Barclays: economia da Venezuela mostra que não existe “almoço grátis”

Conforme apontam os economistas do banco britânico, melhora da atividade do país foi feita às custas de uma deterioração das contas públicas

Lara Rizério

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SÃO PAULO – “Não existe almoço grátis”. Esta frase, que ficou mundialmente conhecida ao ser usada pelo economista liberal Milton Friedman no título de um de seus livros, expressa a ideia de que é impossível conseguir algo sem que haja uma contrapartida. E pode ser aplicada, segundo o banco Barclays, à situação venezuelana pós Hugo Chávez. Atualmente, o país é governado por por Nicolás Maduro. 

Um dos países tidos como um dos mais turbulentos da América do Sul, a Venezuela parece ter voltado a mostrar recuperação e a crescer no segundo trimestre. No período, o país apresentou uma taxa de crescimento de 2,6% entre abril e junho, com bastante vigor em relação a alta de 0,5% nos primeiros três meses ao ano.

Contudo, o crescimento maior do que o esperado não veio de graça, aponta o banco britânico, vindo à custa de uma deterioração mais forte do que a esperada nas contas do setor público. As divisas registraram uma queda de 10% na comparação trimestral, ou de US$ 5 bilhões.

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Este resultado responde em parte pela desaceleração menor do que a esperada nas despesas do governo e o aumento da oferta de dólares para o setor privado, associado ainda há uma concentração de pagamento de dívidas no valor de US$ 4 bilhões, aumentando a saída de capitais.

E é provável que ocorra um declínio ainda maior nos próximos trimestres, dada a concentração das reservas internacionais de ouro, além do efeito da queda do preço do metal, associado ainda à forte desvalorização da moeda local. Com isso, a posição de divisas pode ir para o seu nível mais baixo desde 2005 e a maior queda desde 2009 na comparação anual. Assim, o serviço da dívida ainda é gerenciável, destaca a equipe; porém, ele ainda não pode ser classificado como sustentável.  

“Esta deterioração da posição externa está aumentando a vulnerabilidade do país a um choque externo”, ressalta a equipe econômica do banco. Por outro lado, os preços do petróleo mais altos devem aumentar a capacidade de pagamento do país, que pode se elevar ainda mais caso a tensão no Oriente Médio continue. 

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Falta de reformas preocupa
Após quatro meses de um progresso muito lento progresso em reformas econômicas, os economistas do banco estão preocupados com a capacidade do governo de avançar. “Se houver uma vontade real de fazer reformas, o resultado do segundo trimestre pode reforçar a posição dos pragmáticos dentro do governo, dando-lhes apoio adicional para avançar com o ajuste econômico”. 

Contudo, a resistência para se mover nesta direção cria sérios problemas de sustentabilidade. O declínio dos ativos internacionais do país tem sido uma grande preocupação, pois aumenta as vulnerabilidades do país. Neste sentido, os números do segundo trimestre aprofundam esta tendência.

E aonde o pragmatismo entra? De acordo com o Barclays, se os pragmáticos parecem ter entrado no comando da política econômica, apenas a estatal de petróleo, PDVSA, parece ter progredido, em meio às discussões para alianças internacionais, o que pode aumentar a produção no médio prazo. Porém, as intervenções do governo, as pressões dos grupos de interesse são um contraponto a este movimento tido como aparentemente positivo para o país. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.