Carrefour (CRFB3) salta 11% após balanço e anúncio de fechamento de mais de 120 lojas

Executivos, apesar de verem fechamentos como "difíceis" e queda de vendas, defendem impactos positivos na lucratividade

Lara Rizério Vitor Azevedo

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As ações do Carrefour Brasil (CRFB3) registram uma forte sessão de ganhos após a divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2023 (4T23), na noite da véspera, que contou também com o anúncio de 123 lojas fechadas entre as marcas Nacional, Bom Preço e Carrefour. Na sessão desta terça-feira (20), os papéis subiram 11,16%, a R$ 12,05, sendo que mais cedo chegaram a entrar em leilão.

O grupo varejista e de atacarejo apresentou lucro líquido ajustado (desconsiderando outras receitas e despesas e o correspondente efeito financeiro e tributário) de R$ 520 milhões no quarto trimestre de 2023, uma queda de 5,4% em relação ao mesmo período de 2022.

Sem o ajuste, a companhia registrou prejuízo líquido consolidado de R$ 565 milhões, frente a um montante positivo de R$ 426 milhões um ano antes, afetados em grande parte por despesas e uma baixa contábil envolvendo o fechamento de mais de 100 lojas entre dezembro e o início deste ano, já que a administração avaliou que a performance dos pontos estava abaixo das expectativas.

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Apesar do prejuízo consolidado, os analistas de mercado destacaram que a empresa iniciou 2024 “de casa limpa”, com algumas tendências positivas. “A despeito de um impacto não-recorrente substancial, avaliamos que o conjunto consolidado pelo grupo foi positivo, o que vai confirmando a nossa perspectiva de que o 3º trimestre de fato tenha sido o ponto de inflexão para a rentabilidade da companhia”, avalia a Genial Investimentos.

A casa de análise aponta que o principal impacto no resultado do Carrefour foi consolidado na linha de “Outras Despesas Operacionais”, em um montante negativo em R$ 1,1 bilhão, majoritariamente ligado ao fechamento de unidades. A cifra poder assustar à primeira vista, mas a Genial entende que a iniciativa é benéfica para companhia no médio prazo, uma vez que o Carrefour está direcionando o seu foco para recompor a rentabilidade ao longo de 2024.

Das 123 lojas, apenas 11 foram fechadas ao longo do 4º trimestre. Contudo, o montante de despesas já reflete a previsão de encerramento dessas unidades ao longo do 1º semestre de 2024. “Ou seja, o Carrefour limpou o seu P&L para receber 2024 de ‘casa arrumada’”, aponta.

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Durante a teleconferência de resultados realizada nesta terça, os executivos do grupo falaram sobre o fechamento. “Fechar loja nunca é um tema fácil, mas temos certeza que a decisão é assertiva e que a iniciativa será lucrativa para a companhia”, defendeu Stéphane Maquaire, CEO do Carrefour, que lembrou também que as unidades encerradas foram responsáveis por menos de 1% das vendas do grupo em 2023.

Além disso, eles também mencionaram que todas as provisões para os fechamentos também já foram realizadas e a tempestade, nas palavras do CFO Eric Alencar, “já passou para os efeitos caixa”. Do outro lado, mencionaram que as vendas do grupo, com os encerramentos, não devem voltar aos antigos patamares.

“O que pode vir são ações que não temos conhecimento, mas que geralmente são coisa pequena, ou diferença de preço dos terrenos que vamos vender”, diz o executivo. “Há também aquilo que achamos que vale os terrenos e o eles realmente valem. Mas com certeza eles valem mais de R$ 400 milhões e os ganhos com as vendas desses ativos devem mais do que cobrir os custos dos fechamentos”.

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Inflação baixa impacta vendas do Carrefour

Para a XP, o Carrefour Brasil reportou resultados mistos, com a deflação alimentar e fechamento de lojas pressionando a performance de receita e do lucro, mas melhorando a rentabilidade no seu negócio principal. A deflação, combinada com com o fechamento de lojas, levaram  o varejo a novamente ser o destaque negativo (vendas mesmas lojas em -6%). Quanto ao atacarejo, as vendas mesmas lojas permaneceram em patamares negativos (em -2%), mas melhorando sequencialmente (+0,9 ponto percentual), pontuam os analistas.

Maquaire e Alencar mencionaram que a melhora sequencial ainda se estendeu para o começo de 2024, com as vendas em janeiro superando as de dezembro. “Para o ano, com inflação alimentar e de custos andando uma do lado da outra, temos cenários mais positivos”, falou o CFO.

A margem bruta do Carrefour contraiu 1,5 ponto percentual (p.p.) ante o 4T22, principalmente impactada pelo varejo (-4 p.p.) por conta da maior atividade promocional, remarcação de estoque e fim da parceria com o Hipercard, mais que compensando a performance do atacarejo (+0,9 p.p), beneficiada por melhores negociações comerciais e participação do B2C.

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A margem Ebitda (Ebitda = lucro antes juros, impostos, depreciações e amortizações/receita líquida) consolidada também contraiu (-0,3 p.p), mas em uma menor magnitude, suportada pelo atacarejo (+0,9 p.p) por conta da maturação das lojas e controle de despesas em todos os segmentos. “Notamos que a melhora veio principalmente da otimização do parque de lojas, que levou a despesas não recorrentes de R$ 850 milhões (excluídas do Ebitda)”, afirma a XP.

Os diretores defenderam que a maior parte dessas mudanças, no que tange as despesas com vendas, gerais e administrativas (SG&A, na sigla em inglês), são estruturais. “São mudanças na holding, de estrutura, de relação com fornecedores. Algumas partes são ligadas à sazonalidade, mas mais de 70% ou 80% das ações são permanentes”, falou Alencar.

O Bradesco BBI também viu tendências positivas nos resultados do Carrefour Brasil, bem como uma melhora sequencial desde a piora operacional no 1T23. Fora as já mencionadas, eles destacam o desempenho do Banco Carrefour, o capital de giro core estável em 24 dias negativos e a geração (ajustada) de caixa de R$ 7,8 bilhões (excluído efeitos contábeis), que reduziu substancialmente a queima de caixa do 1T23 e 3T23 no ano de 2023.

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Por outro lado, o banco avalia que não se pode ignorar a considerável despesa de caixa não recorrente relacionada ao fechamento das 123 lojas de varejo, que correspondeu a quase 17,5% do Ebitda ajustado do 4T23. De acordo com o Carrefour, a empresa venderá os imóveis das lojas fechadas durante 2024, o que provavelmente levará a um impacto de caixa neutro no ano de 2024.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.