Bitcoin registra Golden Cross e anima investidores, mas especialistas alertam para falta de peso no preço; entenda

Indicador técnico injeta otimismo no mercado, mas analistas alertam para caráter único do Bitcoin na comparação com o mercado de ações.

Paulo Barros

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SÃO PAULO – Investidores de Bitcoin (BTC) ficaram atentos a um possível sinal de alta da criptomoeda na última quarta-feira (15) após o registro do Golden Cross (cruz de ouro), um indicador técnico conhecido entre analistas que apontaria para um cenário otimista de início ou, no caso atual, para a continuação de uma tendência de alta. No entanto, especialistas ouvidos pelo InfoMoney minimizam sua importância e alertam traders menos experientes.

Inverso do Death Cross (cruz da morte), o Golden Cross acontece quando a linha de uma média móvel de curto prazo cruza de baixo para cima a linha de uma média móvel de longo prazo. A mais clássica delas, que envolve as médias móveis aritméticas de 50 e 200 dias, acaba de ser registrada após nova alta na cotação do ativo, que voltou a ser negociado acima de US$ 48.000.

A última vez que um Golden Cross foi registrado no gráfico diário do BTC foi em maio de 2020, pouco depois da forte queda durante o crash dos mercados mundiais por conta da explosão da pandemia de Covid-19 – que, por sua vez, havia sido precedido por um Death Cross, que ocorre quando a média móvel de 50 dias cai abaixo da média de 200 dias.

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Desde então, o preço do Bitcoin disparou de pouco menos de US$ 10.000 e iniciou um movimento de alta que resultou em uma valorização de 100% em cerca de sete meses, e de mais de 500% em 11 meses, quando a criptomoeda atingiu a máxima histórica pouco abaixo de US$ 65.000 em abril de 2021.

A cruz da morte mais recente foi registrada em junho deste ano, já após o início de uma forte correção de preço. Ainda assim, o evento marcou uma desvalorização de aproximadamente 20% adicionais no preço do Bitcoin, que chegou à mínima anual próxima de US$ 28.000 em julho.

Historicamente, no entanto, o Golden Cross nem sempre precedeu aumentos de preço no curto ou médio prazos, servindo por vezes de armadilha para traders que apostaram no indicador como único sinal para comprar e esperar o lucro. Um desses casos ocorreu ano passado, quando o Golden Cross que surgiu no gráfico em fevereiro foi invalidada completamente pela crise da Covid.

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Para alguns analistas, o indicador deve ser acompanhado de outros dados para validar a tendência. Um deles seria o volume de negociações, que precisaria aumentar para dar ensejo a uma nova alta de preços. Até aqui, os volumes de trade vêm caindo desde o sentimento negativo que tomou conta do mercado em junho.

Há ainda quem considere que o indicador não deve sequer ser levado em consideração, já que foi concebido há muitos anos para analisar a bolsa e não se aplicaria ao Bitcoin e demais criptomoedas. “Não serve para nada. Cada ativo é um ativo”, dispara Fausto Botelho, veterano analista técnico e fundador da Enfoque, que considera que o indicador é mais voltado para o mercado de ações. Segundo ele, ferramentas gráficas para criptomoedas são atualmente otimizadas para bots de trading a um custo milionário, tornando indicadores como o Golden Cross defasados.

A pedido da reportagem, Botelho traçou um histórico de eventos de Golden Cross e Death Cross para o Bitcoin e descobriu uma taxa de acerto inferior a 50%. Ainda assim, nas vezes em que acertou, como em julho deste ano, o indicador só confirmou uma tendência que já estava em curso e poucas vezes foi útil para prever movimentos de alta ou baixa.

grafico golden e death cross bitcoin
Desde 2020, por exemplo, as cruzes erraram ou atrasaram (vermelho) mais que acertaram (verde) a projeção, diz o analista Fausto Botelho

O especialista ressalta também que as cruzes de ouro ou da morte sequer são os primeiros sinais dados pelas médias móveis – há pelo menos outros três elementos que precisam compor a análise, de modo que, sozinho, um Cross não teria o peso que alguns analistas fazem crer.

O indicador tem ainda menos importância para analistas fundamentalistas, que apostam no Bitcoin como novo padrão monetário no futuro com tendência única de alta no longo prazo. Este é o caso de Alexandre Vasarhelyi, gestor de portfólio da BLP, que ignora o evento atual ou qualquer possível variação no curto prazo. “A gente sempre compra, nosso call é que vai subir no longo prazo”.

Ele considera que o ciclo atual é diferente dos demais vistos até aqui para o Bitcoin, e um dos indícios seria a subida de preço sem aumento expressivo da volatilidade. Sua aposta é que o preço da criptomoeda espera apenas um catalisador externo para chegar a mais pessoas e explodir de vez, algo que dificilmente combinaria necessariamente com um padrão técnico como o Golden Cross.

Vasarhelyi também ignora a ideia de que é preciso observar um aumento contínuo no volume para alimentar novas possibilidades de alta. “Essa é uma métrica antiga. Hoje em dia grande parte do mercado é algoritmo. Se tiver movimentação, tem volume, não é como no passado. A gente vê isso bem fácil em todas as quedas”, avalia.

A expectativa no curto prazo recai principalmente sobre a aprovação do ETF de Bitcoin por parte dos reguladores dos EUA, esperada para outubro deste ano, e que, na sua opinião, teria o potencial de ser para o BTC o que o navegador foi para a Internet nos anos 1990.

Curiosamente, o prazo de espera coincide com uma projeção de Botelho, que usa a análise gráfica para reforçar a expectativa de salto de preço do Bitcoin em proporção parecida a ciclos anteriores. Considerando o histórico das ondas de valorização da criptomoeda, o analista projeta o início de uma nova disparada de preço já em novembro, a caminho de máximas de US$ 100 mil no cenário mais conservador ou de até US$ 2 milhões no mais otimista.

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Paulo Barros

Editor de Investimentos