Blue chips amenizam baixa do Ibovespa, que fecha em queda de 0,48%

Aprovação de MPs do ajuste fiscal no Senado reduzem pessimismo dos investidores, mas não evita que índice acompanhe perdas do exterior; Petrobras se salva de queda, Ambev zera enquanto bancos e Vale amenizam queda da manhã

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Foi uma derrota, mas com um sabor não tão amargo assim. Após registrar fortes perdas de 1,61% na mínima do dia ao fim da manhã, o Ibovespa se recuperou ao longo da tarde e encerrou o pregão desta quinta-feira (28) com queda de 0,48%, a 53.976 pontos. Contribuíram para a melhora no desempenho do índice a virada das ações da Petrobras (PETR3, R$ 13,61, +0,67%; PETR4, R$ 12,67, +0,96%) e a amenizada nas perdas dos bancos, Vale (VALE3, R$ 20,54, -1,96; VALE5, R$ 17,20, -2,16%) e Ambev (ABEV3, R$ 18,48, +0,05%). O giro financeiro foi de R$ 5,37 bilhões. Acompanhando o pessimismo do mercado e em sua tendência natural em dias negativos para a Bolsa, o dólar fechou em alta de 0,59%, a R$ 3,1638 na venda.

No cenário doméstico, ganhou destaque a aprovação das Medidas Provisórias 664/14 e 668/15, peças fundamentais para o ajuste fiscal proposto pelo governo. A primeira MP diz respeito a alterações em direitos previdenciários, enquanto a segunda eleva impostos sobre produtos importados, contribuindo nas arrecadações Federais e protegendo companhias nacionais. No entanto, uma proposta alternativa ao Fator Previdenciário, que veio como emenda parlamentar à MP 668, ainda preocupa o ministro Joaquim Levy e deve ser vetada pela presidente Dilma Rousseff.

Também nessa sessão, destaque para o resultado primário do governo central, que registrou superávit 50,9% menor em relação a igual período de 2014, somando R$ 14,592 bilhões. O valor corresponde a 0,78% do Produto Interno Bruto (PIB) e é o menor para o período desde 2001. De acordo com números divulgados nesta quinta-feira (28), pelo Tesouro, o déficit acumulado em 12 meses pelo governo central é de R$ 35,4 bilhões (0,63% do PIB).

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O valor está ainda muito distante da meta do governo central prevista para 2015, de R$ 55,2 bilhões. De janeiro a abril, as receitas somaram R$ 432,192, crescimento nominal de 3,3% e queda real de 3,3%. Já as despesas totalizaram R$ 89,111 bilhões, avanço real de 3,7% e nominal de 12,2%. Em abril, o governo registrou superávit primário de R$ 10,085 bilhões.

Para o analista da Spinelli, Elad Revi, parte do pessimismo do investidor, que se refletiu no movimento do Ibovespa desta quinta, tem a ver com as expectativas negativas em relação ao desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro do primeiro trimestre de 2015, que será divulgado amanhã. Segundo ele, há preocupações de que o número venha ruim que se somam às incertezas com relação aos efeitos futuros das medidas de ajuste fiscal. “Esta foi uma semana boa para o ajuste com a aprovação das medidas, mas não sabemos quanto tempo vai levar para elas surtirem efeito”, explica. Uma retração muito forte na economia pode afetar o ajuste fiscal na medida em que reduz o nível de arrecadação e pode ampliar a pressão pelo aumento do número de desempregados.

Ainda no quadro político, segundo informações do jornal Valor Econômico de hoje, dirigentes petistas teriam dito que se Dilma tiver que decidir entre o Levy e o Nelson, “sem dúvida, sai o Nelson”. A informação reduz um pouco da pressão do cenário político com rumores de discórdia entre Levy e a presidente.

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Enquanto isso, lá fora, o dia também foi negativo com preocupações acerca de possíveis medidas do governo da China contra o rali da bolsa no país – nesta sessão, o principal índice acionário de Xangai registrou seu pior desempenho desde janeiro, ao recuar 6,5% -, além de tensões nas negociações na Grécia e fala de John Williams do Federal Reserve de San Francisco de que os Estados Unidos devem elevar os juros ainda este ano. Na maior economia do mundo, os três principais índices acionários caminham para perdas entre 0,1% e 0,2%.

Destaques do pregão
Em dia de volatilidade com noticiário confuso, as ações da Petrobras fecharam do lado positivo do Ibovespa, em meio a informações de que a estatal pretende fazer o IPO (Oferta Pública Inicial) da BR Distribuidora já no segundo semestre. A estatal estuda combinar uma oferta primária com uma secundária, oferecendo uma parte do capital da BR Distribuidora existente junto com um aumento de capital, que assim teria uma injeção de recursos no seu caixa.

Ainda no radar da companhia, o BTG Pactual cortou, em relatório, a estimativa de crescimento da produção entre 2016 e 2018. A curva de crescimento passou de leve queda de 0,2% em 2016, alta de 8,2% em 2017 e 16% em 2018 para queda de 0,9% em 2016, alta de 6,3% em 2017 e alta de 15,9% em 2018.

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Já do lado negativo, as ações da Vale e de siderúrgicas fecharam em queda, com uma leve queda do preço de minério de ferro na China e em meio às expectativas de desinvestimentos da mineradora no Canadá, segundo informações do jornal Globe and Mail. De acordo com o analista da WinTrade, Bruno Gonçalves, a mineradora vive um momento de realização, visto que os últimos pregões foram de alta e a forte queda da bolsa de Xangai está pesando. Já Pedro Galdi, analista independente do blog Whatscall, disse que o desinvestimento da empresa no Canadá já estava no radar, mas que a visão de que algo não está bem na China voltou ao radar, o que impacta commodities e mineradoras.

Ainda na ponta de baixo, os papéis da Eletrobras (ELET3, R$ 6,68, -4,16%; ELET6, R$ 9,85, -1,50%) despencaram apesar de novidades após a aplicação de multa à União pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) por conflito de interesse em assembleia na estatal. Segundo informações do Valor, um grupo de acionistas minoritários da estatal estuda ir à Justiça para pedir indenizações ou até mesmo anulação da assembleia da Eletrobras realizada em 2012, quando foi aprovada a renovação antecipada de concessões.

As ações dos bancos voltaram a cair após a alta da véspera. Ontem, os bancos foram impulsionados pelos dados de crédito do Banco Central referentes ao mês de abril, que mostrou elevação da inadimplência e desaceleração do crédito, mas aumento do spread, que poderia promover um suporte para o lucro líquido das instituições.

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Mas, ainda assim, a fraca atividade econômica continua pressionando o crescimento do crédito e a qualidade dos ativos, que seguem mostrando uma fraca tendência e contínuos desafios pela frente, comentou o Detsche Bank, em relatório nesta quarta-feira. Diante disso, os papéis dos grandes bancos voltaram a cair hoje, na sétima baixa em nove pregões, sendo eles: Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 35,20, -1,18%), Bradesco (BBDC3, R$ 27,18, -0,84%BBDC4, R$ 28,99, -0,62%), Banco do Brasil (BBAS3, R$ 23,40, -2,26%) e Santander (SANB11, R$ 16,18, -0,92%). 

No noticiário do setor, o Barclays revisou a sua recomendação para as ações do setor de bancos e elevou de underweight (exposição abaixo da média) para equalweight (exposição em linha com a média) o Bradesco, com um preço-alvo de R$ 32,00. Já o Santander Brasil foi rebaixado de equalweight para underweight, com preço-alvo de R$ 15,30. 

