“Capitalismo falhou e precisa de uma reforma”, diz líder do maior hedge fund do mundo

Ray Dalio fez um artigo em que destacou os motivos para o "sonho americano ter virado um pesadelo', o que levou a contestações 

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Ray Dalio, fundador do maior hedge funds do mundo, a Bridgewater Associates, também é uma das pessoas mais ricas do planeta, sempre figurando na lista de bilionários. Mas isso não quer dizer que ele esteja satisfeito com o funcionamento do capitalismo atual – principalmente nos EUA. 

Em relatório, Dalio destacou que o capitalismo falhou e que precisa de uma reforma, destacando que o sonho americano virou uma espécie de pesadelo e os excessos capitalistas nos EUA criaram um problema existencial, levando a conflitos sociais bastante graves. Para ele, o sistema atual está dando resultados inconsistentes com os seus objetivos. 

De acordo com ele, todas as “coisas boas”, quando levadas a um extremo,  podem ser auto-destrutivas e que “tudo deve evoluir ou morrer”.

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Para Dalio, o capitalismo agora não está funcionando para a maioria dos americanos porque está produzindo resultados inadequados. Isso porque, nos últimos anos, “o capitalismo está  produzindo espirais de alta para os que têm [oportunidades] e de baixa para os que não têm”. 

Isso, segundo ele, enfraquece a condição dos EUA, colocando “ameaças existenciais” ao país. 

O gestor ainda aponta que “a maioria dos capitalistas não sabe dividir o bolo da economia e que a maioria dos socialistas não sabe bem como o fazer crescer”.

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Porém, avalia, a alternativa a um entendimento entre as pessoas com ideologias diferentes poderá ser destrutiva. “Estamos agora numa situação em que ou a) as pessoas com diferentes inclinações ideológicas trabalham em conjunto para refazerem a engenharia do sistema para que o bolo seja bem dividido e cresça ou b) teremos um grande conflito e alguma forma de revolução que irá causar danos a quase toda a gente”, alerta. 

Para exemplificar o que ele classifica como falhas do capitalismo, Dalio cita a falta de crescimento da renda real dos americanos nas últimas décadas, a diferença do rendimento real entre os mais ricos e a classe média, os mais jovens estarem ganhando menos do que as gerações anteriores e, o que ele avalia como intolerável, o fato de que muitas crianças estão pobres, desnutridas e pouco educadas. 

Essa situação, por sinal, traz consequências negativas para a economia americana, como uma produtividade e rendimentos mais baixos. As consequências também são de saúde, avalia, com as desigualdades afetando a expectativa de vida e a continuidade de tratamentos médicos. Dalio afirma que, desde 1990, a proporção de americanos que abandonou tratamentos médicos para doenças graves por causa dos custos passou de 11% para 19%. 

Dalio aponta que essa situação coloca “um risco existencial aos EUA” e, no final de seu artigo, promete uma nova publicação com possíveis soluções para consertar o capitalismo.

O seu texto gerou uma forte repercussão nos últimos dias, também levando a diversas críticas. Uma delas foi feita pelo colunista da revista semanal britânica The Week James Pethokoukis. O articulista afirma que o ensaio é repleto de estatísticas econômicas duvidosas, exageradas e incompletas que abrangem a interpretação mais pessimista. 

Pethokoukis utiliza diversos estudos para contestar Dalio, entre dados sobre aumento de renda real nas últimas décadas e “a simples realidade de que se está vivendo melhor hoje do que décadas atrás. Por exemplo: o número de carros por família com renda abaixo da mediana dobrou desde 1980 e o número de quartos por domicílio cresceu 10%, apesar da diminuição do tamanho das residências”, avalia. 

Entre outros dados econômicos, o colunista conclui: “aqueles que se preocupam com a desigualdade costumam reclamar que as opiniões dos bilionários recebem muito peso na sociedade americana. Certamente, este é um caso em que eles deveriam ouvir suas próprias críticas”. Dalio despertou o debate – e mais uma vez a polêmica está instalada. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.