Bitcoin atinge maior valor da história em meio a fluxo recorde de ETFs nos EUA

Demanda por fundos, acúmulo corporativo, nova regulação e crise fiscal americana sustentam rali da criptomoeda

Paulo Barros

Ativos mencionados na matéria

(Foto: Rostislav Uzunov/Pexels)
(Foto: Rostislav Uzunov/Pexels)

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O Bitcoin (BTC) rompeu sua máxima histórica nesta quarta-feira (21), superando US$ 109 mil após fechar o dia anterior com seu maior preço diário já registrado: US$ 106.830. A valorização é resultado de um conjunto de fatores que vai do otimismo com a regulação para o setor nos EUA até preocupações com a saúde fiscal dos Estados Unidos, que reacendem o apelo do BTC como reserva de valor, o que impulsiona o fluxo para em ETFs.

Na segunda-feira (19), os ETFs à vista de Bitcoin negociados nos EUA registraram entrada líquida de US$ 667 milhões, segundo dados da SoSoValue, somando US$ 3,3 bilhões apenas em maio, em demanda institucional que tem sustentado o movimento de alta, na avaliação de Paul Howard, diretor da Wincent, em nota.

A pressão compradora dos investidores dos EUA também é refletida no Coinbase Bitcoin Premium Index, índice que segue em território positivo, indicando que o BTC está sendo negociado com prêmio na Coinbase frente a outras bolsas globais.

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A alta vem na esteira de maior otimismo diante de novas regulações nos EUA, após o Senado americano passar uma nova lei voltada para stablecoins, criptomoedas indexadas principalmente ao dólar.

O movimento também coincide com uma fase de alta nos rendimentos de títulos públicos dos EUA e crescente preocupação com a trajetória fiscal do país. Segundo relatório da Coinbase publicado na última semana, a deterioração dos déficits gêmeos (fiscal e comercial) e o endividamento elevado do governo americano estão minando a confiança no dólar.

“A erosão do status do dólar como reserva global está acelerando, e o Bitcoin se apresenta como uma reserva de valor supranacional e imune a sanções”, afirmou David Duong, chefe de pesquisa da Coinbase. A análise projeta que a reconfiguração dos fluxos de capital globais pode adicionar até US$ 1,2 trilhão ao valor de mercado do BTC.

O recorde do Bitcoin acompanhou uma nova queda do dólar frente a moedas globais, em meio à expectativa do mercado para sinais do governo Trump a respeito de um dólar mais fraco, durante a cúpula do G7 nesta semana.

Estrategistas do Morgan Stanley recomendam comprar os EUA, exceto o dólar.

Mercado futuro e opções indicam mais altas

O interesse especulativo também está em alta. O volume em aberto de futuros de Bitcoin atingiu US$ 75 bilhões na terça-feira (20), o maior da história em termos nominais. Dados da Deribit mostram que o mercado de opções está precificando forte probabilidade de rompimento da marca de US$ 110 mil ainda neste trimestre.

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De acordo com a Kaiko, os contratos com vencimento em 27 de junho mostram forte volume em strikes de US$ 110 mil e US$ 120 mil. “Esse cenário pode amplificar os movimentos de preço”, explicam analistas da Amberdata, apontando para o efeito de “gamma negativo”, que força market makers a seguirem a direção do mercado, aumentando a volatilidade.

Empresas com caixa em Bitcoin

Empresas como a japonesa MetaPlanet e a americana Strategy (MSTR) têm liderado o movimento de acúmulo de BTC em tesouraria, financiado por emissões de dívida e ações. A ação da MetaPlanet já subiu 160% em 2025, com o CEO confirmando que a empresa é hoje a ação mais vendida a descoberto no Japão.

No Brasil, a tendência é capitaneada pela Méliuz (CASH3), que anunciou a compra de US$ 28,4 milhões em Bitcoin na semana passada. A ação chegou a disparar 178% após adotar a estratégia, em março, mas os ganhos recuaram neste mês para 85%. Nesta quarta, o papel opera em baixa de quase 9% após balanço apontar queda anual de 48% no lucro.

Paulo Barros

Jornalista, editor de Hard News no InfoMoney. Escreve principalmente sobre economia e investimentos, além de internacional (correspondente baseado em Lisboa)