Enquanto isso, os ativos da CSN (CSNA3, R$ 6,57, -6,81%) lideraram as perdas do pregão. Os papéis CSNA3 tiveram seu preço-alvo cortado em 27% pelo BTG Pactual, para R$ 5,00 por ação. A recomendação também foi revisada para baixo, de neutra para venda. Com isso, as ações da companhia registram queda superior a 2%.

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As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 CSNA3 SID NACIONAL ON 6,57 -6,81 +27,13 39,72M
 USIM5 USIMINAS PNA 5,14 -4,99 +2,35 44,09M
 ELET3 ELETROBRAS ON 6,68 -4,16 +15,17 39,55M
 CSAN3 COSAN ON 25,94 -3,35 -9,14 28,26M
 HGTX3 CIA HERING ON EJ 12,76 -3,28 -35,89 22,73M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 CCRO3 CCR SA ON 15,85 +2,92 +3,21 66,14M
 GOLL4 GOL PN N2 7,84 +2,75 -48,35 10,03M
 QUAL3 QUALICORP ON 23,65 +2,60 -13,44 23,65M
 EMBR3 EMBRAER ON 24,58 +2,16 +0,83 62,69M
 CYRE3 CYRELA REALT ON 10,78 +1,99 +0,83 15,74M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram :

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 PETR4 PETROBRAS PN 12,67 +0,96 730,07M 665,14M 48.216 
 VALE5 VALE PNA 17,20 -2,16 334,53M 522,56M 28.358 
 ITUB4 ITAUUNIBANCO PN 35,20 -1,18 315,22M 495,35M 22.087 
 BBDC4 BRADESCO PN 28,99 -0,62 249,86M 269,29M 19.184 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 18,48 +0,05 161,95M 182,62M 18.035 
 ITSA4 ITAUSA PN 9,12 -0,55 155,02M 143,08M 36.239 
 FIBR3 FIBRIA ON 44,09 -1,83 141,09M 82,26M 8.351 
 PETR3 PETROBRAS ON 13,61 +0,67 131,71M 246,00M 18.282 
 BVMF3 BMFBOVESPA ON ED 11,62 -0,77 115,31M 136,52M 15.430 
 BBAS3 BRASIL ON ED 23,40 -2,26 105,37M 147,21M 12.849 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
 

Ásia e Europa
O ocidente acordou nessa quinta-feira (28) de olho nas fortes quedas do mercado acionário chinês, com o índice Shanghai Composite Index fechando com perdas acumuladas na casa dos 6,5% – seu maior recuo em quatro meses, quando registrou perdas de 7,7% (19 de janeiro), após o governo do gigante asiático alterar algumas regras de comércio. Desta forma, o benchmark encerrou a sessão aos 4.620 pontos.

De acordo com agências internacionais, o movimento desta sessão foi atribuído aos registros de que o China Central Huijin Investment, unidade de fundo soberano do país, reduziu suas participação nos maiores bancos estatais pela primeira vez. O noticiário abalou a confiança dos investidores e estimulou um forte movimento de venda de papéis, sobretudo no setor bancário.

Acompanhando o movimento de maior pessimismo do mercado com relação à China, o índice MSCI dos países emergentes registrou queda pelo 4º pregão consecutivo. No sentido oposto do mercado chinês, o índice japonês Nikkei 225 encerrou o pregão com ganhos de 0,38%, aos 20.551 pontos, em a décima alta consecutiva, a mais longa sequência de ganhos desde fevereiro de 1988 e a máxima de fechamento em 15 anos, impulsionado pelo iene mais fraco.

Na Europa, o dia também foi negativo, com os problemas envolvendo a dívida da Grécia, com França, Alemanha e o FMI (Fundo Monetário Internacional) advertindo o país, e o resultado das eleições locais na Espanha ofuscando o avanço de papéis de companhias áereas. O índice FTSEurofirst 300 recuou 0,84%, a 1.602 pontos, mas ainda acumula alta de cerca de 20 por cento desde o início de 2015. 

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.