Banco do Brasil (BBAS3) se consolida entre preferidas ao registrar novos recordes e JP eleva recomendação; ações sobem

Resultados superam estimativas já otimistas do mercado e guidance também surpreende, reforçando visão positiva dos investidores para a ação

Lara Rizério

Banco do Brasil

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Mais um trimestre de recordes, apesar da provisão de Americanas (AMER3), e trazendo bons sinais para os investidores em um momento de nova gestão da instituição financeira, sob o comando de Tarciana Medeiros.

O resultado do Banco do Brasil (BBAS3), divulgado na noite da véspera, ficou acima do esperado pelo consenso de mercado, sendo que os analistas já esperavam números bastante positivos para a estatal. Com isso, os ativos fecharam em alta de 2,34%, a R$ 41,55, ainda que bem longe das máximas da sessão, em um dia negativo para o Ibovespa.

O BB encerrou o quarto trimestre de 2022 (4T22) com lucro líquido ajustado de R$ 9,039 bilhões, um aumento de 52,4% em relação ao mesmo período do ano anterior, o sétimo recorde trimestral seguido – mesmo em um trimestre influenciado por provisões extraordinárias para a Americanas. Sem provisão para Americanas, o lucro seria de R$ 9,4 bilhões. O consenso Refinitiv projetava lucro de R$ 8,083 bilhões.

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O retorno sobre patrimônio líquido (RSPL, ou ROE, na sigla em inglês) anualizado alcançou 23% no 4T22, sendo o maior do setor.

O banco fechou 2022 com um lucro de R$ 31,8 bilhões, aumento de 51% no ano, consolidando sua trajetória de melhora de rentabilidade, que partiu de um ROE de apenas 13,5% em 2018 para 20,6% em 2022.

“Mais uma vez, o perfil defensivo de sua carteira continua prevalecendo e leva a um índice de inadimplência de 2,5% (alta de 17 pontos-base na comparação trimestral) e bem abaixo de seus pares”, apontam Renan Manda e Matheus Guimarães, analistas da XP.

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Destaque ainda para o sólido crescimento de 44,9% na base anual em sua margem financeira bruta (superando a expectativa da XP em 8%), impulsionado por: i) Resultado de Operações de Crédito (+40,4% ano a ano), beneficiado pelo crescimento e reapreçamento da carteira de crédito; e ii) Resultado da Tesouraria (+140,5% na base anual), devido principalmente ao resultado da carteira de títulos de renda fixa.

Esses efeitos foram parcialmente compensados ​​por maiores Despesas Financeiras de Captação (+92,6% ano a ano). “Embora marginalmente abaixo do nosso número (-4%), as Receitas de Prestação de Serviços também ajudaram no trimestre, subindo 7,9% na base anual impulsionadas por Seguros, Conta Corrente e Empréstimos e Garantias”, destacam os analistas.

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O Bradesco BBI, que classificou os resultados como impressionantes, destacou que a Margem Financeira Bruta apresentou outra sólida expansão, pois os ganhos relacionados ao mercado continuaram se beneficiando do crescimento dos títulos de renda fixa, enquanto a margem com clientes se beneficiou da expansão da carteira e do aumento das taxas de juros.

Os analistas ponderam ser importante ressaltar que as despesas com provisões ficaram acima da estimativa, refletindo provisões adicionais de 50% relacionadas ao “caso corporativo específico de grande porte” (Americanas), enquanto os analistas destacam que a inadimplência sofreu outra deterioração entre as pessoas físicas. “Além disso, as receitas com tarifas decepcionaram, devido à gestão de ativos, contas correntes e cartões de crédito/débito, enquanto as despesas ficaram amplamente em linha com as estimativas”, complementam.

Por outro lado, destaca-se também um impacto positivo significativo em outras receitas/despesas, refletindo os maiores incentivos de cartão e reversão de provisões.

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Na esteira dos bons resultados e também nas projeções do banco para 2023, o JPMorgan elevou a recomendação para os ativos BBAS3 de equivalente a neutro para overweight (exposição acima da média do mercado, ou recomendação equivalente à compra), com o preço-alvo sendo elevado de R$ 50 para R$ 56.

Para o Credit Suisse, o Banco do Brasil havia entrado no radar de muitos investidores e a expectativa para o resultado estava alta sendo que, passado o resultado, parece claro que houve uma superação das expectativas tanto no 4º trimestre quanto no guidance (projeções).

O ROE de 22,5% no trimestre superou as estimativas do consenso em 11,5% e as do Credit em 2,5%, incluindo a provisão de 50% para o caso Americanas. O número acima do esperado pode ser justificado principalmente por uma margem financeira líquida (NII) com maiores spreads, bem acima das expectativas, entregando um crescimento no ano de 23,8% na base anual, cerca de 280 pontos-base acima do guidance.

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O banco suíço também ressalta que a instituição financeira estatal entregou uma qualidade de ativos em um ótimo patamar com “NPL formation” (a variação do saldo de créditos em atraso) caindo 19 pontos-base caindo na base trimestral e indicando sinais positivos de normalização de inadimplência, enquanto o cartão de crédito também mostrou um bom avanço.

Para o Goldman Sachs, os fortes lucros do BB foram beneficiados por uma forte receita líquida de juros, enquanto a qualidade dos ativos permanece a melhor da categoria.

O Itaú BBA reforça que, no geral, o BB apresentou o melhor conjunto de resultados em sua cobertura de grandes bancos nesta temporada e a gestão confirma a perspectiva otimista para o ano, reiterando assim recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) para o papel e a preferência dentro do setor bancário.

Mais por vir em um ano desafiador

Além do bom resultado de 2022, as projeções positivas se reforçaram com o guidance para 2023. O banco projeta um lucro líquido entre R$ 33 e 37 bilhões (o BBI, por exemplo, tem uma projeção de R$ 32,0 bilhões em seu modelo), uma carteira de empréstimos crescendo entre 8 e 12%, despesas de provisão entre R$ 19 e 23 bilhões e crescimento de despesas operacionais de 7 a 11%.

O Credit Suisse aponta que o lucro líquido de R$ 35 bilhões para 2023 (considerando o ponto médio do guidance) indica um ROE de 20,5%, avanço de 10% na base anual e reflete um número cerca de 7,8% acima do consenso do Bloomberg.

“Acreditamos que BBAS deve continuar a sustentar o forte earnings momentum dentro de um cenário de juros ‘ mais alto por mais tempo’ . A disparidade entre os resultados dos bancos parece clara, com Itaú e BB se destacando na ponta positiva. Continuamos a enxergar um valuation muito descontado com um múltiplo de preço sobre lucro (P/L) de 3,3 vezes no meio do guidance, cerca de 45% de desconto para o histórico de 10 anos de 6 vezes”, destaca o banco suíço.

O Goldman Sachs, ao apontar o guidance da empresa sinalizando lucro líquido R$ 33-37 bilhões em 2023, acima das projeções do mercado, mantém também recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 48.

Para o BBI, o Banco do Brasil divulgou uma orientação geral agressiva para 2023 – ainda que, de fato, reconheça o excelente ano, impulsionado por seu correto posicionamento para se beneficiar de taxas de juros mais altas e menor exposição a segmentos de maior risco. “No entanto, a preocupação é o quão sustentável será o atual nível de ROE, se assumirmos que 2023 provavelmente será um ano desafiador para o setor bancário”, ponderam. De qualquer forma, os analistas seguem com recomendação de compra para a ação, com preço-alvo de R$ 57.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.