Casas Bahia (BHIA3) e Magalu (MGLU3) “saltam” em novembro e dão alívio a acionistas, mas resultados vão corresponder ao ânimo?

Apesar do forte avanço no mês com alívio nos juros, papéis ainda acumulam forte queda em 2023; expectativa é por resultados pouco animadores

Lara Rizério

(Shutterstock)

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Após estarem entre as maiores baixas no mês passado, as ações de Casas Bahia (BHIA3), assim como de Magazine Luiza (MGLU3), registram forte alta no mês de novembro em meio a uma combinação de alívio da curva de juros (impulsionando os papéis das empresas de setores domésticos) e valuation bastante deprimidos das duas companhias.

Até o fechamento da véspera, em apenas quatro pregões de novembro, as ações de MGLU3 subiam 33% e de BHIA3 saltavam 27%. Os ganhos continuam nesta quarta-feira (8), com os papéis chegando a saltar mais de 10%, para depois diminuírem o ímpeto.

Contudo, cabe ressaltar que, até ontem, no ano, Casas Bahia ainda era a maior baixa do Ibovespa, com queda de 76%, enquanto Magazine Luiza tinha desvalorização de 35%. Em doze meses, Magalu tinha queda de 61% e BHIA3 registrava baixa de 80%, sendo que esta negocia abaixo de R$ 1, o que a levou a propor um grupamento de ações no fim de outubro. 

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Ou seja, tomando como base o fechamento de ontem, de R$ 0,57 por ação BHIA3, o papel ainda precisaria subir 321% para chegar à cotação de R$ 2,40 do fim de 2022 (quando ainda negociava com o ticker VIIA3). Já para MGLU3, que fechou ontem a R$ 1,77, o avanço deveria ser de 55% para atingir os R$ 2,74 do último pregão do ano passado, que já tinha sido de baixa para ambos os ativos.

O que esperar para os balanços?

É neste contexto que o Grupo Casas Bahia divulga seus resultados nesta quarta-feira e Magalu revela seus dados na próxima segunda (13), ambos após o fechamento dos mercados.

As perspectivas para os balanços das companhias não são positivas, principalmente para Casas Bahia, que passa por um momento de reestruturação.

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Na visão do Bradesco BBI, para o e-commerce especificamente, os players locais ainda estão pressionados desde a receita bruta até o lucro líquido. “Os tempos continuam difíceis para bens duráveis e, portanto, esperamos que as tendências gerais de vendas do 1S23 persistam no 3T23”, pontuou.

Para o Grupo Casas Bahia, o BBI acredita que os resultados estejam entre os mais pressionados, sendo este o primeiro trimestre efetivo sob a nova gestão e com uma grande reestruturação em andamento.

Assim, o banco aponta que estará de olho na rapidez e eficácia com que o plano de transformação se materializou, sendo os KPIs (indicadores chaves de desempenho) principais o nível de estoque (planejamento de R$ 1 bilhão a ser vendido entre o 3T e o 4T) e o momento de normalização da rentabilidade. O nível de geração/queima de caixa nos próximos trimestres também é fundamental.

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A Genial Investimentos ressalta ainda que, respeitando as devidas proporcionalidades sazonais, o filme do 3º trimestre de 2023 é muito parecido com o do 2º trimestre. O elevado nível de inadimplência das famílias combinado ao alto nível de taxa de juro e ao menor apetite de concessão de crédito pelas financeiras devem culminar em uma desaceleração do consumo discricionário no período, aponta.

A casa de análise cita os dados da Neotrust, que sinalizam que o faturamento do e-commerce brasileiro caiu 7,0% no 3º trimestre de 2023, em relação ao mesmo período de 2022. “Cruzando essas informações junto a Pesquisa Mensal de Comércio (IBGE), entendemos que a categoria de Móveis continue a ser uma das principais detratoras de crescimento de vendas para empresas como Casas Bahia e Magazine Luiza”, aponta.

A Genial espera que o Grupo Casas Bahia deva apresentar um prejuízo de R$ 689 milhões, impactado pela forte retração de rentabilidade devido ao saldão de estoques. A casa tem recomendação de manutenção para os ativos, com preço-alvo em doze meses para R$ 0,60.

