“Brasil poderia atrair ainda mais capital”, diz economista-chefe do Credit Suisse

O que impede a entrada mais forte de recursos são as dúvidas sobre a economia a partir de 2023, sem clareza sobre a política econômica do próximo governo

Estadão Conteúdo

A economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, Solange Srour (crédito: divulgação/Ricardo Borges)

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A economista-chefe do banco Credit Suisse, Solange Srour, notou um aumento do interesse de investidores estrangeiros pelo Brasil. A subida das taxas de juros e a inflação alta no mundo todo atraíram a atenção para os países emergentes.

A leitura é de que eles podem se beneficiar dos preços mais altos das matérias-primas e dos produtos agrícolas – as chamadas commodities. Só nos primeiros meses do ano, a Bolsa brasileira atraiu R$ 64 bilhões em capital estrangeiro. Mas, segundo a economista, o Brasil poderia receber uma parte maior do capital que está sendo deslocado no mundo.

O que impede a entrada mais forte de recursos são as dúvidas sobre a economia a partir de 2023, sem clareza sobre a política econômica que será adotada pelo próximo governo. A visão é de que o mercado poderia estar indo melhor. “Do portfólio global que está sendo deslocado para o Brasil, a gente está falando de menos de 2% ou 3% do total. Pode ser muito maior”, afirma ela na entrevista a seguir.

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O que esperar para a economia este ano, com juros elevados e inflação ainda alta? Vai ser um ano em que a economia não deve andar. Deve ficar de lado, à espera do que vai acontecer em 2023. A gente vai ter um cenário um pouco mais claro só após as eleições. Até lá, o debate econômico está paralisado. E não vai se discutir qual vai ser a regra fiscal nova. E esse debate é importante para a confiança do empresariado e para a taxa de juros, que acaba afetando o crédito.

Quais são as suas projeções para o PIB?

A gente estava prevendo uma queda de 0,5% para este ano, mas vamos divulgar uma revisão, com viés para cima, próximo da estabilidade. Apesar das condições atuais, a economia teve uma pequena melhora no primeiro trimestre. Mas não é algo que mude o rumo.

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Por que não?

Por conta de um juro real alto, que vai precisar se manter alto por causa do choque de inflação. Não é só o recente aumento das commodities, principalmente petróleo e produtos agrícolas, mas porque a inflação está elevada e espalhada há muito tempo. Isso atrapalha o crescimento. E é um ano difícil para investimentos, por causa da eleições. Apesar de a incerteza eleitoral não estar aparecendo no debate, é difícil haver investimento na economia real.

Por que os mercados ignoram a incerteza eleitoral?

Porque a conjuntura internacional está favorecendo os emergentes. A gente vê uma entrada de capitais na Bolsa elevada, derivada de uma mudança de portfólio, causada pelo aumento dos juros americanos e pelo fato de o Brasil já ter adiantado o processo (de aperto monetário). Outra questão é a guerra. A guerra trouxe um ganho de termos de troca (relação entre o valor das exportações e das importações) para o Brasil e outros emergentes. Setenta por cento da nossa pauta exportadora

Até quando dura esse fluxo positivo de capital?

Pelo perfil de investimentos que a gente está vendo, não é um fluxo de curto prazo. Mas, por mais alto que pareça ser, é uma parcela pequena do portfólio deslocado no mundo, de setores valorizados lá fora. Pode vir muito mais. O Brasil poderia se beneficiar mais desse fluxo. E aí, sim, para o investidor estrangeiro mais de longo prazo, faz a diferença ter um cenário mais claro para 2023. Se o cenário internacional continuar favorável e a gente tiver uma perspectiva mais clara da política econômica em 2023, esse fluxo pode se intensificar.

Qual é o volume de capital que está sendo deslocado?

Do portfólio global que está sendo deslocado para o Brasil, a gente está falando de menos de 2% ou 3% do total. Pode ser muito maior. A gente está vendo interesse do estrangeiro em conversar de novo sobre o Brasil, e sobre setores da economia real. O (capital) que entrou até agora é um gostinho do que pode acontecer.

O que se diz nas conversas?

Os investidores levantam a questão se os juros vão ficar altos por muito tempo. Se existe um problema não só de inflação, mas um problema fiscal mais crônico, que impeça uma queda do juro real. Perguntam não só sobre as eleições, mas qual será a força política do próximo presidente no Congresso, quem quer que ganhe. Porque o importante é não é só manter a agenda econômica, mas aprofundar a consolidação fiscal e aprovar reformas. E sobre as reformas microeconômicas, que são importantes para o investidor que busca um crescimento maior do Brasil.

O interesse não é só pelos setores exportadores?

Neste primeiro momento, tem um interesse pelos setores de commodities e por setores que protejam contra a inflação global. Existe uma visão de que o ciclo de alta das commodities não vai acabar com o conflito da Ucrânia. Vai ser mais longo. Mas existe interesse em entender os setores mais relacionados ao consumo e à infraestrutura, e setores que se beneficiariam de um crescimento econômico maior. Esse interesse aumentou porque o Brasil e vários emergentes ficaram para trás na valorização dos ativos pós-pandemia. A gente ficou barato. Agora, o quão barato a gente está é o que eles querem entender. E só dá para responder isso sabendo qual vai ser a agenda dos próximos anos.

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