Banco lista ações que devem ser penalizadas e que podem se beneficiar da alta da Selic

Goldman Sachs vê produtoras de commodities bem posicionadas, e também sugere exposição a bancos e imobiliárias

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SÃO PAULO – A primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) tem início nesta terça-feira (18) e deve trazer uma decisão já aguardada pelo mercado: a alta da taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, em 0,5 ponto percentual, chegando a 11,25% ao ano.

Certamente o impacto dessa elevação não será igualmente distribuído no mercado acionário, pois algumas empresas estão mais expostas a uma alta da Selic e outras menos. Quem ganha e quem perde nesse contexto? Será que os bons fundamentos de uma empresa podem falar mais alto e sobrepujar os efeitos do ciclo de aperto monetário? Os analistas do Goldman Sachs, Stephen Graham e Alexander Kazan, elaboraram um relatório avaliando o impacto da alteração nos juros sobre as ações de alguns setores específicos e trazem respostas importantes para o investidor neste momento.

Para os analistas, o aumento total da Selic no ciclo que deve ter início na próxima quarta-feira deve ser de 250 pontos-base, levando a taxa a 13,25% a.a. ao final do terceiro trimestre – uma projeção que prevê um aperto maior do que o consenso do mercado, já que as projeções compiladas no último relatório Focus apontam a Selic em 12,25% a.a. no fim de 2011. A percepção de Graham e Kazan é que, com o tempo, as estimativas do mercado irão convergir para aquela estipulada pelos seus economistas.

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Ações ligadas a commodities: boa opção
Segundo a equipe do Goldman Sachs, as recentes medidas de aperto monetário – incluindo o pacote de medidas macroprudenciais anunciado em dezembro de 2010 – não foram totalmente precificadas pelo mercado, devendo ser incorporadas apenas quando um novo ciclo – já indicado pela autoridade monetária – começar.

Sendo assim, as ações que devem apresentar bom desempenho são aquelas ligadas às commodities, pois funcionam, na opinião do banco, como um investimento que oferece proteção à inflação. Além disso, a exposição dessas ações ao ciclo de aumento dos juros é limitada, o que não deve impactar profundamente seus desempenhos. Vale destacar que o preço das commodities, especialmente as energéticas e agrícolas, segue elevado no mercado internacional.

Os economistas do banco de investimentos apostam em um crescimento na demanda por esses produtos, em decorrência de fortalecimento da economia, inclusive a norte-americana. O Goldman Sachs possui, no momento, projeções para as economias centrais superiores ao consenso do mercado.

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Outro ponto a se destacar são os múltiplos atrativos dessas ações, ainda mais quando comparadas aos papéis de empresas voltadas ao consumo doméstico. Sendo assim, as top picks no setor são Vale (VALE3, VALE5) , OGX (OGXP3) e BR Foods (BRFS3).

Consumo e varejo: cenário difícil
A alta dos juros não deve ser benéfica para as ações ligadas ao setor de consumo e vendas no varejo e por isso os analistas do banco recomendam underweight (exposição abaixo da média do mercado) para esses papéis. Seus múltiplos eram elevados e os prêmios destes ativos frente as ações de commodities ficaram “insustentavelmente altos”, analisa o Goldman Sachs. Mesmo com a redução deste prêmio, ainda há excesso. Além disso, esse setor está muito exposto às medidas de aperto monetário.

A visão dos analistas é que medidas adicionais podem vir à tona, uma vez que os formadores de política monetária permanecem atentos ao excesso de empréstimos e crédito. Outro ponto destacado é a possível redistribuição do consumo pela população brasileira, que deve migrar de bens mais supérfluos para produtos básicos e custos com crédito, em decorrência do encarecimento dos empréstimos.

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Serviços básicos, setor financeiro e real estate
Os setores mais defensivos devem ser a grande aposta em um momento de alta dos juros. Assim, a recomendação para ações ligadas a utilities foi elevada, saindo de underperform para neutral. ” Se estivermos corretos quanto à leitura de que o mercado ainda não digeriu totalmente o aumento dos juros que virá e diante do risco de mais medidas cambiais, os setores mais defensivos devem ter desempenho acima da média do mercado no curto prazo”, avaliaram. Assim, a recomendação é de compra para Cesp (CESP6) e Copasa (CSMG3).

O desempenho das ações ligadas ao setor financeiro, excluindo os bancos, também deve ser castigado no curto prazo, pois estes papéis permanecem vulneráveis em meio às medidas adotadas pela autoridade monetária e frente ao possível aumento na taxa de juros. Portanto, a recomendação para ativos desse setor passou a ser neutral, com redução de exposição. Em linha com essa análise, a BM&F Bovespa (BVMF3) foi retirada da Focus List do banco na América Latina.

Os bancos e o setor de real estate devem permanecer pressionados a curto prazo, mas oferecem a possibilidade de valorização a longo prazo. Inegavelmente, os bancos estão expostos aos riscos das políticas de crédito, mas ao contrário do que acontece no setor de varejo, os bancos têm no momento um valuation atrativo o suficiente para sustentar uma alocação overweight (peso acima da média do mercado) a longo prazo.

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Como os bancos brasileiros apresentaram um bom resultado diante de aumentos dos juros, conforme prega a história recente, essa posição de vulnerabilidade não deve ser mantida por muito tempo. A preferência dos analistas do Goldman Sachs permanece com os bancos large cap, pois suas bases de depósito são sólidas. Neste cenário, o Itaú é a preferência no setor.

A análise para o setor de real estate é similar. No início do ciclo de aperto monetário a pressão deve ser grande, porém o forte potencial de crescimento dos lucros torna essas ações atrativas. A recomendação a longo prazo é overweight para ações relacionadas ao segmento imobiliário e de construção civil. As preferências no setor são PDG (PDGR3) e Even (EVEN3). Além destas, Lopes (LPSB3), BR Properties (BRPR3) e BR Malls (BRML3) também são lembradas como boas pedidas.

Cenário para o Brasil ainda é otimista
Apesar do cenário difícil para a maioria dos setores em uma projeção mais recente, Graham e Kazan avaliam que o Brasil tem potencial suficiente para apresentar um desempenho outperform (acima da média do mercado) no final do ano, quando os efeitos das medidas de aperto monetário já estiverem precificados e, portanto, ações mais cíclicas também poderão apresentar bons resultados.

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Segundo os analistas, ao final de 2011, as ações das empresas brasileiras devem ter ganhos consideráveis, levando o Ibovespa a 85.500 pontos. À medida que o mercado precificar as medidas macroprudenciais e o ciclo de alta nos juros, haverá espaço para posições mais otimistas, conclui o Goldman Sachs. 

Fonte: Goldman Sachs