Balanços nos EUA surpreendem, mas não movem mercado para cima, avalia XP

Próximo do fim da temporada de balanços nos Estados Unidos, com 97% dos resultados já divulgados, a XP observa que os números surpreenderam para cima, mas que não foram capazes de gerar um forte movimento de alta na sequência.

A justificativa, segundo a equipe de análise da XP, é que boa parte disso já teria sido antecipada.

“Apesar de não haver dúvidas quanto à surpresa positiva que essa temporada entregou em termos de resultados corporativos, acreditamos que não foi suficiente para mover o mercado para cima, pois o mercado já havia antecipado e, assim, precificado grande parte do movimento”, destaca a equipe, em relatório.

Segundo eles, o percentual de companhias que bateram as estimativas de lucro previstas pelo mercado chegou a 79% até agora, o que seria o maior número desde meados de 2021. No entanto, os especialistas observam que a reação dos agentes teria sido neutra.

Os profissionais lembram que, ao olhar o desempenho das ações no pregão seguinte ao resultado e fazendo uma comparação com a performance do S&P 500 no mesmo dia, o ponto médio teria ficado em 0,1% a mais. Ou seja, praticamente em linha com a sessão anterior, o que seria o menor número desde o quarto trimestre de 2020, observa a equipe.

Outro aspecto a ser analisado são as revisões das estimativas dos analistas para os trimestres seguintes. Um dos pontos que chamam a atenção é que, apesar da forte revisão para cima das estimativas do segundo trimestre conforme os números reais entravam na conta, os dados do terceiro e quarto trimestres não seguiram a mesma trajetória e ficaram estáveis no período, ponderam os especialistas.

Disparidade entre setores

Chama a atenção também a discrepância forte entre os setores registrada neste trimestre. A equipe reforça que o setor de consumo discricionário teria sido o grande destaque, com sólido crescimento de receita e lucro. Apesar dos números fortes no último trimestre, a XP observa que a expectativa de desaceleração econômica nos Estados Unidos representa um risco para os guidances das empresas desse setor.

“O repasse de preços é uma questão sensível à medida que a massa de renda disponível do consumidor cai”, lembram os profissionais.

Embora algumas companhias tenham conseguido elevar os preços, como é o caso de Starbucks, outras já sofrem com a queda de receita, como a Kraft Heinz, avaliam os especialistas.

Em contrapartida, os setores de materiais básicos e de energia teriam decepcionado, com contração nas receitas e no lucro no comparativo anual. “Foram os grandes responsáveis pelo número negativo do índice agregado”, destacam.

Tecnologia

No quesito empresas de tecnologia, um dos setores mais esperados de toda a temporada, os especialistas avaliam que é preciso analisar caso a caso.

Ao comentar sobre a Microsoft, a equipe ressaltou que a companhia afirmou no balanço que as novas tecnologias deverão provocar aumento de receita, de forma gradual, o que desagradou o mercado.

Por outro lado, a Nvidia já conseguiu se aproveitar da corrida por inteligência artificial e apresentou crescimento surpreendente de lucro e receita.

Os analistas destacaram que a receita da fabricante de chips subiu nada menos que 101,6% em relação ao mesmo período no ano anterior e atingiu US$ 13,5 bilhões. Os lucros da companhia também dispararam mais de 400%, levando a margem bruta da empresa a atingir 71,2%, o que é um recorde histórico, lembram os especialistas.

Os profissionais observam ainda que o guidance de receita para o próximo trimestre foi anunciado em US$ 16 bilhões, ou seja, muito acima dos US$ 12,6 bilhões que o mercado previa. Além disso, a empresa anunciou um programa de recompra de ações de US$ 25 bilhões, o que ofereceu maior suporte ao preço da ação, que já sobe mais de 200% no ano.

Já a maior empresa do mundo em valor de mercado, a Apple, tem enfrentado demanda abaixo do esperado para sua principal linha de negócios, a venda de smartphones; em contrapartida, a companhia tem elevado sua receita com serviços, destacaram os profissionais.