Banco do Brasil (BBAS3): após recorde em 2023, até onde ação da estatal pode ir neste ano?

Analistas de mercado projetam, em sua maioria, resultados sólidos, mas há quem veja menos ímpeto para lucros

Lara Rizério

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As ações do Banco do Brasil (BBAS3) encerraram o ano passado na máxima histórica, de R$ 55,39, fruto de uma alta de 76% ao longo do ano. Após a valorização, o banco propôs aos acionistas desdobrar cada ação em duas, sem alteração do capital social, o que também dividiria a cotação e tornaria os papéis mais acessíveis a pequenos investidores. A assembleia geral extraordinária que votará a proposta de desdobramento foi marcada para o dia 2 de fevereiro. Já os resultados do quarto trimestre e de 2023 serão revelados no dia 8 de fevereiro.

A alta das ações do banco público foi a maior entre os grandes bancos brasileiros que têm capital aberto. Questões como a rentabilidade acima de 20% em um ano desafiador para os bancos de varejo, o crescimento da carteira de crédito a dois dígitos e a inadimplência abaixo dos pares impulsionaram os papéis.

Os resultados reduziram os temores do mercado com possíveis guinadas na estratégia do banco com a mudança do governo, dado que a União é a controladora do BB. A presidente do banco, Tarciana Medeiros, e os demais membros do comitê executivo que ela formou são funcionários de carreira do conglomerado.

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O governo federal detém pouco mais de 50% das ações do BB, enquanto 49,6% dos papéis estão em livre circulação no mercado, e outros 0,4% correspondem às ações que o banco mantém em tesouraria. Em setembro do ano passado, 25,5% do capital estava com investidores estrangeiros, e 24,1%, com acionistas minoritários locais, segundo o BB.

Para 2024, analistas de mercado se dividem sobre se as ações seguirão atrativas ou se o ímpeto de crescimento de lucros já passou.

Após a projeção de um ano passado positivo, que efetivamente ocorreu, o Itaú BBA segue com compra para os ativos. “O papel começou 2023 como nossa principal escolha entre os bancos brasileiros. Não era uma escolha óbvia, diante da incerteza política e da queda nas taxas de juros. Mas, após nove meses, foi o único banco brasileiro que entregou mais crescimento na carteira de empréstimos e receita líquida de juros (NII) do que inicialmente previsto, sustentando um forte crescimento de 11% nos lucros, com retorno sobre o patrimônio (ROEs) superiores a 20%”, avalia.

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O Goldman Sachs, em relatório de prévia de resultados do 4T23, manteve recomendação de compra para BBAS3; para o banco americano, a instituição financeira estatal seguirá sendo destaque dos resultados ao lado do Itaú (ITUB4).

“Projetamos lucro recorrente de R$ 9,2 bilhões (+4% no trimestre, +1% no ano), com um ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido) saudável de 21,7%, expandindo 41 pontos-base no trimestre”, avalia o Goldman, apontando que esses números devem ser impulsionados por menores provisões para perdas com empréstimos e fortes receitas de taxas, enquanto a margem financeira deverá ficar quase estável, dados os spreads mais baixos, apesar do forte crescimento dos empréstimos. “Prevemos um crescimento dos empréstimos de 10% em termos anuais, ultrapassando os da indústria, dadas as tendências ainda fortes para os empréstimos rurais”, apontam os analistas.

A Genial Investimentos também recomenda compra para os ativos, com preço-alvo de R$ 64,90. “Antecipamos outro trimestre positivo para o Banco do Brasil e projetamos um 2024 sem grandes surpresas, mantendo a consistência no bom desempenho que o banco tem apresentado. Para o 4T23, nossas estimativas consideram um lucro líquido recorrente de R$ 9,1 bilhões (+3,3% trimestralmente e +0,4% ano a ano)”, avalia.

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O movimento lateralizado de lucro em comparação anual pode ser atribuído a três eventos na categoria de ‘outras receitas/despesas’ que ajudaram o 4T22, avalia a Genial: (i) bônus e incentivos de bandeiras operadas pelo BB; (ii) reversão de provisão de impairments; e (iii) desempenho de empresas controladas não financeiras. Apesar da lateralização anual, o lucro leva a uma rentabilidade (ROE) de 21%, refletindo o bom momento do BB nesse ciclo de crédito, suportada por uma carteira de crédito mais defensiva.

Já para o fechamento do ano de 2023, os analistas projetam um lucro de R$ 35 bilhões (no ponto médio do guidance do banco), alcançando uma rentabilidade de 20,7% de ROE. “Esse desempenho supera significativamente vários bancos privados e representa uma notável melhoria em relação aos 8,5% reportados em 2016”, avalia.

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Do outro lado, o cenário um pouco mais “modesto” para o BB em 2024 leva a uma recomendação neutra para algumas casas. No fim de 2023, o Bradesco BBI cortou a recomendação dos ativos de compra para neutra e fez uma redução média de 4% em suas estimativas de lucro líquido para 2024 e 2025, combinado com uma margem de segurança mais estreita após o forte desempenho do preço das ações do banco.

Antes disso, em novembro, o Safra havia cortado a recomendação, destacando que o lucro e o retorno do banco estatal teriam atingido o seu pico. Os analistas projetam crescimento de lucros contido ante os concorrentes no setor privado. É estimado um lucro de R$ 37 bilhões para 2024 e de R$ 37,963 bilhões em 2025. “O principal risco ascendente para os bancos abrangidos pela nossa cobertura reside em uma redução do custo do risco à medida que os empréstimos inadimplentes são anulados, o que poderá ser seguido por um aumento na originação de crédito não garantido”, apontou.

Contudo, a visão segue positiva para a maior parte dos analistas de mercado. De acordo com compilação LSEG, de 14 casas que cobrem a ação, 13 têm recomendação e uma neutra (além da recomendação do Safra, que não faz parte da compilação). O preço-alvo médio é de R$ 64,14, ou potencial de valorização de 16% frente o fechamento de sexta-feira (12).

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(com Estadão Conteúdo)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.