Caixa: IPOs de duas ou mais subsidiárias em 2019 podem não ser viáveis

Para especialistas, é possível que a estatal não consiga cumprir o cronograma esperado de privatizações

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Pedro Guimarães, novo presidente da Caixa Econômica Federal, disse nesta segunda-feira que realizará “pelo menos” duas aberturas de capital ainda em 2019, “talvez três”. O número mínimo, segundo ele, é um compromisso firmado com o ministro Paulo Guedes. Mas ele pode estar otimista demais.

As subsidiárias que estão na mira para o plano de aberturas de capital por enquanto são quatro: seguradora, cartões, gestora e lotérica. A ideia é que, com a captação dessas negociações em bolsa, a estatal quite R$ 40 bilhões em dívidas com o Tesouro Nacional.

Carlos Daltozo, responsável pela área de renda variável da assessoria financeira Eleven Financial e que atuou como analista do setor financeiro por mais de uma década, lembra que a parte de seguros é a que está mais bem encaminhada. “A Caixa Seguridade está tentando abrir o capital desde 2015. Há todo um processo de preparação”, diz. 

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Além disso, o fato de haver outras seguradoras na bolsa – como Sulamérica, Porto Seguro e a BB Seguridade (do Banco do Brasil) – facilita a comparação por parte dos investidores. Outra vantagem apontada pelos analistas é o fato de a Caixa Seguridade ter operações segregadas do banco, via parcerias com a francesa CNP Assurances e com a corretora Wiz. 

As outras subsidiárias, por outro lado, operam junto ao próprio banco. Isso poderia retardar o processo de IPO porque seria necessário, primeiro, separar as operações. Fora isso, não há benchmarks claros para os negócios independentes de cartões, gestão de ativos e loterias na bolsa brasileira.

“Pode ser que que a Caixa acelere e faça um segundo IPO ainda neste ano, mas o cronograma é desafiador”, diz Daltazo.

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Cartões: um setor perigoso

Também é importante levar em conta que, conforme as falas do próprio Guimarães, a subsidiária de cartões seria a segunda abertura de capital do ano. E tudo demonstra que este pode não ser um bom momento para listar ações de uma empresa de pagamentos na bolsa.

“Por mais que seja um negócio mais conhecido [na comparação com a gestora e a lotérica], você vê Cielo e Rede [competidoras mais próximas listadas] em um momento bem competitivo no setor”, lembra André Martins, analista do setor financeiro na XP Investimentos. Com queda superior a 60%, a Cielo foi a ação que mais despencou na bolsa em 2018, em parte graças à guerra de preço desencadeada pela competição de empresas como Stone e Pagseguro.

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Embora cartões e adquirência não sejam o mesmo negócio, com toda essa pressão nas taxas de intercâmbio e desconto, que causou pânico entre ações listadas, pode ser inoportuno tentar vender ações de uma empresa de pagamentos em geral. “É um setor que você teria que contar uma história muito boa [para vender ações] e oferecer um preço bastante razoável”, opina Martins. “Considerando que é uma estatal, a tendência é ter ainda mais um desconto”.  

Quanto valem os IPOs?

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Daltozo e outros analistas do mercado estimam um valor de mercado para a Caixa Seguridade entre R$ 17 bilhões e R$ 21 bilhões, usando como base o índice P/L da concorrente BB Seguridade. Esse índice mede a relação entre o preço da ação e o lucro da empresa por ação.

Sem base de comparação, o Itaú BBA fez estimativas para a área de cartões e para a gestora de acordo com as frentes similares no BB. A Caixa Cartões transaciona 63% do volume da área de cartões do BB, e a gestora possui 76% do tamanho da BB Asset em ativos. Por estes cálculos, os negócios teriam valor de mercado de R$ 6,7 bilhões e R$ 17 bilhões, respectivamente.

Quanto ao braço de loterias, a conta é ainda mais nebulosa. O BBA calculou que o valor mínimo do leilão que deve ocorrer em 2019 seria R$ 542 milhões.

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney