Bolsa acelera perdas por “tragédia grega” e já recua mais de 2%; dólar vira para queda

Índice registra perdas depois de mais um fracasso nas negociações da Grécia a um dia do vencimento da sua dívida; plano de investimentos da Petrobras é divulgado e convence investidores

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – O Ibovespa opera em queda nesta segunda-feira (29), seguindo o desempenho das bolsas mundiais. O noticiário hoje é dominado pela iminência de um default da Grécia, que vê vencer amanhã a sua parcela de 1,6 bilhão de euros de dívida com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Os juros dos títulos da dívida grega encostam em 14%, em suas máximas históricas, depois do país decidir implementar um controle de capitais, fechando bancos e restringindo saques a 60 euros por dia. No dia 5 de julho, o país terá referendo para a população decidir se aceita as medidas de austeridade impostas pelos credores. 

Às 15h03 (horário de Brasília), o benchmark da Bolsa brasileira recuava 2,52%, a 52.653 pontos. Enquanto isso, o dólar comercial recua 0,24%, a R$ 3,1199 na compra e a R$ 3,1207. 

Segundo o economista da Elite Corretora, Hersz Ferman, os efeitos imediatos da crise grega são a desvalorização do euro, queda na confiança das empresas e consumidores, redução do nível de risco por parte dos investidores e possível queda da demanda europeia, afetando o preço de commodities e um possível stress por parte dos bancos europeus, que pode afetar o crédito no mundo inteiro. Para ele, isso pode fazer com que o BCE (Banco Central Europeu) decida aumentar o Quantitative Easing. “Creio que os desdobramentos disso, como a saída do país da Zona do Euro, pode trazer mais dúvidas e volatilidade aos mercados”, avalia o economista.

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Ações em destaque
As ações da Petrobras (PETR3, R$ 13,97, -4,64%; PETR4, R$ 12,64, -4,31%)voltavam a operar em queda apesar da divulgação do Plano de Negócios e Gestão 2015-2019. Os investimentos totais foram reduzidos em 37% quando comparados ao Plano anterior. O montante de desinvestimentos em 2015/2016 foi revisado para US$ 15,1 bilhões (sendo 30% na Exploração e Produção, 30% no Abastecimento e 40% no Gás e Energia).

A segunda-feira inicia conturbada nos mercados internacionais e bolsa brasileira na véspera da Grécia declarar calote de suas dívidas, o que pode forçar sua saída da zona do euro. Do lado negativo, destaque para as ações dos bancos Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 33,92, -2,11%), Banco do Brasil (BBAS3, R$ 23,67, -3,39%), Bradesco (BBDC3, R$ 27,51, -2,45%; BBDC4, R$ 28,22, -2,99%) e Santander (SANB11, R$ 16,45, -3,29%). 

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

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Cód. Ativo Cot R$ % Dia
 TIMP3 TIM PART S/A ON 10,07 -5,89
 GOLL4 GOL PN N2 7,39 -4,65
 PETR3 PETROBRAS ON 13,97 -4,64
 BRAP4 BRADESPAR PN 10,88 -4,56
 PETR4 PETROBRAS PN 12,64 -4,31

Enquanto isso, a Vale (VALE3, R$ 19,05, -2,91%; VALE5, R$ 16,24, -2,75%) abriu em baixa em dia de recuo do minério de ferro. O preço de referência do minério de ferro, com entrega imediata no porto de Tianjin caiu 0,3% nesta segunda-feira, para US$ 60,50 por tonelada.

A presidente Dilma Rouseff e o presidente dos EUA, Barack Obama, deverão assinar nesta segunda cerca de 15 acordos de cooperação em uma série de áreas, como previdência, meio ambiente, educação e agricultura. Entre eles está um acordo que prevê a exportação de carne bovina in natura brasileira ao mercado norte-americano – no ano passado, esse comércio foi de apenas US$ 95 mil. A expectativa é de que 14 Estados brasileiros obtenham licença para vender aos norte-americanos. Vale só destacar que as vendas de carne in natura para os EUA têm importância comercial limitada, até por conta da “falta de boi” aqui no mercado doméstico, comentou a XP Investimentos. 

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia
 MRFG3 MARFRIG ON 5,61 +0,18

O presidente da JBS (JBSS3, R$ 15,83, -1,68%), Wesley Batista, comentou neste domingo que a liberação do mercado americano deve ter impacto “espetacular” e será um “marco histórico” para a pecuária brasileira. Na Bolsa, ações da Marfrig (MRFG3, R$ 5,61, +0,18%) também são impactadas pela notícia. 

