Banco do Brasil: com resultado e falas de CEO ainda vistos com cautela, o que pode impulsionar a ação da estatal?

Boa parte dos analistas de mercado segue reticente com o banco estatal, mas alguns deles indicam caminhos que podem impulsionar ações

Lara Rizério

(Divulgação)

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SÃO PAULO – Último dos grandes bancos brasileiros a divulgar seus resultados do primeiro trimestre e o mais cercado de desconfiança em meio ao cenário de maior interferência política, o Banco do Brasil (BBAS3) divulgou números que surpreenderam positivamente os investidores e fizeram com que as ações saltassem mais de 4% nas máximas do dia.

Os ativos amenizaram a alta, mas ainda fecharam com ganhos de 2,50%, a R$ 29,94. Contudo, apesar da alta, analistas seguem de olho na sustentabilidade dos números e se a sinalização do novo presidente da instituição de que o BB seguirá focado na melhora de seus índices de eficiência continuará com a nova administração.

O lucro líquido ajustado do banco, que exclui receitas e gastos extraordinários, totalizou R$ 4,913 bilhões nos três primeiros meses de 2021, montante 44,7% maior que o observado no primeiro trimestre de 2020 e 20% acima do esperado pelo consenso de mercado.

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Indicador que mede a lucratividade dos bancos, o retorno sobre o patrimônio líquido também registrou melhora, para 15,1%, melhor que os 12,1% registrados no último trimestre de 2020 e que os 12,5% no primeiro trimestre do ano passado.

Como os outros bancos que já divulgaram seus números, boa parte da alta do lucro decorre das menores despesas com provisões duvidosas, com queda de 54,2% na comparação anual, atingindo R$ 2,5 bilhões.

Com a redução das provisões, o índice de cobertura  – relação entre empréstimos inadimplentes e provisões – sobre os empréstimos com atraso acima de 90 dias passou de 348% no quarto trimestre de 2020 para 328%, patamar, contudo, ainda considerado bastante confortável.

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A receita com prestação de serviços somou R$ 6,9 bilhões, com queda de 2,7% em relação ao primeiro trimestre do ano passado. Em nota, o Banco do Brasil informou que o recuo decorre “do atual momento macroeconômico e da dinâmica de negócios na rede”.

Já a margem financeira apresentou crescimento expressivo, com alta de 42,1% no trimestre em relação ao primeiro trimestre de 2020, ponto este considerado positivo pela Levante.

Contudo, algumas linhas do balanço são vistas de formas distintas por analistas: a Levante destaca que o bom resultado do banco estatal pode ser atribuído, além do forte crescimento da margem financeira líquida, ao controle de despesas operacionais. O banco apresentou uma queda de 4,8% nas despesas administrativas em relação ao quarto trimestre de 2020 e uma baixa de 0,4% na comparação anual, atingindo R$ 7,7 bilhões.

Por outro lado, aponta a XP, o fato das despesas ficarem quase estáveis frente 2020 é um ponto negativo, uma vez que o índice de eficiência do Banco do Brasil já está abaixo de seus pares privados, que atualmente estão em uma corrida para reduzir custos e competir com os mais leves desafiadores digitais.

A carteira de crédito da companhia, por sua vez, atingiu R$ 758,3 milhões em março, um crescimento de 4,5% na comparação anual, com destaque para o segmento de empréstimo pessoal que cresceu 12,9% no mesmo período.

Um ponto positivo do resultado foi a queda na inadimplência superior a 90 dias para 1,95%, uma melhora significativa em relação aos 3,17% apresentados no primeiro trimestre de 2020, início da pandemia, apesar de registrar leve alta em relação ao fim de dezembro, quando estava em 1,9%.

Apesar dos bons números, a Levante destaca que o banco estatal foi o que mais realizou provisões ao longo de todos os trimestres e, em função do seu caráter social, é esperado que tenha aprovado mais linhas de crédito para estimular a companhia, algo que pode influenciar negativamente seus resultados no segundo semestre.

Cabe destacar que, em 2021, as ações do Banco do Brasil têm sofrido com uma mudança na percepção de risco devido à interferência política do governo em relação às recentes medidas para ganho de eficiência, que incluíram um programa de demissão voluntária e o fechamento de agências.

Após estes atritos, André Brandão, CEO do banco que havia sido colocado em 2019 para implantar medidas de eficiência renunciou, e o governo escolheu outro nome para o cargo, que por sua vez não agradou o conselho do banco e culminou na renúncia de diversos conselheiros. Esse, por sinal, é o primeiro balanço divulgado pela gestão do novo presidente do BB, Fausto Ribeiro, que assumiu o comando da instituição financeira em março.

Com isso as ações acumulam desvalorização de 23,4% em 2021 (até o fechamento da véspera), refletindo a desconfiança do mercado quanto a independência na gestão do banco. As demais instituições financeiras também veem suas ações em queda, mas bem menos expressiva.

Falas do novo CEO

Durante teleconferências após a divulgação de resultados, Ribeiro fez afirmações a princípio positivas para o mercado, ainda que rivalizem com os últimos sinais dados pelo governo sobre o que espera para a nova gestão da companhia. O CEO afirmou a jornalistas que Jair Bolsonaro pediu aumento na rentabilidade da instituição: “O presidente Bolsonaro me disse para buscar uma lucratividade maior, para aumentar a eficiência”, destacou, acrescentando que sua gestão será técnica. “Não há interferência política, o banco só está se aproximando do ministro da Economia”, complementou.

Ribeiro disse que manteve o plano de redução de custos anunciado por Brandão em janeiro (e que foi o estopim para a saída do executivo), que inclui o fechamento de 361 unidades de negócios e dois programas de demissão voluntária de funcionários.

