Banco do Brasil (BBAS3) é mais uma vez o “campeão” de lucro e ROE entre os bancões: o que esperar para a ação?

XP, Genial e Itaú BBA reforçaram visão positiva com os ativos após o resultado, enquanto Bradesco BBI mostra maior ceticismo

Lara Rizério Mitchel Diniz

(Divulgação)

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O que era impensável anos atrás, mas que acabou ocorrendo nas últimas temporadas, voltou a se repetir neste segundo trimestre de 2023 (2T23). O Banco do Brasil (BBAS3) reportou um lucro líquido ajustado de R$ 8,8 bilhões (com 21% de retorno sobre o patrimônio – ROE), o maior lucro entre os “bancões” nessa temporada, assim como o ROE.

Isso apesar do lado negativo, com despesas com provisões acima do esperado em casos corporativos específicos tendo impacto. O BB, mesmo não citando nomes, fez referência à Americanas (AMER3) em seu resultado e provisionou mais R$ 338,8 milhões relacionados ao caso.

O BB havia provisionado no início do ano 50% de sua exposição relacionada à Americanas, que entrou em recuperação judicial em janeiro. O percentual correspondia a R$ 788 milhões. Neste segundo trimestre, o BB disse que elevou o risco de crédito do caso de risco “F” para risco “G”, que demanda a provisão de 70% da exposição.

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O Banco do Brasil disse apenas que o aumento de risco foi com relação a uma “empresa do segmento ‘large corporate’ que entrou com pedido de recuperação judicial em janeiro de 2023”. O banco não detalha o que o fez mudar o nível de risco da Americanas.

Entre outros destaques, o Itaú BBA ressalta o crescimento da receita do BB de 6% no trimestre, que foi o maior entre os grandes bancos nesta temporada, com a margem financeira (NII) subindo 8% no trimestre em melhores volumes e spreads e serviços em alta de 2%.

“No geral, esperamos que as ações permaneçam positivas, negociando a 0,7 vezes o P/B (ou P/VPA – Preço sobre o Valor Patrimonial por Ação) e 3,4 vezes o preço em relação ao lucro (P/L ) em 2024”, avalia o BBA.

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Os analistas ainda ressaltam que a formação de inadimplência no varejo caiu e contou com melhores métricas em cartões de crédito. A eficiência de custos também melhorou sequencialmente, enquanto uma linha de provisão para riscos legais menor também ajudou.

O trimestre do banco também foi diferente, pois a instituição revisou a orientação do ano de 2023 para o crescimento da carteira de empréstimos em 1 ponto porcentual (p.p.) a mais, para 9%-13% em base anual, enquanto a expansão da margem financeira aumentou em 5 pontos, para 22%-26% em um ano.

“Isso foi consumido por uma perspectiva mais alta para despesas de provisão e menores receitas de serviços, de modo que o ponto médio do lucro líquido do ano ficou inalterado entre R$ 33-37 bilhões”, destaca o BBA, que avalia que o dado efetivo tenda para o limite superior, o que implica em lucros líquidos no segundo semestre acima dos níveis do primeiro semestre.

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“Também ganhamos confiança extra em nossas visões de consenso para 2024 acima sobre margem financeira (e, portanto, lucros)”, reforça. O BBA tem recomendação equivalente à compra para BBAS3, com preço-alvo de R$ 56.

A XP destaca que o banco reportou resultados consistentes por mais um trimestre em praticamente todas as linhas, incluindo a qualidade de crédito, com um índice de inadimplência (NPL) acima de 90 dias confortável e praticamente estável em 2,73% (versus 3,6% para o Sistema Financeiro Nacional, ou SFN).

Com os fortes resultados no primeiro semestre, o banco reviu em alta grande parte do seu guidance, principalmente para a expansão da sua carteira de crédito. “Acreditamos que o banco está no caminho certo para entregar um resultado final próximo ao topo do intervalo (R$ 33 bilhões a  R$ 37 bilhões), o que daria um múltiplo de preço sobre o lucro implícito de aproximadamente 4,1 vezes para 23. “Ainda muito descontado, depois de subir 41% no acumulado do ano”, aponta a casa.

