Boom de consumo nos EUA e desaceleração na China? O que a bateria de dados mostra sobre as duas maiores economias do mundo

Últimos dias foram marcados por diversos indicadores econômicos, que trazem um retrato de como se dará a recuperação global

Lara Rizério

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SÃO PAULO – As últimas sessões foram marcadas por uma bateria de dados econômicos nos EUA e na China, que reforçaram o cenário de crescimento robusto das duas maiores economias do mundo, ainda que alguns números possam ter decepcionado.

Nos EUA, os pedidos de auxílio-desemprego recuaram de forma expressiva na semana passada, para 576 mil, o menor nível em mais de um ano (uma redução de 193 mil pedidos em relação à semana anterior).

Além disso, as vendas no varejo cresceram 9,8% entre fevereiro e março, resultado muito acima das expectativas do mercado (que já era de alta de 6,1%). O forte desempenho ocorreu uma vez que os norte-americanos receberam cheques de alívio adicionais do governo e o aumento das vacinações permitiu maior reabertura econômica, consolidando expectativas de um crescimento robusto no primeiro trimestre.

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Sobre os EUA, David Kohl, economista-chefe da Julius Baer, ressalta que a abertura da economia e o estímulo fiscal estão se refletindo em um aumento recorde nas vendas no varejo em março, sendo que um boom de consumo está começando e vai durar pelo menos os próximos seis meses.

Os dados sugerem que o crescimento do PIB dos EUA no primeiro trimestre será maior do que a estimativa atual da Julius Baer, de 4% de crescimento trimestral em termos anualizados, o que também elevaria ainda mais a previsão de crescimento anual de 6,5% para 2021.

Ainda entre os indicadores, o Empire Manufacturing Index, levantamento mensal do Federal Reserve de Nova Iorque sobre atividade industrial, subiu de 17,4 em março para 26,3 em abril (ante consenso de 20) e alcançando o patamar mais elevado desde outubro de 2017.

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Enquanto isso, a Sondagem Industrial do Fed Filadélfia saltou de 44,5 para 50,2 no mesmo período, chegando ao patamar mais alto em quase 50 anos.

Além dos dados econômicos, vale ressaltar que lucros sólidos de grandes bancos também contribuíram para os novos recordes registrados em índices acionários dos EUA, conforme destaca a equipe de análise da XP.

A XP destaca que 42 das 500 empresas do S&P 500 já divulgaram resultados, sendo que os lucros vieram 54,5% acima do esperado, puxados por grandes bancos como J.P. Morgan, Wells Fargo, Goldman Sachs e Bank of America. 76% das companhias bateram as estimativas de faturamento enquanto 78% bateram os lucros, com o setor financeiro largando na frente, com 17 resultados divulgados e lucros vindo 83% acima do esperado.

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China: dados fortes se sustentarão?

Já na noite de quinta, vários indicadores importantes de atividade econômica na China também foram publicados. O PIB do 1º trimestre de 2021 apresentou expansão de 18,3% na comparação interanual. Ainda que um pouco abaixo da expectativa de mercado (19,2%) e em que pese o efeito da base comparativa muito fraca, o resultado sinalizou retomada firme na economia do país asiático, destaca a XP.

Por um lado, a produção industrial da China avançou 14,1% em março em relação a igual mês do ano anterior, com resultado que ficou abaixo da expectativa de economistas consultados pelo Wall Street Journal, que previam alta de 16,5% para o indicador. Os investimentos em ativos fixos da China, por sua vez, tiveram alta de 25,6% no primeiro trimestre de 2021 em relação a igual período de 2020. O crescimento ficou aquém da previsão de economistas consultados pelo Wall Street Journal, que esperavam expansão de 26,4%.

Já as vendas no varejo cresceram 34,2% em março em relação a igual mês de 2020, enquanto as expectativas de economistas ouvidos pelo Wall Street Journal, que esperavam avanço de 28%.

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A XP destaca que os investimentos em ativos fixos e a produção industrial também tiveram bom desempenho no período, mas o  grande destaque positivo ficou por conta das vendas no varejo, que cresceram mais de 6 pontos percentuais acima das projeções de mercado, avalia a equipe de análise.

Para Sophie Altermatt, economista da Julius Baer, o crescimento do PIB chinês no primeiro trimestre foi sustentado por um sólido setor industrial, que se beneficiou do forte crescimento das exportações e de uma retomada gradual da atividade no setor de serviços. O crescimento, contudo, desacelerou sequencialmente no primeiro trimestre, à medida que a recuperação se atenuou e desaceleração das políticas de estímulo.

Na comparação com o quarto trimestre de 2020, por exemplo, o crescimento veio um pouco abaixo do esperado pelo mercado, com uma alta de 0,6%, diante da projeção de 1,4%.

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O novo surto de Covid-19 em partes da China no início de 2021 também teve provavelmente um impacto atenuante, principalmente ao afetar a recuperação dos setores de serviços e turismo, lazer e hotelaria em particular.

“Os dados de atividade de março sugerem que o ritmo de crescimento da produção industrial desacelerou, principalmente impulsionado por uma desaceleração na indústria. As vendas no varejo melhoraram porque as restrições diminuíram, provavelmente causando alguma demanda reprimida”, avalia Sophie.

Já o crescimento no investimento em ativos fixos acelerou ao ajustar os efeitos de base, impulsionado por investimentos em infraestrutura e manufatura. A economista espera que o consumo e o investimento privado sejam os principais motores de crescimento da economia chinesa no decorrer de 2021, avaliando ainda que os dados mais recentes não sugerem qualquer mudança de direção na orientação de política econômica das autoridades chinesas.

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“Continuamos esperando uma normalização gradual da política macroeconômica este ano, incluindo consolidação fiscal, desaceleração do crédito e esforços para estabilizar a dívida e o mercado imobiliário. Com relação à política monetária, não esperamos nenhum aumento nas taxas de juros este ano. Com a Covid-19 controlada e a recuperação do crescimento em maturação, as autoridades chinesas estão gradualmente mudando seu foco para questões estruturais de longo prazo, como o uso eficiente de recursos fiscais e estabilidade financeira”, afirma a economista.

Conforme aponta o Safra, agora o mercado irá monitorar os números dos meses seguintes, uma vez que há dúvidas se a China conseguirá manter esse ritmo de crescimento nos próximos trimestres. “Medidas de restrição de crédito, que já estão sendo implementadas, por exemplo, podem ter efeito no segundo semestre, quando a economia chinesa deve crescer perto de 5%, na comparação anual”, destaca a equipe de análise. Para o ano todo, o governo chinês projeta crescimento de pelo menos 6%.

Cabe destacar que, antes da divulgação do PIB chinês, havia apreensão no mercado uma vez que o aperto da política monetária da China havia começado e mais dados econômicos positivos poderiam reforçar o viés de aperto.

(com Reuters e Estadão Conteúdo)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.