Banco Central deveria acelerar aumentos de juros agora para não correr atrás da inflação depois, diz economista do BNP

Gustavo Arruda criticou as declarações recentes do presidente do BC e defendeu um aumento 1,5 p.p. no próximo Copom

Ricardo Bomfim

(Pexels)

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SÃO PAULO – O chefe de pesquisa do BNP Paribas para América Latina, Gustavo Arruda, não gostou da sinalização do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que a autoridade monetária não reagirá a cada divulgação de dado de alta frequência.

Segundo Arruda, o BC deveria, já na reunião do dia 21 de setembro, elevar a taxa básica de juros em 1,5 ponto percentual, tirando a Selic de 5,25% para 6,75% ao ano, possibilidade que foi completamente descartada pela última declaração de Campos Neto.

Na avaliação do economista, há um combinado de forças que atrapalha a inflação de convergir para níveis mais baixos. “A inflação está desancorando e, quando isso acontece, cada vez mais as pessoas olham para a inflação que ocorreu lá atrás e prestam menos atenção na meta para frente. A difusão da inflação hoje está muito próxima de períodos anteriores ao impeachment da presidente Dilma Rousseff”, explica.

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Arruda projeta que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique em 4,5% no ano que vem depois de fechar 2021 em 9%. De acordo com ele, o BNP está menos confiante do que outros bancos e corretoras a respeito da ajuda da descompressão dos preços de energia elétrica na inflação a partir de 2022.

“Passaremos muito tempo tentando repor o nível dos reservatórios, o que será conseguido só se o governo manter as termelétricas, mais caras, ligadas por mais tempo”, aponta.

Ele ainda se diz preocupado com a inércia inflacionária. “O setor de serviços está muito atrasado. Planos de saúde este ano tiveram reajustes negativos e educação também segurou muito o aumento de preços”, comenta.

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Arruda questiona se com a política monetária nacional ainda no campo expansionista (Selic abaixo de 6,5% ao ano) por que o BC não faria um aperto de juros mais rápido? “Acreditávamos ser prudente o BC acelerar o ciclo de alta já nesta reunião. Por enquanto, só vamos chegar no ponto neutro de política monetária. O ciclo de aperto está rápido para os padrões históricos, mas só porque veio de um nível muito baixo”.

O economista acredita que se o ciclo demorar para trazer as expectativas para baixo, o Brasil pode voltar a ver as projeções de longo prazo de inflação caminharem para 5%, na contramão do caminho iniciado no governo Temer.

“A demora em trazer a Selic para o campo contracionista pode atrapalhar, porque quando demoramos e não fazemos logo o que é necessário, temos que fazer mais lá na frente. A ação necessária para trazer a inflação para a meta é bem grande”, defende ele.

O BNP projeta que a taxa básica de juros terá que ser elevada até 10% ao ano em 2022 para que a inflação volte a se aproximar da meta do BC, atualmente em 3,75% para 2021.

Economia tem ajuda do exterior

Apesar das preocupações com a inflação, Arruda entende que a recuperação da economia global continua em 2022 e que, com o pacote trilionário de infraestrutura do governo do democrata Joe Biden nos Estados Unidos, os preços de commodities devem continuar em trajetória de alta mesmo com as pressões regulatórias da China.

“O crescimento do Brasil por fatores estruturais veio principalmente do preço de commodities, com algo de impulso monetário e muito pouco de fiscal. A vacinação está indo bem, aquele risco que tínhamos seis meses atrás de atraso na entrega e demora na imunização não existe mais”, diz.

Por aqui, o economista prevê que o pagamento dos precatórios será deixado de fora do teto de gastos, o que, na visão dele, não seria um problema, pois o fundamento da regra do teto é obrigar os governantes a pensarem bem nas suas políticas públicas de 2016 em diante, ao passo que os precatórios são resultado de dívidas contraídas pelo Estado muitos anos atrás.

Outro risco monitorado pelo BNP é a crise hídrica, sobre a qual Arruda lamenta que os dados estejam cada vez mais preocupantes. “Em um cenário mais extremo, conseguimos chegar a um [Produto Interno Bruto] PIB perto de zero no ano que vem. É um potencial de impacto com dificuldade de medir”, conclui.

O BNP espera que o PIB brasileiro cresça 5% em 2021 e 1,5% em 2022. Antes, a projeção era de crescimento de 5,5% em 2021 e de 3% em 2022.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.