Camil (CAML3) prevê preço maior do arroz com safra menor, diz CEO; ações caem quase 5% após balanço

No caso do feijão, houve crescimento de volumes e a empresa continua observando tendência positiva, inclusive com preços maiores

Augusto Diniz

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O CEO da Camil (CAML3), Luciano Quartiero, disse nesta sexta-feira (13) em teleconferência com analistas que o preço do arroz deve subir por conta da previsão de safra menor no Brasil. Segundo ele, por aqui, a safra deve ser prejudicada pelo fenômeno climático La Niña.

No mais, as mudanças de impostos de importação de alguns países do Mercosul facilitarão as exportações de arroz do Brasil para os vizinhos. Nesse contexto, a Camil vê espaço de aumento de preço do arroz.

“Isso vai fazer com que a gente tenha uma dinâmica de preços mais alta”, disse Quartiero, durante teleconferência com analistas para comentar os resultados do balanço, com lucro 22% maior, a R$ 147,1 milhões.

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O executivo aproveitou, porém, para descartar eventuais problemas de desabastecimento de arroz no Brasil. No último trimestre, a empresa já havia apontado preços elevados do arroz no mercado.

Feijão

Feijão, ao contrário do arroz e açúcar, teve crescimento de volumes no período e a empresa continua observando tendência positiva, inclusive com preços também mais altos.

“O ambiente de consumo continua lento, não só o nosso sell-in (venda para distribuidores) tem registrado um ritmo menor, mas nossos clientes mais próximos dizem que o sell-out (venda no varejo) está em ritmo menor”, afirmou o executivo.

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O CEO disse ainda que o impacto do poder aquisitivo e atual ambiente de consumo deve se manter no próximo trimestre.

“Não só em dezembro (que já impactou), mas janeiro e fevereiro usualmente são fracos para nós, então tem esse adicional, mas não na mesma intensidade que foi no último trimestre”, comentou. Ele vê mudança desse quadro a partir de março.

Resultados Camil (CAML3)

As ações da Camil (CAML3) fecharam em queda de 4,76%, cotadas a R$ 7,20.

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O CEO da empresa disse que o período entre setembro a novembro de 2022 “foi impactado por um cenário econômico desafiador na América Latina, que pressionam os resultados no setor de varejo alimentar”.

O volume de vendas do arroz caiu 3,1% em relação ao trimestre anterior. Do açúcar, outro produto importante do portfólio da Camil, a queda ainda foi maior no mesmo período: 6,6%.

O Brasil responde por 76% do volume total da companhia, sendo que desse índice, 36% refere-se ao arroz e 25% ao açúcar.

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Segundo a empresa, marcas relevantes e atendimento a diferentes nichos de consumo no Brasil têm permitido frear efeitos maiores nos resultados.

Mabel passa a integrar balanço

O período apresentado marca a entrada da categoria de biscoitos, com a inclusão da Mabel, ao portfólio da Camil.

O Capex atingiu R$ 230 milhões, com o pagamento de R$ 177 milhões da Mabel, investimentos de manutenção e alguns projetos de expansão – mas neste último, tendo em vista o novo patamar de taxa de juros, parte do programa foi postergado.

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Segundo Luciano Quartiero, a empresa continua aberta às oportunidades, mas o foco está nas aquisições dos últimos 24 meses e suas sinergias, para recuperação da rentabilidade.

Flavio Vargas, CFO da Camil, disse que as despesas com vendas, gerais e administrativas tiveram crescimento de 42%, mas ele destaca que parte são provisões com perdas de processos judiciais.

“Pensando em uma base comparável, as despesas do trimestre atingiram crescimento de 17%, impactadas principalmente por fretes, pessoal e pela inflação no período”, disse.

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De acordo com o CEO, alguns custos permanecem altos no 4T22 (dezembro a fevereiro no calendário fiscal da empresa).

Repercussão

Para a Eleven, em relatório, a avaliação sobre o resultado foi a de que a alavancagem foi o ponto negativo.

A Camil terminou o período com uma relação dívida líquida/Ebitda de 2,8 vezes versus 2,6 vezes do trimestre anterior, como resultado da redução do caixa devido às aquisições realizadas e aumento do capital de giro.

Apesar de um resultado mais fraco (com volumes de vendas menores), a Eleven continua a enxergar a Camil como uma companhia com marcas fortes e deve ser a maior beneficiada com a recuperação do consumo doméstico.

A Eleven tem recomendação de compra para a Camil, com preço-alvo de R$ 16/ação

Neutro

Para o Itaú BBA, o resultado foi considerado neutro, embora com menor volume de grãos. A análise observa uma contração da margem Ebitda, que pode ser atribuída, em grande parte, aos menores volumes de grãos no Brasil.

Isso porque, acrescenta o BBA, a dinâmica de venda continua enfrentando um ambiente difícil, levando a uma menor diluição de despesas no trimestre.

O BBA tem recomendação outperform para a Camil, com preço-alvo de R$ 13/ação.

Não recorrentes

A XP apontou, em relatório, que a Camil apresentou muitos eventos não recorrentes, alguns positivos, que ofuscaram o desempenho decepcionante em suas principais categorias, especialmente arroz e açúcar.

Segundo analistas da XP, a empresa conseguiu aumentar os preços em quase todas as categorias, porém, impulsionada principalmente pelo aumento dos custos.

A receita líquida acima do esperado de R$ 2,6 bilhões (ex-Mabel) não foi empolgante, diante do Ebitda de R$ 168 milhões e margem de 6,5%, ambos abaixo da estimativa da XP, apesar de abordagem excessivamente cautelosa.

“Com muitos M&As (fusões e aquisições) para digerir e uma alavancagem de 2,8 vezes (em linha com estimativas), que é quase desconfortável, ainda não está claro se as BUs (unidades de negócios) principais vão se recuperar ou as novas categorias que virão para o resgate”, escreveu a XP.