Bolsa sobe quase 3 vezes o CDI em ciclos de corte de juros; alta vai se repetir dessa vez?

Para Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, fatores como fluxo de estrangeiros devem ser decisivos para desempenho do Ibovespa

Mariana Segala

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Nos ciclos de queda de juros, a Bolsa é o ambiente de investimentos que costuma ter mais a ganhar. Taxas menores tanto reduzem a “concorrência” com a renda fixa quanto aliviam a situação financeira das empresas, o que beneficia suas ações no pregão. E se é verdade que o Ibovespa já deu uma bela “pernada” desde o início dos cortes da Selic, também é verdade que o índice ainda tem o que subir para voltar aos padrões históricos.

A opinião é de Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP (XPBR31). Considerando seis ciclos de queda da taxa Selic nos últimos 20 anos, ele e sua equipe calculam que o Ibovespa rendeu, em média, quase três vezes mais que o CDI (taxa de referência da renda fixa) entre os 100 dias que antecedem o primeiro corte e os 300 dias que o sucedem. Historicamente, são 35% de alta das ações, contra 12% a 13% do CDI.

Especificamente no caso de 2024, alguns aspectos reforçam a expectativa de que o movimento se repita. Um deles é o indicador de preço sobre lucro (PL) do Ibovespa, que relaciona o preço das ações com o lucro gerado pelas empresas – quanto menor, mais “descontada” está uma ação. Do pior momento de 2023 (março) para cá, o índice avançou mais de 30%. Mesmo assim, o PL do Ibovespa é de 8 vezes, contra média histórica de 11. “E contra 14 vezes da bolsa no México e de 22 vezes na Índia”, diz.

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O desconto da Bolsa brasileira frente a outros emergentes reforça o otimismo. “O investidor global está procurando opções” – e tem tido dificuldade para encontrá-las, segundo o estrategista. A China está abandonando a prerrogativa de “crescer a qualquer custo” que guiou o país por décadas, focando o gasto público na segurança social da população. México e Índia, embora promissores, são mercados que já “andaram muito”. Turquia e outros países apresentam questões de governança relevantes.

Sobra o Brasil – apesar do fluxo negativo neste começo de ano. “Entraram R$ 50 bilhões de investidores estrangeiros na Bolsa no ano passado, e acredito que esse fluxo vá continuar forte, salvo algum choque”, diz Ferreira. “O estrangeiro está um pouco sem opções, e o Brasil fica bem posicionado”.

A perspectiva de Bolsa para cima, no entanto, não significa um comportamento uniforme entre os diversos setores. Dos segmentos fortemente ligados à atividade doméstica, alguns – como o imobiliário, educação e energia elétrica – já precificaram boa parte do ciclo de cortes da Selic.

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Já os que estão atrasados são também os que potencialmente envolvem maiores riscos. Um exemplo é o varejo. “Essas empresas seguem em situação difícil, diante da competição com as plataformas online estrangeiras e os juros altos, mas também por conta de questões tributárias”, diz Ferreira, referindo-se a dispositivos como a MP das subvenções, aprovada e sancionada no ano passado.

A medida determina que empresas não poderão mais retirar da base de cálculo dos impostos federais (CSLL e IRPJ) os benefícios fiscais (subvenções) concedidos pelos Estados e relativos ao ICMS. Cálculos da XP indicam que, para as varejistas, isso poderia causar uma redução do lucro líquido de 8% a 15%, caso os benefícios do ICMS fossem reduzidos em 50% a 100%, respectivamente.

Por isso, “seletividade” é palavra-chave na escolha das ações para aproveitar a esperada alta do mercado neste ano. “No varejo, continuamos gostando de empresas voltadas ao consumidor de alta renda, uma turma que não sofreu com alta de juros. Pelo contrário”, diz Ferreira. “Também gostamos de supermercados, especialmente os atacarejos, que são muito resilientes”. Já as empresas que atendem à classe média e à baixa renda ou que são muito dependentes de crédito em suas vendas não soam boas escolhas.

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Mariana Segala

Editora-executiva do InfoMoney