Bloqueio de Hong Kong oferece lição a países em combate ao coronavírus

China poderia ter reduzido o número de casos em até 95% se as autoridades tivessem implementado intervenções não farmacêuticas

Bloomberg

Hong Kong

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(Bloomberg) — Enquanto o mundo tenta conter a rápida propagação da Covid-19, as medidas para controlar o surto parecem funcionar em Hong Kong, onde a lembrança de um vírus semelhante em 2003 provocou protestos desde o início.

O governo de Hong Kong implementou rapidamente medidas restritivas de “distanciamento social”, que agora são debatidas em todo o mundo, em parte devido à pressão de profissionais de saúde para fechar a fronteira com a China no início do surto. As medidas incluíram o fechamento de escolas e escritórios do governo, o cancelamento de grandes eventos e a ordem para que funcionários públicos trabalhassem de casa, decisão seguida por muitas empresas logo depois.

A experiência de Hong Kong com a Síndrome Respiratória Aguda Grave, ou SARS na sigla em inglês – que matou quase 300 pessoas e infectou mais de 1.700, a maioria fora da China continental -, impactou a psicologia da cidade, disse Nicholas Thomas, professor associado da Universidade da Cidade de Hong Kong. Muitos residentes usavam máscaras e evitavam reuniões desde o início do surto, uma prática que continua mais de seis semanas depois.

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“Assim que o vírus começou a se espalhar e as pessoas leram ‘China’ e ‘coronavírus‘, veio a lembrança”, disse Thomas. “A parte social é uma das razões pelas quais conseguimos manter os casos de vírus tão baixos, porque, de alguma forma, a população conseguiu fazer o governo tomar medidas.”

Nos últimos dias, a propagação do vírus nos Estados Unidos – destacada pela decisão da Associação Nacional de Basquete de suspender a temporada – despertou a necessidade de evitar grandes reuniões, mesmo com o argumento de algumas autoridades do governo de que não há motivo para pânico. Casos recentes de pessoas famosas, como o ator Tom Hanks, o ministro de Assuntos Internos da Austrália e a esposa do primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, também destacam a necessidade de tomar medidas precoces.

A maioria das restrições de Hong Kong foi implementada no fim de janeiro, quando a cidade tinha apenas alguns casos. Na segunda-feira, havia 139 casos no total e apenas quatro mortes. Por outro lado, a Coreia do Sul só começou a tomar medidas mais drásticas em 23 de fevereiro, quando centenas de pessoas já haviam sido infectadas. Agora, mais de 8.100 pessoas estão infectadas, com 75 mortes.

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A cidade de Nova York também decidiu agir muito mais tarde em comparação. No domingo à noite, o prefeito Bill de Blasio anunciou que as escolas públicas serão fechadas a partir de 16 de março. No fim de semana, a cidade registrava 329 casos confirmados e cinco mortes.

Para Hong Kong, o relativo sucesso pode ser boa notícia em 12 meses devastadores para a economia. O vírus restringe ainda mais o crescimento depois que violentos protestos pró-democracia fecharam grandes partes da cidade no segundo semestre de 2019, o que fez a popularidade da chefe do Executivo, Carrie Lam, indicada por Pequim, despencar.

A resposta eficaz ao vírus não ajudou muito. Lam inicialmente resistiu à pressão pública para fechar completamente a fronteira com a China, cedendo apenas quando milhares de profissionais de saúde iniciaram uma greve para pressionar autoridades e o sistema de saúde. O índice de aprovação de Lam subiu para 13% em 3 de março, contra apenas 9% em 27 de fevereiro, de acordo com a mais recente pesquisa divulgada pelo Programa de Opinião Pública de Hong Kong.

Intervenção precoce

A adoção de medidas logo no início de surtos pode ter efeitos drásticos. Pesquisa sobre a pandemia de gripe de 1918 nos EUA mostrou que cidades que implementaram várias “intervenções não farmacêuticas”, como o fechamento de escolas e igrejas, registraram taxas de mortalidade até 50% mais baixas – e surtos menos graves – do que aquelas que não o fizeram.

Pesquisadores médicos estimam que a China poderia ter reduzido o número de casos confirmados de Covid-19 em até 95% se as autoridades tivessem implementado intervenções não farmacêuticas – como contenção, isolamento e distanciamento social – três semanas antes do ocorrido. Mesmo se tivessem sido implementadas uma semana antes, o país teria reduzido os casos em 66%, enquanto o número poderia ter aumentado 18 vezes se essas medidas tivessem sido adotadas três semanas depois, de acordo com o estudo divulgado este mês e financiado em parte pela Fundação Bill & Melinda Gates.

As medidas de distanciamento social podem ser uma parte crítica para conter o vírus depois de governos já terem implementado outras medidas de contenção, disse Benjamin Cowling, professor e codiretor do Centro Colaborador da OMS para Epidemiologia e Controle de Doenças Infecciosas na Escola de Saúde Pública da Universidade de Hong Kong.

Os governos precisam realizar testes para identificar e colocar em quarentena as pessoas infectadas e aquelas com quem tiveram contato, além de reduzir os casos importados, disse Cowling. Depois que um surto ocorre e se torna mais difícil rastrear casos suspeitos, medidas de distanciamento social como fechar escolas, trabalhar em casa e evitar voluntariamente áreas com muitas pessoas são fundamentais, disse.

“O distanciamento social se torna mais importante se houver transmissão sustentada na comunidade e queremos desacelerá-la, porque, nesse momento, as duas primeiras medidas não serão tão eficazes”, explicou. “E espero que EUA, Europa e outros países possam aprender com Hong Kong e Cingapura como aplicar o distanciamento social e como a população pode se conscientizar.”

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