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Bolsa brasileira cai 4,5% no primeiro trimestre, com pressão de “todos os lados”

Alta dos juros dos Estados Unidos, boom da I.A. e questões políticas internas foram os principais fatores apontados por especialistas

Vitor Azevedo

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A Bolsa brasileira fechou o primeiro trimestre de 2024 com tendência negativa, revertendo o que foi visto no final do ano passado, quando um rali tomou conta dos ativos de risco locais. O Ibovespa, de janeiro a março, caiu 4,53%, indo aos 128.106 pontos, com fatores macro e microeconômicos, internos e externos, pesando sobre o seu desempenho.

No macro, lá fora, janeiro e fevereiro trouxeram surpresas consideradas negativas. Alguns dados dos Estados Unidos, a maior economia do mundo, vieram mais fortes do que o esperado e acabaram por minar a crença de que o Federal Reserve conseguiria cortar os juros já em março – que era a visão predominante até dezembro do ano passado.

A economia mais aquecida do que o esperado por lá aumenta o temor de uma inflação alta por mais tempo e de juros também mais altos.

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“A gente teve lá fora a surpresa negativa da inflação de janeiro e fevereiro nos Estados Unidos. A gente teve dados de economia ainda resilientes. Isso provocou uma alta da volatilidade, uma alta dos treasuries”, explica Fernando Bresciani, Analista de investimentos do AndBank. 

Os treasuries yields para dez anos começaram 2024 sendo negociados a uma taxa de cerca de 3,85% e fecharam março a mais de 4,20%. Com os títulos do tesouro americano pagando mais, investidores tiram dinheiro de ativos de risco, principalmente de países emergentes, para aportar nesses papéis, que são considerados dos mais “seguros do mundo”. 

Fora isso, especialistas apontam outro fator vindo dos Estados Unidos para justificar o recuo do Ibovespa. Apesar de os treasuries terem avançado, as Bolsa americanas fecharam próximas das suas máximas históricas, puxadas, principalmente, pelo “hype da inteligência artificial”.

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O otimismo do mercado com a tecnologia foi o principal motivo para Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq terem subido, respectivamente, 5,62%, 10,01% e 9,11% no trimestre – mas também pode ter minguado investimentos nas Bolsas de emergentes, com investidores vendo que as companhias americanas envolvidas no setor podem oferecer retornos interessantes com menos risco.

Ainda no cenário macro externo, por fim, analistas mencionam que os ativos brasileiros também sofreram com a competição com os japoneses. “Parte do motivo do gringo ter saído do Brasil é a possibilidade de alocação em outros títulos mais interessantes. O Nikkei acho que é o benchmark de ações mais vencedor do trimestre, com percentual de 20% de alta”, fala Enrico Cozzolino, head de análise da Levante. 

Gabriela Sporch, analista da Toro, explica que no último encontro do Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês), a autoridade monetária aplicou uma mudança na trajetória da política monetária expansionista, elevando a taxa de juros.

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“Foi o primeiro passo em direção à normalização da política monetária japonesa e sinaliza que o banco central japonês está confiante que o país saiu do cenário de deflação”, comenta. 

Tudo isso, em grande parte, justifica o fato de até essa quarta-feira (27) investidores estrangeiros terem tirado R$ 23,6 bilhões da Bolsa brasileira em 2024.

Ibovespa sofre localmente no trimestre

Já no macro local, apesar de o Banco Central brasileiro seguir com o seu ciclo de queda dos juros, a última sinalização foi de maior cautela, mudando a sinalização quanto à continuidade dos cortes de juros, de olho nos juros dos EUA e em questões internas, como a fiscal.

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“A instituição trouxe para o singular as falas em relação ao corte de juros. Sem falar da ingerência política, com o primeiro trimestre sendo um período onde discurso político foi muito semelhante ao discurso político do primeiro trimestre do ano passado, surpreendendo negativamente”, expõe Cozzolino, da Levante. 

Nos primeiros três deste ano, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, voltou a atacar, por exemplo, o Banco Central brasileiro, dizendo que o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, “contribui para o atraso da economia brasileira”. Fora isso, o petista também trouxe um tom mais duro com o mercado financeiro. 

Mas os ataques políticos entre janeiro e março fizeram mais barulho no micro do que no macro. O fato de a Petrobras (PETR4) não ter distribuído dividendos extraordinários após o seu resultado do quarto trimestre, por exemplo, teve forte peso no Ibovespa, já que a estatal tem peso relevante no índice.

Algo parecido se deu também com a Vale (VALE3), que também é importante para o Ibovespa.

Investidores, no caso da estatal, temem que a geração de caixa da companhia seja usada novamente para investimentos pouco proveitosos, com o fantasma do petrolão ainda fresco na memória e com a petroleira sinalizando que pretende avançar na transição energética.

Werner Roger, CIO da Trígono Capital, diz que a medida levantou dúvidas no mercado pelo lado do destino do dinheiro e também pelo fato de os dividendos da Petrobras ajudarem no caixa da União – com a questão fiscal ainda levantando temores.

Na Vale, o começo de 2024 foi marcado por tentativas de Lula de emplacar o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, como presidente da companhia. “Há a questão da Vale também. A empresa sofreu e vem sofrendo por conta da queda do minério de ferro, com dúvidas em relação ao crescimento da China. Fora isso, também tivemos a questão de governança, com pressões políticas. Houve uma série de questionamentos em relação à sucessão do CEO”, lembra Werner.