Depois da tempestade, o ânimo na Bolsa? O que explica a disparada de 120% das ações da Braskem em 2021

Ação BRKM5 lidera ganhos do Ibovespa no ano, com melhora operacional e notícias sobre venda da fatia da ex-Odebrecht; analistas esperam ainda mais

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Campeã do Ibovespa até o momento em 2021, com ganhos acumulados superiores a 120%, a ação da Braskem (BRKM5), após passar por uma série de reveses ano passado. A petroquímica passa por um forte movimento positivo em meio às expectativas de melhora operacional e também com a perspectiva de que a venda da fatia da ex-Odebrecht (atual Novonor) na companhia finalmente aconteça, após a holandesa LyondellBasell desistir da operação em junho de 2019. Agora, além de notícias de que LyondellBasell também quer retomar a negociação, novos nomes estão de olho na companhia.

Nas últimas semanas, as notícias de possíveis interessados, de diferentes veículos de mídia, impulsionaram ainda mais as ações. Apenas no acumulado do mês de abril, os ganhos para BRKM5 são superiores a 30%.

A última notícia sobre o tema, do jornal O Estado de S. Paulo do último domingo, é de que o fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos, Mubadala, já conversa com a Novonor sobre uma possível aquisição de sua fatia de 50,1% na Braskem.

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Para o Mubadala, que também está negociando com a Petrobras a compra da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), a aquisição da petroquímica viria em boa hora, acrescentou o jornal.  O fundo parece estar com apetite para ganhar espaço na cadeia de derivados de petróleo, incluindo o braço petroquímico em seus ativos.

“A Petrobras (PETR3; PETR4) é detentora do restante da Braskem e a impressão de quem está próximo da questão é de que não deve se opor ao desinvestimento”, destaca a publicação.  A petroleira estatal possui 47% do capital votante e 36,1% do capital total, sendo que a fatia já se encontra na lista de ativos a serem vendidos pela estatal desde o início do plano de redução de endividamento.

Segundo o Estadão, embora até o momento uma aproximação tenha envolvido apenas o Mubadala, espera-se que a LyondellBasell também retome as negociações pela participação da Novonor na Braskem. Procurada, a Novonor afirmou ser possível “que compradores diferentes tenham mais interesse em alguns ativos do que em outros, mas que o objetivo é vender a participação da Novonor na empresa consolidada.”

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Conforme destaca a equipe de análise da Levante Ideias de Investimentos, a notícia é positiva para as três companhias: Novonor, Petrobras e, naturalmente, Braskem.

Para a ex-Odebrecht, a venda permitiria cumprir com uma fatia grande de seu compromisso com credores. Para a Petrobras, seria uma importante entrada de caixa e um avanço em seu plano de venda de ativos e de redução do endividamento.

Já para a Braskem, ela finalmente poderia destravar o processo de migração para o Novo Mercado, “dando um toque final à sua estrutura de governança corporativa que passou por importantes melhorias nos últimos anos”.

Além disso, o câmbio favorável para os estrangeiros ainda deve esquentar a disputa pelo controle da petroquímica, o que pode elevar o preço das ações da Braskem no curto prazo, apontam os analistas da casa de research. O movimento aconteceria porque tanto o Mubadala quanto a LyondellBasell têm poder de fogo para adquirir a totalidade da companhia, apontam. Eles destacam o valor total da Braskem beirando os US$ 7 bilhões, abaixo dos US$ 10 bilhões negociados em 2019 com a holandesa.

Em 2019 a gigante holandesa LyondellBasell estava em conversas avançadas para a compra da totalidade da Braskem. Contudo, desistiu no último minuto de ficar com a companhia por conta do incidente geológico em Alagoas. Em 2020, outro problema, com a operação no México, em meio ao impasse nos contratos de fornecimento de insumos importantes para a produção da Braskem Idesa.

Sobre Alagoas, no final do ano passado, a companhia fechou acordos com autoridades para extinguir ações civis públicas relacionadas ao evento geológico que levou ao afundamento do solo em alguns bairros na capital Maceió por conta da atividade de mineração, forçando a realocação de milhares de moradores.

A companhia disse que a estimativa preliminar das ações adicionais decorrentes destes acordos é de aproximadamente R$ 1,2 bilhão, além dos R$ 7,9 bilhões já provisionados ao final do terceiro trimestre de 2020. Em novembro de 2020, a Braskem estimou em R$ 3 bilhões custos e despesas adicionais para a implementação de medidas definidas pela Agência Nacional de Mineração (ANM) para fechamento de minas instáveis de extração de sal em Maceió (AL).

Já sobre a Idesa, em março, a unidade no México assinou contrato de prestação de serviço de transporte de gás natural com a agência do governo do país, após ser notificada sobre interrupção do serviço de transporte de gás natural em dezembro do ano passado.

