BNDES deve acelerar venda de ações – gestores veem interesse de estrangeiros por ativos

O BNDES informou que, até o fim do ano, terá um "plano de desinvestimento para as participações da BNDESPar", a empresa de participações do banco, com o objetivo de "acelerar as vendas"

Estadão Conteúdo

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A esperada aceleração nas vendas de participações acionárias detidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), uma das metas do novo presidente da instituição, Gustavo Montezano, deverá dar a tônica das ofertas de ações na Bolsa até o fim do ano. Considerando as operações de julho, as ofertas no mercado brasileiro somam R$ 57,4 bilhões este ano.

Com uma ação mais ativa do BNDES, cuja carteira de ações está na casa de R$ 100 bilhões, o total de ofertas de 2019 poderá superar 2007, auge da corrida das empresas para a Bolsa, com cerca de R$ 70 bilhões em 76 operações – o recorde de ofertas é de 2010, marcado pela megacapitalização da Petrobras (PETR3;PETR4), que distorce os dados.

O BNDES informou que, até o fim do ano, terá um “plano de desinvestimento para as participações da BNDESPar”, a empresa de participações do banco, com o objetivo de “acelerar as vendas”. “Não há, contudo, uma meta para este ou para o próximo ano, já que o processo vai depender da dinâmica do mercado”, informou o banco, em nota.

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Desde 2017, o BNDES vem acelerando os desinvestimentos, com bilhões vendidos. Apenas no primeiro trimestre deste ano, o BNDES levantou R$ 13,3 bilhões, mais do que o total vendido em 2018, que foi de R$ 11,6 bilhões – os dados do segundo trimestre estão para ser divulgados.

Gestores de ativos e executivos de bancos de investimento ouvidos pelo Estadão/Broadcast veem demanda no mercado para aumentar esse ritmo, mas fontes que já passaram pela cúpula do banco ponderam que, na pressa, existe o risco de se fazer maus negócios.

A maioria das vendas foi feita aos poucos, no dia a dia dos pregões da Bolsa. Em alguns casos, o BNDES participou de complexas negociações societárias, como na aquisição da Fibria pela Suzano, na qual recebeu R$ 8 bilhões.

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Acelerar esse processo “normalmente” passa por recorrer a ofertas públicas, disse Eliane Lustosa, que está de saída do cargo de diretora responsável pela BNDESPar. Ao fazer um balanço de seu trabalho, desde 2016, a executiva destacou a definição de uma política de investimentos para a área de mercado de capitais, incluindo a definição de regras de avaliação do valor de empresas e de parâmetros para a contratação de bancos de investimento.

Lançamentos. Segundo executivos de bancos de investimento, o BNDES deverá começar a contratar os serviços para lançar ofertas até o fim de agosto. O modelo são as operações da Caixa, que vendeu R$ 7,3 bilhões em ações da Petrobras em junho, e da própria petroleira, que levantou R$ 9,6 bilhões em julho (se confirmado o lote suplementar), com a venda de papéis da BR Distribuidora. André Laloni, que era vice-presidente financeiro da Caixa e tocou desinvestimentos por lá, foi indicado semana passada como diretor de Participações, Mercado de Capitais e Crédito Indireto do BNDES.

Ofertas de ações da Petrobras, cuja participação vale R$ 53,4 bilhões (conforme o balanço do primeiro trimestre) e da Suzano são esperadas ainda em 2019.

O mesmo ocorre com a fatia de 21,3% no frigorífico JBS, cujos papéis acumulam alta de cerca de 120% este ano.

No balanço do primeiro trimestre, a fatia do BNDES no JBS estava avaliada em R$ 9,3 bilhões, mas levando em conta as cotações dos últimos pregões, o valor vai para a casa de R$ 14 bilhões.

Gestores veem interesse de estrangeiros 

Os papéis que o BNDES pretende colocar no mercado vão além da Petrobras e da JBS. Também estão no radar as participações na Vale (R$ 16,531 bilhões), na Copel (R$ 2,233 bilhões) e na Cemig (R$ 1,267 bilhão). A fatia de R$ 9,3 bilhões na Eletrobras deverá ficar mais para a frente, em função do desenho da privatização da estatal. “Gestores mais específicos têm capital para absorver esses papéis”, disse Sérgio Machado, sócio-gestor da SF2 Investimentos.

Machado, assim como João Paulo Reis, da gestora carioca Venture Investimentos, vê apetite de investidores estrangeiros. O mercado nacional pode ficar atrativo no cenário global, já que o Fed, o banco central dos Estados Unidos, cortou os juros na quarta-feira e a economia brasileira tende a entrar em aceleração num momento em que os demais países veem o crescimento perder fôlego. Além disso, o avanço da reforma da Previdência, a inflação baixa, os juros em queda e uma agenda de incentivo à economia levam mais investidores brasileiros para as ações.

“O período de alta pode ser até melhor do que o de 2006 e 2007”, disse Reis, lembrando os anos de boom na Bolsa.

Por outro lado, segundo três executivos que já acompanharam a gestão da carteira de participações do BNDES, a estratégia dos técnicos do banco de fomento, sempre com foco no retorno de longo prazo, costuma ser cautelosa ao avaliar os preços mínimos de venda de ações. Há um ano, durante o período eleitoral, quando as cotações das ações preferenciais da Petrobras chegaram abaixo de R$ 20,00 – ante o nível de R$ 26,00 dos últimos pregões -, os gestores do BNDES chegaram a suspender as vendas, disse uma das fontes, sob a condição do anonimato.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.