Após Fomc, especialistas veem Federal Reserve cortando juros em março e sustentam otimismo para as Bolsas

Aumento da liquidez e menor temor de recessão são principais fatores apontados por especialistas após decisões monetárias

Vitor Azevedo

Sede do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) (Nathan Howard/Bloomberg)
Sede do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) (Nathan Howard/Bloomberg)

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Após as autoridades do Federal Reserve (Fed) darem sinais de que pretendem cortar as taxas de juros nos Estados Unidos no próximo ano, especialistas vêm recalculando suas projeções e rotas – com um tom de otimismo tomando, claramente, os discursos.

Até ontem, por exemplo, o Fed Watch, do CME Group, trazia que para a reunião de março do ano que vem 45,8% dos entrevistados acreditavam em um corte 25 pontos-base para a fed funds, atualmente no intervalo que vai de 5,25% a 5,5%. Hoje esse número passou para 68,8%. Tudo isso impulsionou os ativos de risco, levando o Ibovespa, por exemplo, a sua máxima histórica nesta quinta-feira (14).

Keith Wade, economista-chefe da Schroders, falou, em programa da casa de análise, que a mudança do discurso do banco central americano deve dar um espaço para altas.

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“O aumento das taxas e rendimentos claramente afetou os ativos de risco, mas à medida que as taxas diminuem, você começa a ver a liquidez retornando e volta a investir em ativos de risco”, falou. “No entanto, muito do debate ainda será sobre quão rapidamente as taxas diminuirão e onde elas se estabilizarão”.

A casa de research, no entanto, enxerga hoje as taxas de juros se estabilizando em cerca de 3,5% e o economista-chefe menciona que investidores não devem esperar algo visto na última década – quando os juros reais ficaram negativos.

“Não olhe para a última década, isso foi uma aberração. O que estamos vendo é talvez as taxas de juros se estabilizando em cerca de 3,5%. Esse é o número que as pessoas precisam ter em mente quando estão pensando a longo prazo”, disse Wade.

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A equipe do Goldman Sachs – que vê o banco central americano fazendo três cortes de 25 pontos-base ao longo de 2024, começando já em março – foi no mesmo caminho ao mencionar que as sinalizações devem trazer mais liquidez ao mercado.

“As condições financeiras facilitaram ainda mais hoje e estamos mais confiantes de que o grande alívio desde outubro se provará duradouro agora que a menor trajetória de inflação torna cortes substanciais de taxas mais prováveis no próximo ano”, disse a equipe do banco, encabeçada por Jan Hatzius.

Eles, contudo, se dizem incertos quanto ao ritmo de cortes, citando que isso dependerá das condições financeiras. O afrouxamento, para o Goldman, apesar de melhorar as projeções para o produto interno bruto (PIB) dos Estados Unidos em 2024, não deve impactar a inflação, com o Fed ainda monitorando a variação dos preços de perto.

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“O Fomc de dezembro foi claramente dovish, levando a um grande fechamento da curva de rendimento dos treasuries e os mercados agora precificam cerca de 90% de chance de um corte na taxa de juros do Fed até março”, acrescenta o time do Bank of America, chefiado por Yuri Seliger. “Cortes potencialmente mais cedo reduzem riscos para a economia e, portanto, devem ser bons para os spreads de investment grade“.

A queda, de acordo com o BofA, prejudica a demanda pelos títulos públicos, já que os investidores tendem a procurar rendimentos mais altos. Com isso, ela estimula as empresas a emitir mais títulos, aproveitando as condições favoráveis do mercado.

“Isso é particularmente relevante agora, pois janeiro é um mês em que normalmente há muitas emissões de títulos”, falam.

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A sinalização pode, inclusive, minimizar as preocupações que algumas casas estavam trazendo quanto à saúde da economia americana. Com as companhias tendo mais acesso a crédito, é capaz que elas tenham algum respiro  – e, dessa forma, recessão não venha.

Na véspera, por exemplo, o Bradesco BBI havia divulgado um relatório falando que não estava convencido de um “pouso suave”.

“Em outras palavras, não esperamos que a economia americana desacelere gradativamente sem sobressaltos nem que escape de uma recessão (que pode ser branda, mas esse é outro assunto). No nosso entendimento, os EUA devem enfrentar um período de recessão em 2024, ainda que por um breve período”, fala.

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Recentemente, Michael Hartnett, estrategista-chefe do Bank of America, havia compartilhado uma visão sombria sobre as perspectivas do mercado de ações para o próximo ano com base na dicotomia entre juros altos e desaquecimento da economia.

Ele destacou que, até agora, as quedas dos rendimentos dos treasuries tem acontecido por conta do recuo dos dados macroeconômicos, com esses números sendo um fator chave para impulsionar os ganhos no mercado de ações durante o trimestre corrente. Contudo, Hartnett alerta que uma redução adicional desses rendimentos poderia sinalizar sérios problemas econômicos, levando a um impacto negativo substancial nas ações, já que as empresas, em um cenário de desaquecimento, também iriam lucrar menos.