BofA vê BC mais agressivo e projeta Selic a 4,75% ao final de 2019

Os economistas do BofA também cortaram a projeção do PIB para alta de 0,7%, ante expectativa anterior de alta de 1,2%; já o Goldman Sachs prevê Selic a 5,5% ao final deste ano

Lara Rizério

Publicidade

SÃO PAULO – “Um mundo totalmente novo”. É assim que a equipe econômica do Bank of America Merrill Lynch, formada por David Beker e Ana Madeira, define o ambiente de taxa de juros mais baixa para o Brasil. 

Os economistas apontam esperar uma postura mais agressiva do Banco Central no processo de flexibilização monetária – e ela deve começar na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do dia 31 de julho. A expectativa é de um corte de 50 pontos-base, para 6% ao ano, no encontro do final do mês, e uma redução de 175 pontos-base até o fim do ano, ante previsão anterior de um corte de 100 pontos-base. Assim, o BofA espera que a Selic chegue a uma nova mínima histórica de 4,75% até o final de 2019. 

A postura mais dovish [inclinada à maior flexibilização monetária] dos Bancos Centrais pelo mundo, o progresso concreto na aprovação da reforma da Previdência, o cenário estrutural benigno da inflação e o crescimento decepcionante são alguns fatores apontados por eles para um corte mais expressivo da Selic. Vale ressaltar que, nesta terça-feira, foi divulgado o IPCA-15, que acelerou menos do que o previsto para 0,09% em julho (ante projeção dos economistas consultados pela Bloomberg de alta de 0,13%), consolidando o cenário de inflação comportada. 

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Os economistas do BofA preveem três cortes da taxa básica de juros em 50 pontos base nos meses de julho, setembro e outubro, para um corte final de 25 pontos-base em dezembro. Já para 2020, a expectativa é de manutenção em 4,75% ao longo de todo o ano. 

O BofA também cortou de forma bastante expressiva as projeções para o crescimento da economia para 2019 e 2020, passando de alta de 1,2% para 0,7% neste ano e cortando de 2,2% para 1,9% no ano que vem, em meio aos dados decepcionantes da atividade. 

Segundo os economistas, o baixo crescimento está  relacionado tanto a fatores exógenos quanto estruturais. De um lado, impactaram negativamente a crise da Argentina, o rompimento da barragem de Brumadinho (MG), quebras de safra, além de menor crescimento global. De outro lado, está o maior desemprego estrutural, o impulso de política monetária mais fraco do que o esperado e a lenta recuperação das condições de crédito que estão dificultando as expectativas de crescimento a longo prazo. 

Continua depois da publicidade

“No entanto, nossa visão de longo prazo continua sendo construtiva para o Brasil, já que reformas estruturais necessárias, como a reforma da Previdência, a reforma tributária e a autonomia dos bancos centrais, estão sendo discutidas no Congresso. Isso deve reduzir a percepção de risco para a sustentabilidade fiscal do Brasil no médio prazo, abrindo caminho para melhores condições financeiras e crescimento sustentável à frente”, afirmam. 

Assim, a economia deve ganhar impulso à medida que a agenda de reformas continua avançando no Congresso, mas a recuperação do crescimento será gradual, uma vez que as reformas estruturais levam tempo para impactar a economia.

Beker e Ana também atualizaram as projeções para o câmbio, vendo o dólar  em R$ 3,70 em 2019 permanecendo assim em 2020 – ante R$ 3,80 e R$ 3,90 anteriormente, respectivamente. “O avanço da reforma da Previdência permitiu que a taxa de câmbio superasse importantes níveis, mas assunto está bastante precificado neste momento; avanços substanciais em outras iniciativas seriam necessários para que o dólar caísse mais”, avaliam os economistas. 

Goldman Sachs: Selic a 5,5% em 2019

Em relatório em que comentou o resultado do IPCA-15, o Goldman Sachs também apontou esperar que o ciclo de corte de juros comece já na próxima reunião em meio ao avanço da Previdência e o ambiente de maior flexibilização monetária dos BCs mundiais, mas não vê uma queda tão forte dos juros no Brasil até o fim do ano. 

A expectativa é de corte de 100 pontos-base até dezembro, com a Selic atingindo 5,5% em dezembro e permanecendo neste patamar ao longo de 2020, com cortes seguidos de 25 pontos-base nas reuniões de julho, setembro, outubro e dezembro. Contudo, Alberto Ramos, economista para América Latina do banco, não descarta um corte mais forte, de 50 pontos-base, na próxima reunião, principalmente com o crescimento mais fraco e o cenário de inflação controlada. 

Contudo, na avaliação do Goldman, ainda há limites em quanto o BC brasileiro poderá cortar os juros. “Não só a política atual já é acomodatícia, mas as condições financeiras diminuíram nas últimas semanas com a recuperação dos preços dos ativos brasileiros (impulsionadas por um cenário externo mais benigno e, no lado doméstico, melhorando as perspectivas de aprovação de reformas fundamentais), além do ‘carry trade’ entre real e dólar ser bastante baixo”.

Assim, aponta o economista, uma flexibilização mais agressiva poderia ser contraproducente, pois não só comprometeria o alcance das metas de inflação mais baixas em 2020-2021 (4,00% e 3,75%, respectivamente), mas também poderia tornar o real mais volátil com o menor carry trade. 

O carry trade é um tipo de aplicação financeira em que o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros em um país e o aplica em outra moeda, onde as taxas de juros são maiores.  Basicamente, o que ocorre é que o investidor estrangeiro até então estava tomando dinheiro emprestado a juros baixos em países europeus ou nos EUA ou Japão, para depois aplicar este mesmo capital em países de juros mais altos – como o Brasil. E então ele ganha nesta diferença de juros. Contudo, os juros no Brasil estão registrando uma forte tendência de queda, o que pode diminuir a atratividade para este tipo de aplicação no País. 

Aproveite as oportunidades: abra uma conta de investimentos na XP – é de graça!

 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.