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“O Grupo Casas Bahia deve apresentar outro conjunto de resultados afetados, com dinâmicas fracas de valor bruto de mercadoria (GMV, na sigla em inglês) e rentabilidade impactada”, fala a XP.

A empresa, em meio ao seu processo de reestruturação, anunciou o fechamento de lojas físicas e a descontinuidade de categorias, duas questões que devem impactar negativamente o faturamento, já que com menos pontos e menos produtos, haverá menos vendas. Além disso, as margens também devem ser afetadas, por causa de promoções.

“Quanto à rentabilidade, a margem bruta deve ser o ponto baixo do trimestre, caindo 450 pontos-base ano após ano, para 26,2%, afetada pela estratégia do Grupo Casas Bahia de reduzir agressivamente os níveis de inventário, levando a margem Ebitda [Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês, sobre receita] a cair 290 pontos-base ano após ano, para 2,7%”, menciona.

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Para o Magazine Luiza, as perspectivas são de que o GMV irá crescer, apesar do cenário macro, aponta a XP.

“Esperamos que a Magazine Luiza apresente resultados mistos no trimestre em questão, com um desempenho fraco na receita, mas margens ligeiramente melhores. O GMV total deve aumentar 4% na base anual principalmente apoiado pelo desempenho do marketplace (3P), enquanto o e-commerce (1P) e as lojas físicas devem permanecer afetados (com queda de 6% e estável ano após ano, respectivamente)”, explica a equipe de análise da casa.

Para o Magalu, o BBI espera uma melhora sequencial modesta no lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) e no prejuízo, mas ainda deve ser a empresa altamente pressionada ao longo dos números do demonstrativo de resultados.

O que esperar para os papéis?

Enquanto os ativos registram uma recuperação no mês (expressiva também levando em conta o baixo valor de face dos ativos), analistas ainda se mostram reticentes sobre o que esperar das empresas.

Em nota na última segunda, a Nord Research apontou o que esperar para as duas companhias, que registraram forte queda (de mais de 90%) nos últimos dois anos com a alta de juros no Brasil. A Selic começou a subir em março de 2021, saindo de 2% para 13,75% em agosto de 2022, com o início do corte de juros só ocorrendo em agosto deste ano. Isso gerou um forte impacto na demanda e também nas despesas financeiras das empresas.

Para Victor Bueno, analista da Nord, no caso de Casas Bahia, as quedas das ações são apenas um reflexo do que já vem acontecendo há mais de três anos, com suas cotações acompanhando de perto a degradação de seus resultados.

Com os planos anunciados e a mudança de nome (antes Via), o objetivo da companhia é claro: focar em seu core business e se tornar um player especialista em seu segmento (eletrodomésticos, móveis etc.).

“Quem sabe, assim, ela poderá enxergar um futuro mais promissor para seus resultados e ações adiante. Contudo, ainda é cedo para afirmar que o Grupo Casas Bahia conseguirá, de fato, implementar todas essas mudanças e obter êxito em seu plano de transformação”, avalia.

Já para o Magalu, apesar de pressões macroeconômicas, a companhia segue entregando crescimento (mesmo que leve) em suas vendas no 2T23, que é fruto de um grande e resiliente ecossistema que vem sendo montado e pelas vendas em seus canais digitais, que também compensaram o menor desempenho de suas lojas físicas.

Ainda assim, as maiores despesas operacionais pressionaram o Ebitda do Magalu, que caiu 38% no 2T23, enquanto o cenário de juros elevou suas despesas financeiras, acarretando mais um forte prejuízo de quase R$ 200 milhões no período — um trimestre após apresentar o maior prejuízo de sua história.

A queda persistente em sua rentabilidade segue trazendo impactos para as ações da varejista, que segue (muito) longe das máximas atingidas em 2021, quando o papel era negociado a R$ 25, aponta.

Desta forma, recomenda cautela sobre ambos os papéis, o que corrobora com a visão geral dos analistas de mercado. De acordo com compilação LSEG, de 13 casas que cobrem MGLU3, nove recomendam manutenção, uma venda e três compra. Para BHIA3, nenhuma recomendação de compra: de 12 que cobrem o ativo, 8 recomendam manutenção e 4 possuem recomendação de venda.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.