Bolsa sobe, mas não se livra de queda de 4% em julho; dólar sobe 10% no mês

Apesar de alta de hoje e da semana, índice não resistiu ao agitado mês de julho e registrou fortes perdas no mês

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – O Ibovespa subiu 1,94% nesta sexta-feira (31), chegando a 50.864 pontos na melhor semana do mês. No entanto, desde o início de julho, o índice caiu 4,17% em um mês que foi agitado por eventos que mudaram completamente o cenário do mercado como o corte da meta fiscal de um superávit de 1,1% do PIB (Produto Interno Bruto) para 0,15% do PIB. Além disso, nesta quarta-feira, o Fomc (Federal Open Market Comittee) acenou para um aumento dos juros nos Estados Unidos em setembro, o que deve gerar uma perda do apetite por risco nos mercados globais.  

Ao mesmo tempo em que a Bolsa despencava, o dólar disparou, subindo 10% em julho. O câmbio também foi afetado principalmente pelos acontecimentos políticos como o rompimento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, com o governo e o início das investigações do ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva pela procuradoria do Distrito Federal. 

Nesta sexta, o dólar comercial subiu 1,59%, atingindo os R$ 3,4242 na compra e R$ 3,4247 na venda após o resultado do PMI de Chicago. O indicador subiu em julho para o nível mais alto desde janeiro, sugerindo uma grande captação de negócios durante o verão. O índice subiu para 54,7 pontos em julho, ante 49,4 em junho. O dólar comercial caminha para uma alta de mais de 10% no mês, na maior valorização desde março.

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Segundo o economista da Elite Corretora, Hersz Ferman, o dia hoje foi mais um de repique, o que aparece com clareza pelas altas de ações que caíram muito nas últimas duas semanas como Bradesco (BBDC3; BBDC4) e Itaú Unibanco (ITUB4). Além disso, a forte depreciação do câmbio também ajuda, já que deixa o Ibovespa em dólar mais barato e ajuda operacionalmente diversas empresas que possuem receitas denominadas nesta moeda. “Você pode pegar a Gol  (GOLL4) por exemplo, que fica muito prejudicada por ter despesas nesta divisa, e alguns outros papéis, mas para a grande maioria das empresas, parte da receita fica em dólar. “São poucas aquelas em que o dólar fica pesando”, explica.

Déficit e corte na Educação
Na noite de ontem foi anunciado um corte de R$ 1 bilhão para a Educação e outros quase R$ 1,2 bilhão em recursos da Saúde. As medidas fazem parte de um contingenciamento adicional de R$ 8,6 bilhões anunciado na semana passada. Também sofreram pesada restrição de gastos os ministérios das Cidades (R$ 1,3 bilhão) e dos Transportes (R$ 875 milhões), em medidas que irão afetar programas de educação, investimentos em infraestrutura e gastos de custeio.

Divulgado pelo Banco Central, o setor público registrou um déficit primário consolidado de R$ 9,323 bilhões em junho, ante estimativa de R$ 5,4 bilhões. O Governo Central e as empresas estatais apresentaram déficits respectivos de R$ 8,6 bilhões e R$ 813 milhões, e os governos regionais, superavit de R$ 56 milhões. Em maio, o déficit do setor público consolidado somou R$ 6,900 bilhões e, em junho de 2014, déficit de R$ 2,100 bilhões.

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No ano, o superávit primário acumulado é de R$16,2 bilhões, ante superávit de R$ 29,4 bilhões no mesmo período de 2014. No acumulado em doze meses, registrou-se déficit primário de R$45,7 bilhões (0,80% do PIB), comparativamente a deficit de R38,5 bilhões (0,68% do PIB) em maio.

Agenda nos EUA
Enquanto isso, o índice de custo do emprego dos Estados Unidos cresceu no ritmo mais lento em quase três décadas no segundo trimestre, um sinal de que o crescimento nos salários continua fraco no país. O resultado pode pesar na decisão do Federal Reserve, o banco central norte-americano, de elevar os juros mais adiante. O índice de custo do emprego avançou 0,2% no segundo trimestre ante o primeiro, após ajustes sazonais.

O sentimento do consumidor caiu para 93,1 em julho, ante um resultado de 96,1 em junho, de acordo com relatórios da Universidade de Michigan divulgados nesta sexta-feira. A leitura preliminar de julho apontava para 93,3. Os economistas olham para o indicador procurando pistas sobre os gastos dos consumidores, a espinha dorsal da economia.

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Destaques de ações
A sessão desta sexta-feira foi marcada pelas ações que refletiram seus balanços, caso da BRF (BRFS3, R$ 71,87, +4,02%), que fica entre as maiores altas do dia. A companhia divulgou que seu lucro líquido teve alta de 46,6%, passando de R$ 249 milhões no segundo trimestre de 2014 para R$ 364 milhões de abril a junho deste ano. A geração de caixa medida pelo Ebitda avançou 43,6%, passando de R$ 906 milhões de abril a junho do ano passado para R$ 1,4 bilhão no segundo trimestre deste ano.

