Banco Central eleva o tom para conter otimismo com juro em 2023

Mercado de juros parece ter corrigido o "otimismo" com o alívio monetário.

Estadão Conteúdo

Logo do Banco Central na fachada da sede (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Logo do Banco Central na fachada da sede (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

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O tom mais duro da diretoria do Banco Central (BC) no início de setembro visa, mais do que sinalizar um aumento de juros residual este mês, contornar um “otimismo exagerado” do mercado, o que ajudou a apagar da curva de juros as apostas em cortes antecipados da Selic em 2023. Essa é a avaliação de economistas consultados pelo Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. Apesar da ênfase dos dirigentes à chance de um “aumento residual” da taxa básica em setembro, os analistas ouvidos não mudaram a avaliação sobre o fim do ciclo atual.

Na noite de segunda-feira, 5, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, retomou as discussões sobre uma possível alta residual da taxa básica de juros, a Selic, no Comitê de Política Monetária (Copom) de setembro, ao dizer que a mensagem do encontro mais recente segue válida, e completou que o comitê não pensa em queda de juros neste momento. A taxa está em 13,75% ao ano, e o Copom sinalizou, em agosto, que vai avaliar um possível ajuste de 0,25 ponto porcentual este mês.

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Na manhã de terça-feira, 6, o diretor de Política Monetária, Bruno Serra, destacou que o BC já foi muito surpreendido no atual ciclo de aperto monetário e que é preciso cautela no encerramento, apesar de grande parte da alta de juros ainda não ter tido efeito. Além disso, destacou que é inconsistente a discussão do mercado de queda de juros rápida com alta das projeções de inflação de 2024.

O BC mira como horizonte relevante o primeiro trimestre de 2024. Serra afirmou que o avanço das expectativas do referido ano tem incomodado o BC. As medianas das estimativas do mercado no mais recente relatório Focus mostram o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – a inflação oficial – de 5,27% em 2023 e de 3,43% em 2024, ambas acima do centro da meta, de 3,25% e 3,0%, respectivamente, enquanto o BC projeta 4,6% e 2,7%.

No Boletim Focus divulgado na segunda-feira, a mediana aponta para a Selic em 13,75% no fim deste ano e o primeiro corte em junho próximo, para 13,50%, terminando 2023 em 11,25%.

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Mercado ajusta previsões, mas não aposta em alta da Selic

Após a fala do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, na noite de segunda-feira, e a do diretor de Política Monetária, Bruno Serra, na manhã de terça, o mercado de juros parece ter corrigido o “otimismo” com o alívio monetário. Por volta das 14h30min de terça-feira, a curva indicava redução de 290 pontos-base da Selic em 2023, a pouco mais de 11%, ante 330 pontos na véspera, nas contas do economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano.

Para setembro, a precificação é de 40% de chance de um aumento de 0,25 ponto. “Acho que eles quiseram tirar ou diminuir essas precificações de corte tão cedo, até porque a inflação projetada ainda está acima da meta”, afirmou o economista-chefe da Garde Asset, Daniel Weeks, que mantém a previsão de a Selic fechar o ciclo em 13,75%.

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Para Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco Alfa, as falas de Campos Neto e de Serra serviram como um esforço de diminuir as apostas em um início rápido do ciclo de cortes, especialmente quando as expectativas de inflação continuam acima do centro da meta. “Está dando um recado para o mercado, dizendo que está muito otimista com relação à queda dos juros no ano que vem”, disse. “Para o BC, não interessa ter o mercado muito otimista com o início do ciclo de corte de juros quando você está em um processo de elevação das taxas.” Após as falas dos dirigentes do BC, Leal manteve a projeção de Selic de 13,75% no fim do ciclo de altas.

Para Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, a maior preocupação do BC é chegar a “uma eventual pausa em setembro desautorizando o mercado a entrar em um ‘oba-oba’ de projeção de corte prematuro de juros”. “Há um desafio enorme de desinflação para o centro da meta de 3%.”

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