O que Gustavo Franco pensa sobre bitcoin (e por que o ex-BC acha que ela subiu tanto)

Em entrevista ao InfoMoney, economista apontou que a bitcoin não é uma moeda e deve ser vista como uma "commodity eletrônica"

Lara Rizério

29/05/2008 FINANCAS Personagem: Gustavo Franco, socio da Rio Bravo e da Unik Detalhe: Unik, empresa de cartoes da Rio Bravo, recebe investimentos do BID e do Banco Mundial Reporter: Altamiro Silva Junior. Local: Sao Paulo, SP Foto: Gustavo Lourencao/VALOR cultura

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SÃO PAULO – A bitcoin ganhou proeminência em meio à sua disparada recente, mas ainda é vista com muito ceticismo por muitos agentes de mercado. Um dos sinais emblemáticos nesse sentido na última semana foi a fala de Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia em 2001 e ex-economista-chefe do Banco Mundial, que não mede as palavras ao dizer que a moeda digital deveria ser proibida.

Contudo, não são todos os economistas que veem com temor o surgimento dos bitcoins. Esse é o caso do ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Rio Bravo, Gustavo Franco.

Em entrevista ao InfoMoney, ele destacou a sua visão sobre a bitcoin e as mais de “cem criaturas semelhantes” a ela. De acordo com o economista, a bitcoin não é uma moeda e deve ser vista como uma “commodity eletrônica”.

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De acordo com ele, ela é um tipo diferente de commodity relacionado a algoritmos – e isso também explica porque vem subindo de forma tão abrupta, já chegando a ultrapassar os US$ 11 mil. 

Ao comparar com uma commodity mineral, Franco aponta que, enquanto a mineração faz crescer a oferta de tungstênio, de ouro ou minério de ferro, a indústria gera um crescimento na demanda por ela. “No caso da bitcoin, pode-se dizer que o equivalente à demanda industrial é a demanda de anonimato que existe no sistema financeiro mundial”, afirma.

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Isso porque, enquanto os estados nacionais vêm diminuindo o espaço para anonimato através de maiores regulações (a Suíça, por exemplo, acabou com o sigilo bancário em 2017 ), aumenta a demanda pelas “commodities eletrônicas”. 

“O grande atrativo é exatamente anonimato. Então, pode ser que seja isso sim que  esteja impulsionando o crescimento do valor do bitcoin. A demanda do anonimato cresce e em um número maior que o algoritmo prevê que cresça a oferta de bitcoin, o que leva a aumento do valor. Ou seja, o anonimato está ficando cada vez mais caro. Economicamente falando, isso faz muito sentido. Se é mais difícil e é algo que o bitcoin oferece, vai ficar mais caro”, avalia. Contudo, muito se contesta sobre se realmente o bitcoin garante o anonimato, já que pode ser possível rastrear as trocas feitas com moeda virtual – contudo, boa parte do interesse vem por essa “promessa”. 

Ao comentar sobre o papel das autarquias nesse processo, Franco ressalta que tanto a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) quanto a SEC (Securities and Exchange Commission) tratam as ofertas dessas commodities eletrônicas do mesmo jeito que trata a oferta pública de qualquer companhia.

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“Tem que registrar,  explicar o que é, como funciona, informar ao investidor os riscos. Seria estranho imaginar que elas fossem isentas disso. Claro que tem que ter um ‘disclosure’ disso e esse é o papel das autoridades que regulam o mercado. É apontar: essa inovação é muito bem vinda, mas a transparência tem que existir, é do jogo”, afirma o economista. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.