O banco, por sua vez, não tem planos de fechar mais agências neste ano, mas Ribeiro destacou que a instituição constantemente revisa sua rede de agências. O novo CEO disse que também manteria planos de alienar ativos não essenciais, ainda que sem nomeá-los [mas reforçando que a Cielo é um ativo essencial para seguir na carteira do banco] . Ribeiro acrescentou que o banco continua buscando um parceiro para sua unidade de gestão de recursos, a BB DTVM.

“O mandato que eu recebi do presidente da República é relativamente simples. Liderar o banco em busca de eficiência operacional, de rentabilidade compatível, inclusive com os pares e prestamos um atendimento de excelência à população brasileira. Não tem nada diferente. Obviamente que a gente vai dar um toque pessoal”, afirmou.

Ele ainda reiterou que a gestão permanece focada em iniciativas estratégicas, incluindo: acelerar a transformação digital, iniciativas de controle de custos, iniciativas de vendas cruzadas com foco em negócios lucrativos para melhor a monetização da base de clientes em expansão, além de construir e fortalecer parcerias, investir na força de trabalho e atrair talentos. Reiterou ainda o compromisso de reduzir despesas em R$ 3 bilhões neste ano e em R$ 10 bilhões até 2025. A administração reforçou a projeção de lucro líquido ajustado para 2021 de R$ 16 a R$ 19 bilhões.

Mesmo com essas sinalizações positivas, alguns analistas seguem reticentes com o banco estatal – e apesar do valuation aparentemente atrativo. É o caso do Bradesco BBI, que possui recomendação neutra para o papel, ainda que possua um preço-alvo de R$ 44 para o ativo, 51% acima do fechamento da véspera.

De acordo com os analistas do banco, as provisões no trimestre parecem bastante baixas, sendo que elas podem ser revertidas nos próximos meses à medida que a inadimplência começar a aumentar. “Com a visibilidade de lucros ainda limitada – especialmente porque o Banco do Brasil teve a maior parte de seus empréstimos sendo reperfilados (com R$ 26 bilhões ainda por vencer em março de 2022) – acreditamos que as ações ainda carecem de gatilho para reavaliação no curto prazo”, apontam.

Por outro lado, o Safra destacou uma visão mais positiva sobre a instituição ao citar que, apesar do recente aumento do risco político, as decisões da alta administração no banco são colegiadas, o que evita o risco de decisões erradas ou de influência política mais direta dentro do banco. Assim, os analistas continuam com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 50 para o papel, destacando que o valuation está muito mais barato em comparação aos pares do varejo.

Para os analistas do Safra, apesar dos ventos contrários com medidas de restrição em algumas regiões, o banco parece no caminho certo para entregar bons resultados em 2021, principalmente por conta da redução nas provisões de crédito e crescimento do volume, especialmente em linhas como folha de pagamento e rural.

A XP também segue com recomendação de compra e preço alvo de R$ 43 para o ativo, avaliando que, além da ação estar barata, o banco operacionalmente segue defendido com boas taxas de cobertura/adequação de capital e uma carteira defensiva.

Possíveis catalisadores para a ação

Campos e Odaguil, da XP, ainda reforçam que pagar um dividend payout (dividendo em relação ao lucro líquido) maior e algum consumo de cobertura poderia ser uma estratégia de criação de valor para o BB. Isso porque: i) significaria um alto rendimento de dividendos acima de 10% para os investidores; ii) reduziria o risco de destruição de valor no longo prazo em busca da competição com as fintechs; e iii) com a avaliação de que está operacionalmente defendido e capitalizado, o banco é capaz de fazer frente a esse aumento do pagamento de proventos.

Os analistas não acreditam que as perspectivas pareçam fáceis para os bancos incumbentes, com desafios como: i) um regulador agressivo com uma forte agenda micro que inclui pagamento mais rápido, open banking e mercado de recebíveis; ii) competição de bancos digitais mais leves e mais rápidos, que já pressionavam as taxas de varejo e agora poderiam se beneficiar da iniciativa de open banking e iii) o Covid-19, que deve impactar negativamente o negócio de crédito com maior inadimplência, ao mesmo tempo em que auxilia os novos entrantes com uma base de clientes mais digitalizada.

“Dito isso, acreditamos que as perspectivas parecem ainda mais difíceis para o BB, pois vemos a possibilidade de ganho de eficiência nesse cenário digital mais difícil do que para outras operadoras devido à sua estrutura estatal. Portanto, um pagamento mais alto pode significar: i) riscos reduzidos de destruição de valor, uma vez que parte do investimento é devolvido aos investidores; e ii) a chance de criar mais valor por meio de um maior ROE em um banco menos capitalizado / mais alavancado”, apontam, vendo esse como um possível catalisador para os papéis.

Já para a Levante, os principais catalisadores para as ações do Banco do Brasil passam principalmente por venda de ativos e melhoria de eficiência, ações que conflitam com a popularidade do governo e por sua vez não devem ocorrer no curto prazo considerando o contexto atual – ainda que a atual gestão do BB reforce a sua busca por maior rentabilidade.

Com tantas questões para a instituição financeira e os investidores ainda esperando para ver como será a gestão de Fausto Ribeiro, muitos analistas seguem reticentes, conforme mostra compilação da Refinitiv com casas que cobrem o papel: de quinze casas que cobrem o ativo, nove recomendam compra, mas seis têm visão mais cautelosa, com cinco recomendando manutenção e uma recomendando venda. Contudo, o preço-alvo médio é de R$ 43,98, o que mostra que, se o banco conseguir endereçar os principais temores dos investidores, há espaço para uma alta de cerca de 50% dos ativos.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.