As maiores altas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 BRKM5 BRASKEM PNA 12,54 +9,33 -24,55 26,71M
 EMBR3 EMBRAER ON 23,90 +6,22 -1,79 76,63M
 OIBR4 OI PN 4,84 +5,22 -43,79 36,47M
 CSNA3 SID NACIONAL ON 4,33 +4,84 -16,22 26,70M
 GOAU4 GERDAU MET PN 3,50 +4,48 -68,76 17,99M

Na liderança do índice também aparecem os papéis da Braskem (BRKM5, R$ 12,54, +9,33%), que dispararam 10% após a Petrobras afirmar que não reconhece as perdas de R$ 6 bilhões em contratos com a petroquímica. Na sexta-feira passada, o Ministério Público Federal afirmou que a estatal teve um prejuízo de R$ 6 bilhões entre 2009 e 2014 com a venda de nafta para a petroquímica do grupo Odebrecht.

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O minério de ferro spot no porto de Qingdao caiu 4%, a US$ 53,41. Mesmo assim, a Vale (VALE3, R$ 17,87, +2,41%; VALE5, R$ 14,65, +1,67%) teva alta de 2% hoje, depois de cair 5% no último pregão em um movimento considerado estranho por diversos analistas. 

No radar da Petrobras (PETR3, R$ 11,58, +0,52%; PETR4, R$ 10,50, +0,29%), que também subiu, a abertura de capital da BR Distribuidora poderá acontecer ainda este ano, caso as condições de mercado sejam favoráveis, e os bancos que vão contribuir com a operação ainda estão sendo definidos, disse nesta quinta-feira o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, em evento na sede da empresa no Rio de Janeiro. 

O executivo afirmou ainda que a companhia espera recuperar todos os mais de R$ 6 bilhões que foram identificados por ela como desviados em corrupção, na esteira da Operação Lava Jato.

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Apenas 8 ações das 66 que compõem a carteira teórica do Ibovespa fecharam em queda hoje. 

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 RUMO3 RUMO LOG ON 0,91 -5,21 -47,88 15,72M
 ESTC3 ESTACIO PART ON 14,20 -5,08 -39,33 90,96M
 BRPR3 BR PROPERT ON 11,35 -1,65 +13,12 9,98M
 LREN3 LOJAS RENNER ON 108,89 -1,51 +44,38 106,95M
 MRFG3 MARFRIG ON 5,31 -1,48 -12,95 10,95M

Do lado das perdas, mais uma vez a Lojas Renner (LREN3, R$ 108,89, -1,51%) mostrou resultados sólidos e com forte expansão da margem bruta e Ebitda no segmento de varejo. Mesmo diante da crise econômica afetando fortemente o varejo, a Renner foi uma das poucas a conseguir se salvar no período. A companhia registrou lucro líquido de R$ 158,17 milhões, uma alta de 33% ante o mesmo período de 2014. A média compilada pela Bloomberg com a opinião de 17 analistas indicava um lucro de R$ 147,50 milhões. 

Apesar dos números ainda melhores do que o esperado pelos analistas, as ações da companhia caem hoje. Analistas do Credit Suisse ressaltaram que, embora a empresa continue sendo prudente na exposição de crédito, a piora na inadimplência vista no período poderia ser vista com preocupação pelo mercado. Ainda assim, eles destacaram que a ação continua sendo a melhor opção para quem quer estar exposto ao setor de varejo no Brasil. 

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram :

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1
 ITUB4 ITAUUNIBANCO PN 30,08 +2,80 393,96M
 PETR4 PETROBRAS PN 10,50 +0,29 383,88M
 VALE5 VALE PNA 14,65 +1,67 368,03M
 BRFS3 BRF SA ON 71,87 +4,02 363,75M
 ABEV3 AMBEV S/A ON 19,46 +2,91 255,25M
 CIEL3 CIELO ON 43,73 +0,30 247,91M
 BBDC4 BRADESCO PN 27,28 +0,85 196,58M
 PETR3 PETROBRAS ON 11,58 +0,52 181,68M
 ITSA4 ITAUSA PN 8,40 +3,19 173,47M
 BBAS3 BRASIL ON 22,05 +2,32 151,27M

* – Lote de mil ações 
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
 

Mercado asiático
Na Ásia, o índice das principais ações da região com exceção do Japão avançava nesta sexta-feira, mas ainda caminhava para fechar julho em queda, pressionado pela bolsa chinesa, que marcou o maior recuo mensal em seis anos. O índice MSCI de ações regionais subia 0,29%, mas acumulava perdas de cerca de 5,9% para o mês.

O órgão regulador dos mercados de capitais chineses disse que está investigando o impacto de operações automatizadas no mercado e que restringiu 24 contas em que foram detectadas ofertas anormais por ações ou cancelamentos de ofertas. O índice japonês Nikkei encerrou em alta, levando os ganhos em julho para 1,4% e tornando-se o único mercado asiático, excluindo Austrália e Nova Zelândia, a encerrar o mês em terreno positivo.

Enquanto isso, o dia foi de alta para as bolsas europeias em meio à volatilidade das ações chinesas, resultados corporativos e a queda do preço de commodities. Na Grécia, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, disse nesta sexta-feira que nunca teve a intenção de tirar seu país da zona do euro, mas que realmente pediu ao seu então ministro das Finanças para preparar um plano de contingência, no caso de que o país se visse forçado a dar esse passo.

Na semana que vem, já foi anunciado que a bolsa da Grécia irá abrir depois de um mês fechada por conta do risco de uma fuga de capitais em massa. O país tinha acabado de dar um calote no FMI (Fundo Monetário Internacional) de 1,6 bilhão de euros e iria realizar no fim de semana seguinte um referendo para saber se a população aceitava ou não as medidas de austeridade. Mesmo com a vitória do “não”, os gregos fecharam um acordo com seus credores internacionais e agora se discute um resgate de 86 bilhões de euros para o país.