Banco Central aponta maior conforto com a inflação, mas vê reforma da Previdência como preponderante

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto participou hoje da Expert XP 2019, em São Paulo

Beatriz Cutait

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SÃO PAULO – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicou hoje, durante apresentação na Expert XP 2019, em São Paulo, maior conforto com as taxas de inflação, apontou a reforma da Previdência como “preponderante” e destacou que o cenário externo se encontra menos adverso, embora haja novos desafios, em um contexto de desaceleração global.

“Estamos mais confortáveis com a inflação. Vamos aguardar até a próxima reunião para ver como os fatores se comportam”, disse Campos Neto. “Agora é um debate da intensidade, de avaliar todos os fatores e qual o passo a ser dado para garantir a inflação de longo prazo na meta, com credibilidade.”

Em apresentação intitulada “Os desafios da condução de política monetária na atual conjuntura econômica”, Campos Neto afirmou que a inflação está bem ancorada, com inflação implícita e juros longos muito mais baixos. “Acho que tem alguma credibilidade ao que tem sido feito”, disse.

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No texto preparado para o evento, o presidente reforçou, contudo, que, “apesar da evolução favorável do balanço de riscos para a inflação, neste momento, ainda existem riscos inflacionários relevantes”.

Em relação à meta de inflação de 3,5% para 2022, o presidente do BC afirmou já enxergar um movimento de conversão de parte do mercado e disse haver espaço para conviver com uma inflação mais baixa, como parte de um programa de longo prazo.

Riscos

Na cena externa, o cenário se encontra “menos adverso”, diante de mudanças nas perspectivas para a política monetária nas principais economias, mas há novos desafios. Há uma preocupação de que mecanismos existentes não funcionem, em um contexto de taxas de juros baixas ou até negativas.

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Já no Brasil, a maior incerteza parte hoje da reforma da Previdência. Embora tenha ressaltado que outras reformas são  importantes para o país e que a instituição está atenta a outras formas de ruído sobre a inflação, o presidente destacou que a previdenciária é a principal no momento.

Há também um monitoramento do hiato do produto (a diferença entre o PIB corrente e o potencial), e o presidente do Banco Central disse que a instituição tem tentado comunicar a todos a forma como está analisando a questão. “O Banco Central tem enorme preocupação com crescimento, não existe dizer que não tem”, salientou Campos Neto, para quem a receita para um crescimento no longo prazo é uma inflação sob controle num regime de credibilidade.

Agenda do BC

O presidente do BC reiterou ainda que a taxa Selic está estimulativa para o médio prazo, o que explica a economia ainda não esboçar reação em termos de crescimento, e defendeu as microreformas em curso.

“Por que a gente insiste tanto nas microreformas? Porque realmente acredito que temos um problema macro que vamos resolver, mas um problema micro que é fundamental”, disse Campos Neto, reforçando o peso dessa agenda sobre a atividade econômica.

A reforma do sistema financeiro, com maior inclusão em termos de crédito, com mais transparência, diminuição de custos de intermediação e mais tecnologia, está no foco.

A chamada “Agenda BC#” visa democratização do setor financeiro, e conta ainda com propostas de microcrédito, Cadastro Positivo, divulgação de requisitos para implementação do open banking, iniciativa de mercado de capitais e a própria racionalização do compulsório, recentemente anunciada. “Gostaria de enfatizar que são mudanças estruturais, não estão ligadas a política monetária”, frisou o presidente do Banco Central.

Cena externa

Após encontro recente com dirigentes de bancos centrais na Suíça, Campos Neto destacou que o grande debate esteve no tema da desaceleração global, com mudanças nas expectativas de juros nos Estados Unidos, na Europa e no Reino Unido. O presidente do BC destacou ter havido uma reprecificação “bastante grande, rápida e sincronizada das taxas de juros”.

Há uma conexão, por parte do mercado, da desaceleração com a questão da guerra comercial, travada principalmente entre Estados Unidos e China. Dentre os efeitos da guerra no médio prazo, Campos Neto citou o deslocamento de parte das cadeias produtivas, com empresas alterando plantas de lugar, o que preocupa o presidente, por sinalizar que as mudanças estão sendo percebidas como de mais longa duração.

Em relação ao impacto da guerra comercial sobre a economia brasileira, Campos Neto observou que, ainda que o Brasil seja um país relativamente fechado, ele pode sofrer o efeito da questão, dado que decisões estão sendo adiadas por conta dos conflitos.

Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.