A menos que você esteja submerso há mais de um ano, provavelmente sabe que vender ativos de risco como ações dos Estados Unidos e Bitcoin (BTC) e comprar o dólar americano contra o iene japonês foram algumas das apostas macro mais populares desde o início de 2022.
Os investidores têm reavaliado seu compromisso com as chamadas negociações hawkish (de manutenção das taxas elevadas) do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) nas últimas semanas. Na prática, eles estão se voltando para ativos de risco, exceto o BTC, graças à narrativa de pico da inflação e por causa das insinuações do banco central sobre uma moderação no aperto de liquidez a partir de dezembro.
O S&P 500, índice de ações de referência de Wall Street, subiu 16% em menos de dois meses, sendo negociado acima da média móvel de 200 dias pela primeira vez desde o início de abril. O par USD/JPY (dólar contra iene), muitas vezes chamado de aposta turbo na política do Fed e nas taxas dos EUA, caiu 11% na sua média móvel de 200 dias. O dollar index, que acompanha o valor do dólar em relação às principais moedas fiduciárias, também caiu abaixo dessa métrica.
Os rendimentos dos títulos do governo dos EUA desabaram em relação às máximos anuais, validando a narrativa de pico da inflação e o renascimento do risco resultante nos mercados de ações e câmbio.
O Bitcoin, no entanto, parece ter se separado dos desenvolvimentos macroeconômicos e dos mercados tradicionais. No momento da publicação deste texto, a criptomoeda líder em valor de mercado era negociada US$ 17.340 com um desconto de 22% em relação à média móvel de 200 dias.
Isso mostra que a insolvência da exchange FTX não poderia ter ocorrido em um momento pior para o ativo digital e para o mercado mais amplo de criptoativos.
“Historicamente, as ações (dos EUA) e as criptomoedas têm uma forte relação entre si. Sem a implosão da FTX, o Bitcoin poderia estar sendo negociado a US$ 29.000 até agora – em vez de US$ 17.200 (ou 69% a mais)”, disse Markus Thielen, chefe de pesquisa e estratégia no provedor de serviços cripto Matrixport.
“Se o mercado puder sair da (crise gerada) pela FTX, esses preços ainda poderão ser alcançados”, disse Thielen.
O Bitcoin caiu para a sua mínima de dois anos – US$ 15.480 – no mês passado. O dollar index oscilou no final de setembro, tendo subido cerca de 20% nos primeiros nove meses do ano. Após a reviravolta de baixa no dólar, o S&P 500 atingiu o fundo do poço em meados de outubro.
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Diminuindo o impacto da FTX
A atividade on-chain do Bitcoin sugere que o pior da insolvência da FTX pode ter ficado para trás. A criptomoeda líder subiu 4% na semana passada, embora o proeminente credor de criptomoedas BlockFi tenha entrado com pedido de recuperação judicial.
“Há sinais de que o excesso de más notícias nas últimas semanas está tendo um menor impacto no desempenho das criptomoedas, mesmo que todo o contexto da incerteza não tenha sido completamente precificado”, disse a Coinbase em sua nota semanal, chamando a atenção para a recente moderação do sentimento negativo no mercado de opções.
A “distorção de call e put (compra e venda)” de um mês do Bitcoin saltou de -29% para -9% em 13 de novembro. Essa métrica mede o prêmio que os investidores pagam por calls de out-of-the-money (OTM) versus puts de OTM. O OTM é utilizado para caracterizar opções em que as ações correspondentes estão sendo negociadas no mercado à vista por um preço menor do que o exercício da opção.
As opções de venda oferecem proteção contra quedas de preços, enquanto as opções de compra oferecem seguro contra corridas de alta.
A recuperação sugere que o auge do ciclo do medo desapareceu. Portanto, os investidores em cripto agora podem se concentrar no cenário macro aprimorado e na redefinição de risco nos mercados tradicionais.
Uma questão é se a mais recente recuperação do risco nos mercados tradicionais será duradoura, uma vez que a economia dos EUA está caminhando para uma recessão. A situação identificada por sucessivas contrações trimestrais da taxa de crescimento não é propícia aos ativos de risco.
No entanto, uma recessão pode se tornar uma bênção disfarçada, de acordo com uma análise do macro trader Geo Chen.
“O Fed está apertando demais em uma recessão que provavelmente já começou, e isso provavelmente resultará em uma tendência de baixa na inflação que será mais persistente do que muitos esperam”, disse Chen em um post na plataforma Substack publicado em 22 de novembro.
“O maior impulsionador dos preços dos ativos este ano foram os rendimentos e a inflação. Portanto, uma tendência de queda nos rendimentos pode gerar um vento favorável para os preços dos ativos e fazer com que o próximo ano pareça a imagem espelhada deste ano”, acrescentou Chen.