Bolsas privadas estão sendo usadas nos EUA para “insiders” driblarem a SEC

Intenção com a criação dessas "Dark Pools" é fugir da vigilância do órgão regulador norte-americano, que já puniu 71 pessoas nos últimos quatro anos

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – O caso da CCX Carvão (CCXC3) virou debate no mercado financeiro: a empresa subiu 65% nos três dias antes da notícia de realizaria uma OPA (Oferta Pública de Aquisição), prontificando o público a acreditar que é um caso de insider trading – até mesmo a empresa teve de prestar esclarecimentos e o controlador, Eike Batista, pediu para que a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) investigasse o caso.

Por aqui, a CVM é tida como complacente com esses casos – poucas pessoas são punidas por um crime que, muitas vezes, parece ser “óbvio”. Nos EUA, a SEC (Securities Exchange Comission), órgão análogo à nossa CVM, é mais rígida com esses casos e pune exemplarmente – já foram 71 condenações nos últimos quatro anos. A saída desses foras da lei tem sido montar “bolsas privadas” – chamadas de “Dark Pools” (Piscinas Negras, em inglês) – para conseguir burlar a vigilância da reguladora.

O esquema é completamente legal, se não fosse pelo fato de contar com a participação dos “insiders” – pessoas que utilizam informações privilegiadas para operar. Essas bolsas privadas permitem com que grandes investidores, como hedge funds, fundos institucionais, fundos de pensão e grande bancos, negociem ações de maneira completamente anônima – ao contrário das bolsas públicas, quando o nome dos intermediadores e o tamanho de cada operação ficam à disposição de quem tiver tiver interesse.

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Assim, em uma bolsa convencional, é possível descobrir o saldo adquirida em cada instituição, o que permite fazer inferências durante investigações dos reguladores, ao delimitar que apenas os clientes das intermediadoras envolvidas se beneficiaram, permitindo encontrar o insider. Nos EUA, ainda por cima, é possível saber qual fundo ou investidor adquiriu aquelas ações nas bolsas convencionais, já que ao contrário daqui, essa é uma informação pública.

Bolsas privadas são mais anônimas
Nos EUA, as bolsas privadas garantem que essa informação não será públicada. O sistema encontra compradores e vendedores para realizar uma operação, e o nome das pessoas envolvidas não fica registrado em nenhum lugar. O sistema de cotações dessas “Dark Pools” é derivado das bolsas convencionais, como a Nyse (New York Stock Exchange) e a Nasdaq.

O fato de ser uma negociação anônima impede que o mercado avalie quem está comprando ou vendendo, e no momento em que os personagens que estão tradando são conhecidos – como os diretores da empresa -, essa informação pode ser crucial na movimentação do preço da ação. Assim, permite que grandes investidores mudem drasticamente de posição de forma escondida, ao passo que parecem, publicamente, estar adicionando ou vendendo apenas algumas ações.

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Além disso, fica impossível descobrir grandes distorções na demanda e na oferta de cada ação – diminuindo a distorção de preço quando insiders estão agindo. A existência das “Dark Pools” também permite elevar a rentabilidade por driblar os mecanismos de trading automâtico, chamado de High-Frequency Trading, que procuram esse tipo de distorção.