Dominância do Bitcoin

Bitcoin perde status de porto seguro em tempos de crise no meio cripto; o que isso significa?

Métrica de dominância do BTC aponta para êxodo em massa de investidores, mas analistas dizem que comportamento pode ser positivo

Por  CoinDesk -

Um temor constante ronda o mercado cripto desde que a bolsa de ativos digitais FTX faliu no começo de novembro, fazendo a classe de ativos se descolar dos mercados tradicionais e cair mais forte em boa parte do tempo desde então.

Enquanto isso, a taxa de dominância do Bitcoin (BTC), ou a participação da criptomoeda no mercado total de cripto, manteve-se estável em cerca de 40%, contradizendo o histórico de aumento acentuado dessa métrica em tempos de estresse.

Segundo analistas, a estagnação da taxa de dominância pode apontar para um êxodo generalizado de investidores do mercado.

“O BTC não superou o lado negativo nos últimos meses, então os investidores não o veem mais como um porto seguro”, disse Wes Hansen, diretor de negociação e operações do fundo cripto Arca.

“Mais amplamente, os eventos de novembro de 2022 abalaram a confiança de muitos investidores no setor. Em ciclos anteriores, os investidores migravam para o BTC para proteger o lado negativo quando o mercado caía. Mas, por causa do tamanho dos escândalos deste ano e seus impactos de longo alcance, muitos investidores não estão migrando para o BTC porque estão deixando o espaço completamente”, acrescentou Hansen.

O colapso da FTX, que tinha braços em todos os cantos do mercado de criptomoedas, foi o maior em uma série de grandes crises do setor neste ano e derrubou vários fundos, incluindo a plataforma de crédito cripto BlockFi.

O Bitcoin tem a maior liquidez e é a menos volátil de todas as criptomoedas, exceto as stablecoins. Portanto, os investidores em cripto tendem a mover capital para o BTC quando se sentem menos confiantes sobre as condições gerais do mercado.

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Foi o que aconteceu, por exemplo, no primeiro semestre deste ano, quando o banco central dos Estados Unidos começou a aumentar os juros e o projeto Terra (LUNA) implodiu, ambos impactando fortemente nos preços de criptoativos.

Na época, a oferta de refúgio seguro pelo Bitcoin elevou sua taxa dominância de 39% para 48%. Um aumento semelhante foi visto durante a queda do mercado de maio e junho de 2021 e durante o período prolongado de baixa do mercado em 2018.

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No entanto, os investidores não estão apresentando o mesmo comportamento dessa vez – em vez de Bitcoin, eles estão alocando em criptos indexadas ao dólar. De acordo com Hansen, os consultores de investimento registrados são o maior grupo de desertores do mercado de criptomoedas neste momento.

Manter stablecoins – criptomoedas com valores atrelados a uma referência externa, como o dólar – está se mostrando uma opção melhor para esse tipo de investidor, de acordo com Richard Rosenblum, cofundador da empresa de negociação de criptomoedas e provedora de liquidez GSR.

“Existem muitos riscos, inclusive de macromercados e o risco percebido em manter cripto em uma bolsa pós-FTX. Mudar para stablecoins é uma postura mais defensiva, em comparação com mudar para BTC, que ainda é um ativo volátil no final das contas”, disse Rosenblum ao CoinDesk quando perguntado se as stablecoins substituíram o BTC como refúgio no mercado de criptomoedas.

Rosenblum, no entanto, alertou contra a leitura excessiva da taxa de dominância, pois a saída do mercado em meio a uma crise prolongada de preços deve ser considerada normal e não implica necessariamente no fim do mundo.

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“É uma simplificação exagerada olhar para a dominância em si como uma métrica. Tinha mais significado em 2017 ou 2018. Agora há muito mais componentes, tanto em cripto quanto em como outras classes de ativos e eventos impactam o setor”, disse ele.

A tese de muitos analistas é de que o Bitcoin não representa mais as inovações da indústria de criptomoedas como antes. Quatro anos atrás, durante o fundo do período de baixa em 2018, a participação do Bitcoin no mercado cripto total era de 59,4%, contra 40% no momento desta publicação.

Noelle Acheson, autora ds newsletter “Crypto Is Macro Now”, expressou uma opinião semelhante em uma nota enviada aos assinantes no fim de semana.

“É possível que o BTC não tenha superado outros criptoativos porque, em vez de girar em relativa segurança, em grande parte os investidores deixaram o mercado”, disse Acheson.

Acheson acrescentou que o estranho comportamento da taxa de dominância do Bitcoin durante a turbulência atual nos diz que a composição do mercado mudou para o bem.

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“O Bitcoin ainda é o ativo âncora, por uma margem mais ampla, mas seu protagonismo está enfraquecendo. Este é um sinal de amadurecimento da classe de ativos. Que isso se torne aparente durante um dos momentos mais sombrios é motivo de esperança”, observou Acheson.

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