Banco do Brasil (BBAS3) é grande destaque com números surpreendendo os mais otimistas, mas até quando o movimento vai durar?

Números mostraram grandes diferenças em relação aos pares privados Santander e Bradesco, mas alguns analistas mantêm cautela de olho em risco político

Lara Rizério

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Num intervalo de 24 horas, dois extremos no setor. Enquanto o Bradesco (BBDC4) viu suas ações desabarem 17%, no que foi a sua maior queda diária desde 1998, com números que decepcionaram e muito o mercado, o Banco do Brasil (BBAS3) surpreendeu mais uma vez até mesmo os mais otimistas, indo na contramão do banco privado e divulgando previsões e lucros animadores.

“Resultados fortes de cima a baixo”, “um trimestre para ser lembrado”, “22% de rentabilidade e projeções para cima”, “os humilhados serão exaltados” foram apenas algumas das classificações dos balanços em relatórios divulgados após o balanço.

O banco controlado pelo governo federal teve lucro ajustado do terceiro trimestre de R$ 8,36 bilhões, um salto de 62,7% sobre um ano antes e acima da previsão média de analistas consultados pela Refinitiv, de R$ 7,36 bilhões para o período. A rentabilidade ajustada sobre o patrimônio foi de 21,5%, um salto de 7,2 pontos percentuais ano a ano.

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Os dados refletiram um equilíbrio largamente mais bem sucedido do que os rivais privados entre crescimento da carteira de crédito e controle da inadimplência.

Deste modo, após uma abertura em queda, mas ainda assim menor do que seus pares privados, às 10h38 (horário de Brasília) desta quinta-feira (10) as ações BBAS3 passaram a subir 0,57%, a R$ 37,27.

O estoque de empréstimos do BB somava R$ 969,2 bilhões, um aumento de 19%, com destaque para linhas como cartão de crédito (+31,5%) e agronegócio (+26,7%). O índice de inadimplência acima de 90 dias, de 2,34%, cresceu ante os 1,82% de um ano antes, mas ficou bem abaixo dos seus pares. A instituição ainda anunciou o pagamento de cerca de R$ 2,3 bilhões em dividendos e juros sobre o capital próprio (JCP). 

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“Os resultados que apresentamos se originam do bom desempenho da margem financeira bruta, da diversificação nas receitas com serviços, despesas sob controle e capital forte”, afirmou o presidente-executivo do BB, Fausto Ribeiro, em nota.

A XP destacou que os resultados positivos do Banco do Brasil no 3T22 foram beneficiados, principalmente, por um robusto incremento em sua margem financeira bruta (NII), que se deve principalmente ao robusto crescimento de sua carteira de crédito, à reprecificação de suas operações de crédito nos últimos trimestres e aos melhores resultados de sua tesouraria.

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“Apesar do aumento da inadimplência e do aumento das provisões no período, seu índice de inadimplência permanece em níveis baixos e o índice de cobertura [que representa a proporção que a provisão para risco de crédito é capaz de cobrir os créditos inadimplentes] permanece saudável”, avaliam os analistas Renan Manda e Matheus Guimarães, que assinam o relatório, destacando que esses números levaram ao forte lucro. A XP tem recomendação de compra para os ativos, com preço-alvo de R$ 57.

Além disso, o banco também revisou seu guidance para 2022, implicando em outro conjunto de fortes resultados para o quarto trimestre. Houve uma revisão da previsão de crescimento da carteira de crédito de 2022, da faixa de 12% a 16% para 15% a 17%, além de esperar mais receitas com tarifas e com margem financeira. O banco ainda previu que seu lucro do ano agora deve ficar entre R$ 30,5 bilhões e R$ 32,5 bilhões, ante previsão anterior de R$ 27 bilhões a R$ 30 bilhões.

O Bradesco BBI reforça que os resultados do BB mostraram novamente fortes tendências, com o banco se beneficiando da elevação das taxas de juros e da expansão da carteira. Enquanto isso, as taxas de serviços e despesas operacionais continuaram a apresentar um desempenho sólido.

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“Acreditamos que o principal destaque foi a forte revisão do guidance, que implica no lucro líquido do 4T22 em 16,7% acima da nossa projeção e 19,5% acima do consenso Bloomberg, incorporando NII mais forte, taxas e crescimento de empréstimos. É importante ressaltar que vemos o aumento significativo das provisões como uma normalização de níveis anteriormente baixos, refletindo a deterioração da qualidade dos ativos”, aponta. O preço-alvo do BBI para os ativos é de R$ 52, um potencial de valorização de 40% frente o fechamento da véspera.

O JPMorgan ressaltou que as projeções para o BB só sobem, avaliando ainda que a qualidade dos ativos ficou substancialmente acima do Bradesco.

Na qualidade dos ativos, contudo, os analistas do banco avaliaram que houve uma piora em cartões de crédito, o que pode levantar uma bandeira amarela para o Nubank (NUBR33). “As taxas de serviços foram uma grande surpresa positiva, acelerando o crescimento de cerca de 10% ao ano para agora 15%, impulsionado por praticamente todas as linhas de produtos, incluindo as relevantes, como asset, taxas de conta corrente e cartões. Para contrastar, o Bradesco registrou um crescimento anual de 1%. As despesas ficaram em linha com nossas projeções de 6% em relação ao ano anterior, o que também consideramos bom”, avalia.

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Já o guidance sendo novamente revisado, agora para R$ 30,5 bilhões a R$ 32,5 bilhões, implica em uma alta de lucro adicional de 10% ante a estimativa do JP. “Tudo isso somado, vemos novamente um trimestre forte para o Banco do Brasil”, aponta, reiterando visão positiva para os ativos.

Para o Itaú BBA, o Banco do Brasil apresentou outro conjunto de ótimos resultados, sendo que a alta do lucro de 7% na base trimestral mostrou que os bons fundamentos para o BB são rígidos e a instituição está num momentum completamente diferente (e melhor) do que alguns pares privados. Praticamente todas as linhas do balanço melhoraram e ficaram acima das suas estimativas, com melhorias notáveis ​​na NII de mercado e receitas de crédito ao cliente.

“O BB reportou de longe o melhor conjunto de resultados dentro de nossa ampla cobertura bancária nesta temporada”, aponta, mantendo visão positiva para a ação, com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra), com preço-alvo de R$ 53. Os analistas, contudo, avaliam que o risco de queda é uma materialização dos temores da política de crédito, atingindo seus múltiplos e projeções de lucros para 2024 em diante, em meio às preocupações com a condução de políticas do próximo governo.

O Credit Suisse, que também possui recomendação outperform para os ativos, com preço-alvo de R$ 55, reiterou o Banco do Brasil como sua escolha preferencial junto com o Itaú (ITUB4). “Depois de um início de temporada de resultados difícil com Santander SANB11 e Bradesco reportando números mais fracos que o esperado, os resultados do Banco do Brasil colocam novamente o setor no caminho certo para uma visão positiva, com  o Itaú Unibanco também devendo  apresentar resultados sólidos em nossa visão”, aponta o Credit, lembrando que o Itaú divulga seus números hoje após o fechamento.

Ambos os nomes, na visão da casa, estão bem posicionados em um cenário de taxa de juros potencialmente mais alta, sem mencionar seu desempenho de qualidade de ativos muito superior.

Riscos políticos no radar

A Genial destaca que o BB segue surpreendendo e que a carteira de crédito agro foi o grande destaque. “Estamos otimistas com o operacional do banco caso consiga dar continuidade a estratégia corrente. No entanto, com o novo mandato presidencial começando, podemos ver mudanças no alto escalão do banco. Se não fosse esse risco político, certamente a diferença de valuation iria fechar rapidamente estimulados pelos bons resultados. De qualquer forma, acreditamos que o mercado irá reagir positivamente ao 3T22, principalmente após os resultados fracos de Bradesco e Santander com ROEs de 13,5% e 15,2% no 3T22, respectivamente”, afirma.

Na mesma linha, a Eleven destaca que é comum, no ano eleitoral, ver estatais descolando dos seus fundamentos, como tem sido visto com Banco do Brasil (BBAS3). Assim, apesar da expectativa positiva, mantém a recomendação
neutra e preço-alvo de R$ 46. “A ação BBAS3 já registra o melhor desempenho no acumulado de 2022 dentre os grandes bancos listados e acreditamos que esse bom momento de evolução do resultado já esteja precificado. (…) Portanto, mantemos uma visão mais cautelosa para BBAS3”, avalia.

A Eleven aponta que o BB vem conseguindo ser o maior beneficiado do patamar das taxas de juros no seu resultado de tesouraria, além de ter uma carteira de crédito que está conseguindo surfar o ótimo momento de desenvolvimento e expansão do crédito agrícola no sistema financeiro nacional. “Em paralelo, o ótimo trabalho no controle de despesas, apenas
6% de avanço no ano contra ano no acumulado dos últimos 9 meses, faz com que o banco ganhe eficiência operacional de forma bastante relevante”, aponta.

Já em relação a preocupações com a deterioração da inadimplência, a Levante ressalta que de fato esse é um indicador que tem causado estresse na maioria dos players do setor que já divulgaram seus resultados e têm exposição relevante aos segmentos pessoa física e PME’s (pequenas e médias empresas). “No entanto, dentre os bancos incumbentes, vemos a
carteira atual do Banco do Brasil bem posicionada para atravessar momentos de maior turbulência, além de vermos uma tendência de crescimento do segmento agronegócio no pool total como mecanismo de defesa à exposição aos produtos e segmentos de maior risco”, avalia.

Ademais, o banco hoje negocia a múltiplos financeiros muito abaixo da sua média histórica, avalia a Levante, mas também reforçando que essa “trava” de valor está diretamente correlacionada com a falta de clareza sobre quais serão as diretrizes de gestão do banco com a transição de mandato do poder executivo federal.

“Caso o caráter adotado seja de incentivo às políticas sociais através da concessão de crédito subsidiado ou direcionamento de carteira para produtos específicos com menores spreads, é natural que a rentabilidade do banco se deteriore e, consequentemente, os múltiplos financeiros voltem a convergir para a média via efeito de revisão de lucro para baixo. Com isso, preferimos permanecer cautelosos quanto a uma eventual recomendação de compra, enquanto não tivermos mais clareza sobre quais serão os caminhos que devem ser percorridos”, aponta.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.