 bilhões. À beira da falência, o banco havia sido vendido para o rival JPMorgan pela bagatela de US$ 2 por ação. O mundo parecia que ia desabar pela manhã, na abertura dos mercados. Todo mundo sentiu, até as commodities sofreram realização.

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Longe destes US$ 3,5 bilhões, a oferta avaliava o banco em US$ 236 milhões. Após os acionistas esbravejarem, o JP Morgan elevou sua oferta para US$ 10 por ação, dias depois. Mais que liquidação, era preço de subprime. Quem não se surpreende é porque já está acostumado com coisas do tipo. Acostumado, em parte, pelo próprio Bear Stearns.

O primeiro passo de muitos

No final das contas, o banco teve há um ano atrás seu rating empurrado três degraus para baixo pela S&P em um só corte, e a agência ainda deixou possibilidade de novos cortes em aberto. O JP Morgan acabou comprando a instituição; claro que com ajuda do governo.

O Federal Reserve fez uma contribuição de US$ 30 bilhões para financiar os ativos do banco que não tinham liquidez suficiente. Foi um passo importante. O primeiro de muitos do governo norte-americano.

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Traumático, mas nem tanto

O caso foi menos traumático pois contou com o JP Morgan na história. Outros não foram tão traumáticos porque contaram com o Fed – lembrando de Freddie Mac e Fannie Mae, entre outras. Traumáticas todas foram, mas o Lehman Brothers foi mais.

Não foi exatamente a um ano atrás que o Lehman sucumbiu. Mas quando o problema do Bear Stearns apareceu, o mercado apontou quase que consensualmente o Lehman como próximo alvo da crise já no dia. Este veio a ruir sozinho, em manobra do governo até hoje questionada pelo mercado.

Quebrou com a máxima?

A entrada do JP na história traz viés negativo. Lembra uma frase característica dos processos de fusão ou aquisição entre bancos nos Estados Unidos. A parte ruim na maior parte das vezes acaba contaminando a melhor. Até o momento, a união JP/ Bear Stearns dá argumento para se criticar este ponto de vista.

De fato, o JP vai muito bem; claro que comparado à situação bem pior de seus co-irmãos setoriais. Dos grandes bancos norte-americanos, foi um dos que menos perdeu valor de mercado com a crise, mesmo digerindo o Bear Stearns.

Ficou uma dúvida…

Ainda não dá para afirmar se a aquisição provocará ou não uma piora significativa em suas condições, mas lembrando que um ano inteiro já passou. Muitos analistas afirmam que se o pior tivesse que acontecer, já teria acontecido. O JP teve lucro em 2008 quando ninguém teve. Algumas áreas, como a de hedge funding da instituição, mostram claro upgrade com a incorporação.

Ainda assim, fica uma pergunta em aberto: como o JP irá pagar os US$ 25 bilhões de TARP (Troubled Asset Relief Program) que utilizou do governo?

Seleção natural

Quando os mercados estavam mal acostumados por ganhos exorbitantes e viam em Wall Street algo intangível, o caso do Bear Stearns lhe deu uma ótima dose de sobriedade.

Deu pontapé inicial na devastação das bolsas, foi caso típico de seleção natural aplicada à realidade dos mercados. Mostrou que os que não conseguem se adequar à nova conjuntura de aversão ao risco acabam sucumbindo aos ligeiramente mais aptos; no caso, JP Morgan Chase.