Grécia no radar
Mesmo a frase do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, afirmando que o “Grexit” nunca irá acontecer, os mercados hoje já começaram o dia em “sell-off”. Na Ásia, o Nikkei teve baixa de 2,88%, Shangai caiu 3,29% e o Hang Seng caiu 2,61%. Já pela Europa, o índice FTSE 100 recua 1,18%, o DAX cai 2,07%, o CAC 40 despenca 2,51%, o FTSE MIB mergulha 3,48%, o IBEX 35 tem perdas de 3,41% e o Stox 600 já cai 1,73%. A situação para os índices norte-americanos é parecida. O Dow Jones cai 0,75% ao passo que o S&P 500 recua 0,74% e o Nasdaq registra perdas de 0,84%. 

“A chance de um acordo até o começo do fim de semana parecia de 50%, mas agora estamos com zero e uma grande dose de incerteza adicional surgiu com o anúncio do referendo grego, o congelamento da linha de liquidez emergencial do BCE (Banco Central Europeu) e o esperado atraso no pagamento ao Fundo Monetário Internacional (FMI) esta semana”, dizem os analistas do Royal Bank of Scotland (RBS) em relatório enviado aos clientes nesta manhã.

O maior risco para diversos especialistas é de contágio para outros países da zona do euro, que podem sair depois da Grécia, como Portugal, Espanha e Itália. O risco, no entanto, é menor do que há alguns anos. “Primeiro porque os bancos europeus já reduziram bastante sua exposição à Grécia. Depois, porque outras economias consideradas vulneráveis do bloco, como Espanha, Portugal e Irlanda, estão caminhando na direção de colocar suas contas em dia e retomar o crescimento”, diz o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria em entrevista à BBC.

Para mercados emergentes como o brasileiro, o risco trazido pela crise da Grécia é o surgimento de uma forte aversão ao risco entre os investidores internacionais, prejudicando principalmente os emergentes. O real, por exemplo, deve se desvalorizar, com uma corrida por ativos mais seguros como os títulos da dívida norte-americana.

O analista da Spinelli, Elad Revi, diz que esta situação gera incertezas em escala global. “Quanto ao que afeta diretamente o Brasil, pensemos que, no caso de, de fato, a Grécia ‘defaultar’, o fluxo de capital mundial se volta diretamente ao que chamamos de porto-seguro, então, Franco Suiço, Ouro, EUA por exemplo. Brasil, infelizmente não está nesse conjunto, logo, sai capital estrangeiro daqui; por essa e outras ‘n’ razões claro. Saindo capital daqui afeta diretamente bolsa e câmbio em um primeiro instante”, explica.

No entanto, ele diz que o risco da Grécia sair da zona do euro efetivamente é complexo demais para ser calculado. Revi lembra que por mais que se monitore a situação do país todos os dias, há sempre uma novidade, como o referendo, que surpreendeu até aos credores.

Apesar de toda a negatividade no cenário de hoje, o analista independente do blog WhatsCall, Flávio Conde, diz que a sua recomendação é não vender. “A gente vai viver uma semana atípica com um mini pânico por causa da Grécia que vai juntar com a corrupção no Brasil. É preciso aguentar”, explica, apostando em correções nas próximas semanas.

Cenário doméstico
Também tinha algum peso por aqui o Relatório Focus, com a mediana das projeções de diversos economistas, casas de análise e instituições financeiras para os principais indicadores macroeconômicos. A previsão para o PIB (Produto Interno Bruto) em 2015 oscilou de uma retração de 1,45% para uma de 1,49%. Já no caso do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que é o medidor oficial de inflação utilizado pelo governo, as projeções são de que haja um avanço de 9% este ano. Para a Selic, as projeções foram elevadas de 14,25% para 14,5%. 

Na agenda de hoje, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, viajou aos Estados Unidos e garante estar bem após internação por conta de uma embolia pulmonar. Quem também está nos EUA é a presidente Dilma Rousseff (PT), que se reúne com o presidente norte-americano, Barack Obama, para assinar uma série de acordos comerciais. Sua viagem chegou a ser adiada na manhã de sábado para que ela se reunisse com ministros depois que eles foram citados na delação premiada do executivo da UTC, Ricardo Pessoa, como envolvidos no escândalo de corrupção descoberto pela Operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal.