Banco Central eleva Selic em 0,75 p.p., para 3,5% ao ano, e sinaliza mais uma alta na mesma magnitude

Decisão seguiu o que esperava a maior parte dos analistas após BC ter apontado na reunião anterior uma alta desta magnitude agora

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu nesta quarta-feira (5) elevar a Selic em 0,75 ponto percentual, para 3,50% ao ano, na segunda alta seguida de juros, e sinalizou uma nova alta da mesma magnitude em sua próxima reunião, em junho.

A decisão desta quarta seguiu o que esperava a maior parte dos analistas, principalmente após o Banco Central ter indicado na decisão anterior que previa uma alta desta magnitude agora.

Analistas avaliam que este ciclo de alta de juros é uma estratégia do BC para controlar as perspectivas inflacionárias e evitar que as projeções para 2022 subam. Diante disso, há quem defenda que a autoridade monetária devesse ser ainda mais incisiva ao elevar a Selic.

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O país tem sofrido uma escalada da inflação, sob a pressão da alta de preços de commodities e de combustíveis, mesmo em meio à intensificação das medidas de restrição devido ao recrudescimento da pandemia de Covid-19.

O IPCA superou os 6% nos 12 meses até março, acima do teto da meta deste ano, que é de 3,75%, com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos. Expectativa do mercado é que a inflação feche o ano em 5,04%, segundo a mais recente pesquisa Focus do BC.

Para 2022, horizonte em que está agora focada a política monetária, as expectativas do mercado apontam para uma inflação de 3,61%, acima da meta central para o período, que é de 3,5%, também sujeita à margem de tolerância.

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Ao elevar os juros em março, o BC anunciou estar dando início a um processo de “normalização parcial” da política monetária, indicando a intenção de ainda manter um estímulo à economia, com os juros abaixo do patamar considerado neutro (6,5%, segundo cenário básico citado pelo BC no mês passado).

Próximos passos 

A atenção do mercado agora fica para os próximos passos e sinalizações de até onde a alta de juros irá. No mais recente relatório Focus, que compila as análises de diversos economistas, a projeção era que a Selic encerrasse 2021 em 5,5%.

Analistas olham principalmente para as comunicações do BC sobre a inflação e o balanço de riscos atrelados aos possíveis ruídos políticos, dois dos principais pontos que podem guiar a política monetária nos próximos meses.

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Além disso, vários especialistas já apontaram um cenário de normalização da taxa de juros ao longo dos próximos meses como um possível fator de impacto no câmbio, apoiando o real ao atrair fluxos estrangeiros devido à maior atratividade de rendimentos locais.

No comunicado, o Copom destacou exatamente essa posição, de que a decisão “reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2022”.

“Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de estabilização de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, diz o documento.

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“Neste momento, o cenário básico do Copom indica ser apropriada uma normalização parcial da taxa de juros, com a manutenção de algum estímulo monetário ao longo do processo de recuperação econômica. O comitê enfatiza, entretanto, que não há compromisso com essa posição e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação”, diz o comunicado.

O BC ainda deixou a porta aberta para continuar com a alta de juros: “para a próxima reunião, o Comitê antevê a continuação do processo de normalização parcial do estímulo monetário com outro ajuste da mesma magnitude. O Copom ressalta que essa visão continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”.

Alguns analistas apontavam que o BC poderia retirar do comunicado o trecho que faz menção ao processo de “normalização parcial da taxa”. Se a frase fosse excluída, agentes poderiam interpretar que a autoridade monetária elevaria os juros antes do esperado ou em maior intensidade. Esse era um dos principais pontos de atenção sobre o comunicado.

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Ao mencionar “outro ajuste da mesma magnitude” o BC também indica que deve fazer uma nova elevação de 0,75 ponto percentual na próxima reunião, marcada para os dias 15 a 16 de junho.

Confira o comunicado na íntegra:

Em sua 238ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 3,50% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.

Por um lado, o processo de recuperação econômica dos efeitos da pandemia pode ser mais lento do que o estimado, produzindo trajetória de inflação abaixo do esperado.

Por outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem pressionar ainda mais os prêmios de risco do país. O risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.

O Copom reitera que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual, para 3,50% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2022. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de estabilização de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

Neste momento, o cenário básico do Copom indica ser apropriada uma normalização parcial da taxa de juros, com a manutenção de algum estímulo monetário ao longo do processo de recuperação econômica. O comitê enfatiza, entretanto, que não há compromisso com essa posição e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação.

Para a próxima reunião, o Comitê antevê a continuação do processo de normalização parcial do estímulo monetário com outro ajuste da mesma magnitude. O Copom ressalta que essa visão continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fabio Kanczuk, Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

(com Reuters)

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.