Bradesco (BBDC4): de números decepcionantes à recuperação adiada, o que fez a ação desabar 6,6% após o resultado

"Acreditamos numa curva de melhoria, mas vemos o ponto de inflexão um pouco mais distante", aponta a XP

Mitchel Diniz

Publicidade

Os resultados do Bradesco (BBDC4) no segundo trimestre de 2023 mostram um banco com dificuldades para crescer e rentabilizar sua carteira de crédito, em um cenário de inadimplência ainda elevada. Essa é uma conclusão praticamente unânime entre os analistas que acompanham o “bancão”, cujas ações subiram mais de 12% no ano até agora. Com isso, os ativos BBDC4 foram intensificando as baixas durante a tarde e fecharam em queda de 6,65%, a R$ 15,45.

O banco registrou lucro recorrente de R$ 4,5 bilhões no segundo trimestre de 2023 (1T23), uma queda de 35,8% na comparação anual.

A margem financeira do banco totalizou R$ 16,6 bilhões, um crescimento de 1,2% em relação ao mesmo período de 2022. Já em relação ao primeiro trimestre, houve uma queda 0,6%.

Continua depois da publicidade

A carteira de crédito do Bradesco terminou o segundo trimestre em R$ 868,69 bilhões, uma redução de 1,2% em relação ao primeiro trimestre, “refletindo o reposicionamento da política de crédito voltada para modalidades de menor risco”, disse o banco.

O Bradesco também revisou para baixo suas projeções para o ano de 2023. Com um crescimento de 1,6% na carteira de crédito acumulado no primeiro semestre, o banco prevê uma expansão de 1% a 5% no ano cheio em relação a 2022. Antes, o guidance era de crescimento entre 6,5% e 9,5%.

A equipe da XP avalia que as ações do Bradesco se valorizaram recentemente,  apostando na melhoria dos resultados no futuro. “Acreditamos numa curva de melhoria, mas vemos o ponto de inflexão um pouco mais distante”, afirmam Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre. Eles explicam que a elevada inadimplência e o baixo crescimento da carteira do banco se traduzem em baixos níveis de rentabilidade.

Continua depois da publicidade

O Itaú BBA avalia que o segundo trimestre do Bradesco foi fraco e prevê uma recuperação lenta para o ROE da companhia, que ficou em 11,1% , “ainda muito abaixo do custo de capital”.

“O lucro líquido foi ligeiramente melhor que o esperado, mas a qualidade foi ruim em nossa visão”, afirmam os analistas do BBA. Eles avaliam que o índice de cobertura do banco caiu de forma relevante em meio a uma deterioração de crédito.

A casa destacou a revisão do guidance do banco e acredita que o Bradesco vai ficar na parte mais baixa das projeções em margem financeira. Com isso, o ROE permaneceria entre 10% e 11% nos próximos dois trimestres, provocando um carrego negativo para 2024.

Continua depois da publicidade

Para o Credit Suisse, os números do Bradesco no segundo trimestre reafirmam a tese de um ambiente fraco para o crescimento de receitas. Os analistas observam melhora na qualidade dos ativos, mas os indicadores de inadimplência ainda apontam para uma continuidade da restrição de crédito, o que deve impactar as margens financeiras por mais tempo.

Com base nos números do trimestre passado, o Credit não vê tendência de crescimento de lucro acima dos R$ 25,3 bilhões previstos pelo mercado para o Bradesco em 2024. Assim, o banco negociaria a múltiplos acima dos seus pares. O banco manteve sua recomendação neutra para o papel com preço-alvo de R$ 18.

Na visão da Genial Investimentos, o Bradesco foi “salvo pelo seguro” no segundo trimestre de 2023. A vertical apresentou um lucro de R$ 2,4 bilhões, com uma robusta expansão trimestral e anual, ROE de 24,5% e revisão positiva no guidance.

Continua depois da publicidade

Contudo, os analistas observam que trimestre foi marcado por resultados fracos em outras linhas operacionais, com a carteira de crédito contraindo na comparação trimestral e anual. Além disso, a receita líquida de juros teve queda trimestral e fraca expansão anual. Na visão da Genial, a provisão para crédito do banco ainda segue bem elevada.

“Na nossa interpretação, o novo guidance reflete uma dificuldade do Bradesco em alcançar uma rápida recuperação de rentabilidade do que inicialmente projetávamos, com o ROE de 18% provavelmente somente em 2025″, dizem os analistas da casa.

A partir das novas projeções do banco, a Genial calcula que o lucro do Bradesco para o ano deve ficar abaixo de R$ 20 bilhões, com uma queda provavelmente superior a 4% (ano a ano), além de um ROE fraco frente ao histórico da empresa, em um nível próximo a 12-13%.

Continua depois da publicidade

O Morgan Stanley tomou como base o resultado operacional do Bradesco no período, de R$ 4,990 bilhões, dizendo que o número veio 11% abaixo do esperado. O banco observa que a linha do balanço foi impactada por um crescimento nas provisões para perdas com empréstimos inadimplentes, para cobrir, sobretudo, créditos mais antigos e deteriorados.

Além disso, a margem financeira do banco foi fraca, já que o Bradesco tornou a restrição de crédito mais restrita para lidar com o problema da inadimplência. “Dito isso, os itens que vão guiar o futuro do Bradesco parecem promissores”, afirmam os analistas do banco, destacando a desaceleração na inadimplência do banco.

O índice de empréstimos com atraso acima de 90 dias ficou em 5,9% – continuou crescendo, mas em ritmo menor.  “Suspeitamos que os índices de inadimplência chegaram o pico e vão começar a cair no terceiro trimestre”, diz a análise do Morgan.

O banco também destacou o melhor desempenho da margem financeira com o mercado, que continua no negativo, mas deve inverter o sinal já no terceiro trimestre. Os analistas explicam que o item é importante para a normalização do retorno sobre patrimônio (ROE) do banco, que segue na casa dos 11%.

“As despesas do banco continuam entregando boa performance, mostrando que a alavancagem operacional deve melhorar assim que as receitas se recuperarem”, dizem os analistas.

O Morgan Stanley manteve recomendação overweight para Bradesco e preço-alvo de US$ 5,10 para seus ADR’s, os ativos do banco negociados na Bolsa de Nova York.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados