BRF (BRFS3): comprar ou vender a ação de olho no balanço? Goldman segue cético, enquanto XP eleva recomendação

BRF agora é top pick da XP no setor, enquanto algumas casas revisam para baixo estimativas para o balanço do terceiro trimestre da companhia

Lara Rizério

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As ações da BRF (BRFS3) têm um ano de recuperação, acumulando ganhos de 21% no acumulado de 2023. Mas, ainda assim, analistas têm uma visão diferente para o papel, enquanto ficam à espera dos resultados do terceiro trimestre de 2023 (3T23) da companhia, a serem divulgados no próximo dia 13 de novembro, após o fechamento do mercado.

Cabe ressaltar que, nos últimos três pregões, as ações tiveram queda, tendo como um dos motivos a revisão recente para baixo nas projeções do mercado para os números do 3T23, ainda que algumas casas não vejam a baixa recente dos papéis como suficiente.

O Goldman Sachs reiterou a recomendação de venda para as ações, com preço-alvo de R$ 7,70, ou um valor 23% abaixo ao fechamento da última segunda-feira, de R$ 10,05, com a visão de um resultado ainda pouco empolgante.

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“Esperamos que a BRF reporte outro trimestre misto, com custos mais baixos de grãos parcialmente compensados pelos mercados internacionais persistentemente desafiadores, preços in natura fracos e aumento da concorrência em alimentos processados”, avalia o Goldman, fazendo referência ainda ao anúncio da JBS (JBSS3) de inauguração de duas fábricas novas da Seara após investimentos de R$ 1 bilhão.

Os analistas do banco apontam que, embora vejam que o mercado tem ajustado gradualmente suas expectativas – o Ebitda, ou lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, do consenso Bloomberg 2023 caiu 27% no acumulado do ano em dólares -, o preço das ações não parece ter se ajustado de acordo (BRFS3 subiu 35% no acumulado do ano em dólares, versus alta de 9% do Ibovespa).

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Com a geração de fluxo de caixa livre persistentemente negativa e a elevada elasticidade do consumidor acrescentando riscos negativos à época festiva de fim de ano, os analistas veem dificuldade em encontrar argumentos fundamentais que justifiquem uma nova reclassificação dos ativos.

Assim, seguem com recomendação de venda para as ações BRFS3 e reiteram JBS (JBSS3) como sua principal escolha no setor de Proteína Animal.

O Bradesco BBI, por sua vez, manteve recomendação de compra, com preço-alvo esperado para 2024 de R$ 17,00, ou upside de 69%, apesar de revisar para baixo as suas estimativas para o balanço.

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Para o 3T23, o banco projeta um Ebitda de aproximadamente R$ 1,2 bilhão, 9% abaixo do consenso da Bloomberg (sell-side), porém veem que a expectativa do buy-side já está mais alinhada com os seus números.

“Analisando por segmento, os menores custos de insumos devem começar a se traduzir em melhor rentabilidade na operação brasileira, especialmente no segmento de alimentos processados, enquanto esperamos um desempenho mais estável em termos trimestrais no mercado internacional, uma vez que os preços ainda não se recuperaram”, avalia o banco.

O Itaú BBA, assim como o BBI, projeta um Ebitda de R$ 1,2 bilhão para a BRF, impulsionado pela sólida demanda na unidade de negócios brasileira e pela dinâmica resiliente de alimentos processados.

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“Na divisão Internacional, a BRF deverá reportar uma melhora sequencial, embora em ritmo mais lento do que no Brasil. No futuro, estimamos algum impacto positivo dos custos mais baixos dos grãos e do programa de eficiência BRF+, mas observamos que a maior parte dos ganhos relacionados aos grãos fluirá para o resultado no quarto trimestre”, aponta. O BBA tem recomendação equivalente à neutra para BRF, com preço-alvo de R$ 11 (upside de 9,5%).

BRF é nova top pick da XP no setor

Enquanto o Goldman Sachs segue cético e o BBI vê um resultado abaixo do esperado pelo consenso, a XP atualizou as estimativas para BRFS3, elevou a recomendação de neutra para compra e subiu o preço-alvo de R$ 8,60 para R$ 15,70 (upside de 56%).

Os analistas Leonardo Alencar e Pedro Fonseca, que assinam o relatório da XP, elevaram as projeções de forma a refletir (i) uma visibilidade mais clara sobre o efeito dos ventos favoráveis ​​da redução dos custos dos grãos nos lucros da BRF; (ii) recuperação acima do esperado no Brasil, liderada por sólidas margens de produtos processados ​​e recuperação de preços de in natura; (iii) um resultado internacional mais fraco que o esperado; e, por fim, (iv) as bem-vindas melhorias lideradas pelo programa de eficiência BRF+.

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“Entendemos que o 3º trimestre deva ser um ponto de inflexão para a Companhia, tanto nas perspectivas de lucro quanto no preço das ações”, apontam. Eles veem agora a empresa negociando a 4,7 vezes o EV/Ebitda (valor da empresa sobre o Ebitda) esperado para 2024 (contra a média de 4 anos de cerca de 6 vezes). “Dessa forma, estabelecemos BRF como nossa Top Pick no setor de proteínas”, apontam.

Alencar e Fonseca apontam que o mercado espera há muito tempo que a BRF aproveite a queda nos custos da ração (os preços do milho caíram 30% ano a ano no 3T, enquanto o farelo de soja caiu 13%). “Em nossa visão, o 3T23 será um ponto de inflexão e projetamos um forte momentum de resultados no 2S23 e ao longo de 2024, impulsionado pela recuperação dos preços domésticos das aves (+29% nos últimos 90 dias) e pelas sólidas margens dos produtos processados”, avaliam.

Além disso, esperam que a BRF supere seus pares, aproveitando os preços mais baixos da ração em uma estratégia de estoques de grãos mais assertiva. Também veem uma melhor perspectiva de fluxo de caixa após anos de consumo do caixa, refletindo (i) melhorias nas finanças, (ii) melhoria do capital de giro devido ao programa de eficiência BRF+ em andamento, e (iii) melhor posição de balanço após o follow-on de R$ 5,4 bilhões.

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Já os riscos de cauda, na visão dos analistas, parecem resolvidos, pelo menos por enquanto. A Marfrig (MRFG3) alcançou recentemente uma participação de 45% na BRF, e os investidores estão preocupados há algum tempo com uma possível fusão/reorganização societária entre as duas empresas, que os investidores acreditam que poderia levar a uma potencial queda no preço das ações.

Os analistas, contudo, veem que tal movimento é improvável no curto prazo, dada (i) a alta alavancagem da Marfrig e uma perspectiva ainda difícil para a National Beef; (ii) foco da companhia na execução do processo de venda de 16 plantas para a Minerva (BEEF3); e (iii) foco da BRF na continuidade do seu programa de eficiência operacional.

“Além disso, os novos casos de gripe aviária diminuíram drasticamente e, em nossa opinião, veremos o tema se tornar menos relevante, pelo menos até vermos os primeiros casos na América Central, muito provavelmente até o 1T24”, finalizam.

De acordo com compilação feita pela Reuters, de onze casas que cobrem o papel, 3 recomendam compra, 7 possuem visão neutra e 1 de venda, com preço-alvo médio de R$ 11,40, ou potencial de alta de 13,4% em relação ao fechamento de segunda.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.