Com os problemas agora bem endereçados, a Levante avalia que a empresa holandesa poderá retornar à mesa de negociação, ainda mais em um momento favorável da indústria petroquímica, com franco crescimento de volumes e margens no mundo todo – e com a Braskem sendo um dos principais players do setor na América Latina.

Momento operacional positivo

Cabe destacar que, no final de março, Christian Audi e Rodrigo Almeida, analistas do Santander, reforçaram a recomendação de compra e elevaram o preço-alvo  para o ativo de R$ 28 para R$ 47 (novamente superado pela alta da ação; os papéis fecharam a sessão de segunda a R$ 52,79, um valor 12% maior do que o target).

Na avaliação dos analistas, a companhia está bem posicionada para se beneficiar de uma sólida demanda por produtos petroquímicos, traduzindo em fortes margens para polietileno (PE), polipropileno (PP) e policloreto de vinila (PVC).

A expectativa é de que a companhia feche 2021 com um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de US$ 3,8 bilhões (sendo de US$ 1,1 bilhão apenas no primeiro trimestre), 75% superior na comparação com o ano anterior e 85% acima do consenso de mercado, o que deve permitir a continuidade da desalavancagem da empresa.

Para Audi e Almeida, a demanda nacional pode provocar aperto da oferta das matérias primas e elevar ainda mais os preços. “A demanda brasileira por polietileno, polipropileno e policloreto de vinila tem sido impressionante nos últimos meses, a nosso ver, impulsionado pela atividade imobiliária e também pela saúde”, avaliam.

Mais recentemente, na última sexta-feira (16), o BTG Pactual elevou a recomendação para as ações da Braskem de neutra para compra e também o preço-alvo, que passou de R$ 28 para R$ 63, ou um potencial de alta de 19,34% frente o fechamento da véspera.

“Na última atualização de cobertura da Braskem, a pandemia estava em seus estágios iniciais, juntamente com os problemas em Alagoas e México, que impediam uma visão mais positiva sobre o caso de investimento. Menos de um ano depois, esses aspectos melhoraram muito, e não apenas os spreads subiram mais rápido do que o esperado, mas as soluções em Alagoas e no México parecem mais próximas do que nunca, permitindo que os investidores se concentrem apenas nos fundamentos”, destacaram em relatório os analistas Pedro Soares, Thiago Duarte e Ricardo Cavalieri. Assim, mesmo após a forte alta recente dos ativos, os analistas seguem otimistas com o papel.

Eles citaram que vários fatores impulsionaram os spreads dos produtos petroquímicos nos últimos seis meses – agora, esperam recordes históricos em todas as regiões onde a Braskem tem operações.

Entre os fatores que ajudam a compreender melhor esse ambiente favorável, estão: (i) baixos estoques de polietileno
globalmente, (ii) consumo persistentemente forte de polietileno e policloreto de vinila na China, (iii) atrasos na adição de
capacidade de resina e (iv) clima gelado nos EUA em fevereiro, causando paralisações operacionais em várias fábricas
de cracker.

As margens devem permanecer saudáveis em 2021, principalmente porque a demanda continua se recuperando junto com a vacinação global, avaliam.

Alguma normalização deve ser esperada, já que as adições de capacidade de resina ainda são esperadas no curto prazo, avaliam. Contudo, mesmo com spreads menores no segundo semestre deste ano e em 2022, os analistas esperam um rápido processo de desalavancagem.

Os analistas avaliam ainda que, em meio ao cenário de menor ruído político e sem grandes planos de expansão da capacidade a caminho, o desconto de 43% da ação em relação aos pares globais não é merecido. “Negociando a um valuation barato de 3,5 vezes em 2021 e 4,5 vezes o Ebitda esperado para 2022 (assumindo spreads 16% mais baixos, em média, em comparação com 2021) e 18% abaixo da média histórica, vemos a BRKM5 como uma tese de valor”, apontam.

Com o maior otimismo para a companhia, os analistas destacaram também que o momento da venda da participação da Odebrecht na Braskem não poderia ser melhor. “Não é uma grande novidade, pois a Novonor já informou o início deste processo no ano passado, mas o momento (apoiado pelos fundamentos) parece perfeito. Junto com uma alavancagem muito menor, isso deixa muito valor a ser capturado pelos acionistas em relação ao ano passado, quando a dívida líquida
era de dois terços o valor da empresa”, avaliam.

Já de acordo com a compilação da Refinitiv com casas que cobrem o papel, há uma maior divisão dos analistas para a ação, com cinco recomendando compra e cinco com recomendação neutra. Contudo, o otimismo com os papéis da petroquímica vem aumentando, com a perspectiva de melhores resultados associada aos rumores sobre a venda da participação de fatia da ex-Odebrecht. Assim, os investidores também acompanharão de perto tanto as novidades sobre o progresso da alienação da fatia da companhia quanto os resultados do primeiro trimestre, que devem ser divulgados no início de maio.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.