Carrefour enfrenta onda de protestos pelo Brasil; executivos se pronunciam, pedem desculpas e prometem medidas

Brasil contou com série de protestos após João Alberto Silveira Freitas ser espancado e morto em uma das lojas do supermercado

Equipe InfoMoney

Protestos - Carrefour (Guilherme Gonçalves/FotosPublicas)

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Durante o fim de semana, o Brasil contou com uma série de protestos contra o racismo após o soldador João Alberto Silveira Freitas, negro de 40 anos, ser espancado e morto em uma das lojas do supermercado Carrefour (CRFB3) em Porto Alegre (RS) na última quinta-feira (19). Ele foi enterrado neste sábado.

Na avenida Paulista, em São Paulo, um grupo de artistas pintou durante a noite da última sexta-feira a frase ‘Vidas Pretas Importam’ em frente ao Masp. De acordo com um dos artistas, identificado como Pagu, a pintura teve apoio da secretaria municipal de Cultural, da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e da polícia. Na sexta-feira, uma unidade da rede de supermercados na Rua Pamplona foi depredada e queimada. Também ocorreram protestos em Belo Horizonte.

No mesmo dia, uma unidade da rede de supermercados Carrefour na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio fechou após protesto dos manifestantes; os protestos se estenderam durante o fim de semana.

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No domingo, ocorreu um protesto pacífico que teve início às 14h em frente ao supermercado Carrefour do Norte Shopping, também na Zona Norte do Rio, saiu pelos corredores do centro comercial e seguiu pela Rua Dom Hélder Câmara, uma das principais da região, por volta de 17h.

O caso fez com que Noel Prioux, presidente do Carrefour no Brasil, publicasse um vídeo com pedido desculpas, apontando que o caso foi “uma tragédia de dimensões incalculáveis”.

“O que aconteceu na loja do Carrefour foi uma tragédia de dimensões incalculáveis, cuja extensão está além da minha compreensão como homem branco e privilegiado que sou. Então, antes de tudo, meus sentimentos à família de João Alberto e meu pedido de desculpas aos nossos clientes, à sociedade e aos nossos colaboradores”, destacou.

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O vídeo também contou com a participação de João Senise, vice-presidente de recursos humanos do Carrefour Brasil, afirmando que o ocorrido com João Alberto não tem a ver com os valores da empresa.

“Cinquenta e sete por cento dos nossos colaboradores são negros e negras, e mais de um terço dos gestores se autodeclaram pretos ou pardos. Mas estamos conscientes que precisamos de mais ações concretas e efetivas para o fortalecimento da nossa cultura de diversidade”, disse Senise.

Alexandre Bompard, presidente global do grupo, também se manifestou e disse que vai pedir a revisão de treinamento de funcionários e terceiros “no que diz respeito à segurança, respeito à diversidade e dos valores de respeito e repúdio à intolerância”.

Ele comunicou que esta revisão será acompanhada de um plano de ação definido por empresas externas para garantir independência no trabalho.

No sábado, no Brasil, o Carrefour divulgou uma nota afirmando que o dia 20 de novembro foi “o mais triste da história” da empresa e anunciando que, todo o resultado das vendas do último dia 20 das lojas Carrefour Hipermercados, será doado para entidades ligadas à luta pela consciência negra.

Abílio Diniz, terceiro maior acionista do Carrefour Global e integrante do conselho de administração da empresa na França, também se manifestou sobre a morte de Freitas, apontando que está “profundamente triste e indignado” e que o que ocorreu “foi uma enorme brutalidade”.

Na sexta-feira, o MPF (Ministério Público Federal) defendeu, por meio de nota, que o Carrefour adote medidas de compliance em toda a rede para combate ao racismo, e que a família de João Alberto Freitas seja indenizada.

Declaração de Bolsonaro

Ainda que não tratando diretamente sobre o tema, em discurso divulgado durante o fim de semana na cúpula do G20, grupo que reúne as 20 maiores economias mundiais, o presidente Jair Bolsonaro disse que “há tentativas de importar” para o Brasil “tensões” raciais que são “alheias à nossa história”.

“Quero fazer uma rápida defesa do caráter nacional brasileiro em face das tentativas de importar para o nosso território tensões alheias à nossa história”, disse Bolsonaro.

Segundo o presidente, “o Brasil tem uma cultura diversa, única entre as nações. Somos um povo miscigenado. Brancos, negros e índios edificaram o corpo e o espírito de um povo rico e maravilhoso. Em uma única família brasileira podemos contemplar uma diversidade maior do que países inteiros”. Para ele, a miscigenação “foi a essência” do brasileiro que “conquistou a simpatia do mundo”. No entanto, “há quem queira destruí-la, e colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre raças, sempre mascarados de ‘luta por igualdade’ ou ‘justiça social”.

Bolsonaro ressaltou que “tudo” isso tem sido realizado “em busca de poder” e admitiu que os brasileiros não são perfeitos e tem problemas, mas disse que “existem diversos interesses para que se criem tensões entre nós”. “Um povo unido é um povo soberano. Dividido é vulnerável. E um povo vulnerável pode ser mais facilmente controlado e subjugado. Nossa liberdade é inegociável”, disse o presidente, enfatizando que, “como homem e como presidente”, enxerga a “todos com as mesmas cores: verde e amarelo!”.

“Não existe uma cor de pele melhor do que as outras. O que existem são homens bons e homens maus; e são as nossas escolhas e valores que determinarão qual dos dois nós seremos. Aqueles que instigam o povo à discórdia, fabricando e promovendo conflitos, atentam não somente contra a nação, mas contra nossa própria história”, acrescentou. O discurso de Bolsonaro não foi transmitido pelo site oficial do G20, mas foi divulgado pelo Palácio do Planalto.

ESG e desempenho da ação do Carrefour

Na última sexta-feira, apesar dos protestos e da repercussão do caso, enquanto o Ibovespa caiu 0,59%, as ações do Carrefour fecharam em alta de 0,49% na B3, levando a questionamentos sobre se os investidores estão realmente preocupados com a maneira como as empresas agem, ou se apenas os resultados importam.

“ESG, no Brasil? Conta outra”, afirmou Fábio Alperowitch, fundador da gestora Fama Investimentos, em sua conta no Twitter. Recentemente, houve um aumento de interesse por investimentos que seguem os critérios ESG (ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês).

“ESG está presente nos materiais de apresentação e para por aí”, completou o gestor (leia o artigo publicado na sexta-feira).

De acordo com uma analista ouvida pelo InfoMoney, analistas e investidores vão monitorar a maneira como o Carrefour atuará a partir de agora e como conduzirá o caso – e também a reação da sociedade.

“Se houver uma reação mais organizada da sociedade, levando a um boicote da marca, o efeito nas operações e, consequentemente, nas ações, deve ser maior”, avalia. Veja mais clicando aqui. 

Não é a primeira vez que o Carrefour se envolve em episódios trágicos. Em agosto deste ano, um homem morreu enquanto trabalhava em uma loja do mercado em Recife (PE), tendo o seu corpo escondido por guarda-sóis para que o Carrefour não fechasse.

Depois do ocorrido, em nota, a rede de supermercados se desculpou e afirmou ter “mudado as orientações aos colaboradores para situações raras como essa — incluindo a obrigatoriedade do fechamento da loja”.

Em 2018, um cachorro foi morto por um segurança da empresa de uma unidade de Osasco, no interior de São Paulo. Em março de 2019, a rede de supermercados teve que pagar R$ 1 milhão como indenização pelo caso, conforme estabelecido pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP).

(Com Ansa Brasil)