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A Genial Investimentos avalia que o resultado foi marcado positivamente por: (i) bom crescimento da carteira de crédito; (ii) margem financeira bruta, impulsionada pela tesouraria e margem com clientes crescendo acima da carteira; (iii) redução do risco legal. Já no lado negativo, além da forte evolução da PDD, a receita de prestação de serviços ainda é fraca e houve aumento da perda em outros componentes do resultado.

A Genial destaca seguir otimista com os fundamentos do BB. A casa de research acredita que o resultado para o ano continue forte, com lucro de R$ 35,3 bilhões (+11,1% ano a ano). Dessa forma, reitera recomendação de comprar com preço alvo de R$ 62,80, vendo os múltiplos do banco estatal como atrativos.

“Considerando o novo guidance, o lucro não sofreu alteração. Acreditamos que o cenário mais provável para o ano seja seguir o meio do guidance, já sinalizado pelo resultado do 1S23 que indica um lucro líquido para na faixa média do guidance para o ano, com a ressalva (upside) que o melhor trimestre do ano, geralmente é o 4T, e que as provisões de hoje feitas a mais podem eventualmente aliviar a necessidade e mais provisões no futuro (2024)”, aponta.

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Mais conservadores, os analistas do Bradesco BBI reiteraram recomendação neutra para BBAS3, com preço-alvo de R$ 48.

Para o banco, o lucro líquido do Banco do Brasil atingiu o pico no 1T23, uma vez que o resultado de intermediação financeira está desacelerando (e a desaceleração está implícita no guidance), enquanto temos pouca visibilidade sobre a sustentabilidade dos ganhos do Banco Patagônia e as despesas com provisões devem permanecer em níveis altos.

“A contribuição da Previ deve diminuir nos próximos trimestres, devido à variação dos índices relacionados à marcação a mercado de seus ativos e passivos, e as tarifas devem continuar fracas. Além disso, notamos que as despesas legais devem senormalizar nos próximos trimestres, pois têm ficado abaixo da média histórica recente. Dessa forma, mantemos nossa visão de que os lucros do banco atingiram o pico”, avalia.

Teleconferência

Em coletiva com jornalistas, Tarciana Medeiros, CEO do BB, destacou que o banco vai continuar crescendo crédito de forma sustentável apoiando os diferentes setores da economia. “A linha final do balanço é importante, mas o mais relevante tem sido a consistência com a qual a empresa tem obtido resultados”, afirmou.

Sobre o aumento das provisões, Geovane Tobias, vice-presidente de gestão financeira e RI, destacou que houve crescimento, mas que elas estão sob controle.

O Banco do Brasil provisionou R$ 7,176 bilhões no segundo trimestre, alta de 143% em bases anuais e volume 22,6% maior que o registrado no primeiro trimestre.

Ele destacou que houve um ajuste do guidance uma vez que as provisões vieram acima do esperado (agravamento em linhas de créditos não consignados na carteira pessoa física e da piora de riscos na carteira pessoa jurídica). Porém, a expectativa é de um “cenário mais benigno com redução de taxa de juros, que torna ambiente melhor para que a gente entregue resultado que estamos nos comprometendo. A carteira está crescendo, então precisamos fazer provisões prudenciais”.

“Na medida em que crescemos carteira, cuidamos do risco e controlamos despesas temos condições de entregar resultados crescentes”, afirmou Tobias.

“Estamos atentos às condições de mercado e variáveis que possam impactar rentabilidade, mas não de maneira expressiva. A redução da taxa de juros traz oportunidade de criar ambiente benigno para crescimento de volumes a um risco menor”.

Sobre a queda de juros, a CEO do BB ressaltou que, onde for possível, haverá repasse dos cortes na Selic.

“A discussão de preços por linha de crédito é permanente. Estávamos preparados para a redução da Selic antes dela começar acontecer, decidindo quais linhas de crédito poderíamos repassar o corte de imediato. Vamos permanecer analisando, com nossos modelos de risco retorno, por linha de crédito. Onde for possível, vamos repassar cortes na Selic, que, temos fé, vai continuar caindo”, afirmou.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.