Balanço da Orizon (ORVR3) mostra “dor do crescimento” no 4º tri; ações sobem na B3

Empresa incorporou nove ativos novos no balanço no decorrer do ano e mudança na estratégia da venda de carbono influenciaram nos números contábeis

Rikardy Tooge

Orizon Ecoparque de Nova Iguaçu (RJ) Divulgação

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Os balanços da Orizon (ORVR3) no último ano demonstram um pouco da “dor” do crescimento da empresa focada na gestão de resíduos, na avaliação do CEO Milton Pilão Junior. Em 2022, a companhia consolidou nove ativos novos em seu balanço.

Sob este contexto, prossegue o executivo, a companhia de tratamento e valorização de resíduos tem um desafio de mostrar ao mercado o real desempenho operacional. “Atualmente, os números contábeis estão descolado do operacional, mas, a partir de agora, entendemos que os números vão convergir”, explica Pilão Junior, ao InfoMoney.

Pelo desempenho de tela, os investidores acompanharam a tese. A ação da Orizon fechou com alta de 2,52% nesta quinta-feira (30), a R$ 36,51.

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A primeira linha do balanço exemplifica o momento da companhia. No quarto trimestre, a Orizon registrou receita líquida de R$ 179,2 milhões, alta de 15,3% sobre igual período de 2021. No entanto, por conta de uma mudança de metodologia que a empresa está empregando para comercializar carbono, cerca de R$ 27,7 milhões de faturamento não puderam entrar na peça.

No ano, o desempenho chegou a R$ 626,2 milhões – sem contar o ganho do carbono – desempenho recorde para a Orizon.

Para o Credit Suisse, os números da Orizon vieram mais fracos que o esperado por ela e pelo consenso do mercado. O ponto principal foi uma entrega pior nos preços médios que o previsto nos aterros sanitários.

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“Em uma base anual, os resultados refletiram a incorporação de novos ativos e foram afetados pela falta de venda de créditos de carbono, apesar da maior produção”, escreveu o banco, que tem recomendação de compra para o papel.

Também registrou recorde o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), que alcançou R$ 79,1 milhões, com alta de 3% sobre o 4T21. No ano, o Ebitda contábil somou R$ 226,3 milhões, com alta de 70%.

Com ajustes de receitas não recorrentes, o índice ficou em R$ 64,4 milhões no 4T22, uma queda de 16% em relação ao 4T21. Caso os créditos de carbono, ajuste de depreciação e prejuízos em ativos pudessem entrar na conta, o Ebitda poderia ter somado R$ 101,8 milhões.

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“Na nossa avaliação, nosso Ebitda ‘running’ é este. Se levarmos em conta que temos previsibilidade de receita, estamos falando de um Ebtida anualizado de mais de R$ 400 milhões”, aponta o CEO da Orizon, Milton Pilão Junior.

Resultado líquido e alavancagem

A última linha do balanço apresenta um prejuízo líquido de R$ 55,8 milhões no 4T22, ampliando em 271% o resultado negativo de um ano antes (R$ 15 milhões). Em todo o ano passado, o prejuízo líquido foi de R$ 115,1 milhões, alta de 107% sobre 2021, quando o desempenho ficou negativo em R$ 55,5 milhões.

Em síntese, empresa explicou o resultado ao mercado por ter sido “impactado principalmente: (a) pela ausência de receita de créditos de carbono (R$ 93,8 milhões), (b) efeito de despesas financeiras sem efeito caixa (R$ 33,9 milhões), (c) juros de empréstimos que foram utilizados para suportar as recentes aquisições e projetos greenfields, que trarão geração de caixa significativa no futuro; e (d) performance negativa de ativos em ramp-up”.

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No entanto, o CEO da Orizon reforça que o prejuízo não teve efeito caixa. Segundo Pilão Junior, o pagamento da compra de um ativo com a troca de ação, por exemplo, impactou o caixa em cerca de R$ 30 milhões – isso porque a ação se valorizou entre a celebração do acordo e o closing.

“Apesar do crescimento de volume em todas as linhas de negócio, que diluiu os custos fixos, a margem bruta diminuiu ligeiramente de 41% para 38% ano contra ano devido à entrada de ativos adquiridos com margens mais baixas”, avaliou a XP, que considera o resultado ‘neutro’. A empresa também recomenda a compra da ação.

Nos cálculos da Orizon, levando em conta a questão do carbono, a relação dívida líquida por Ebitda está rodando em 2,7 vezes, abaixo do nível de 3 vezes considerado o saudável pela companhia. O endividamento líquido da companhia soma R$ 842,3 milhões.

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Ao não se levar em conta todo ajuste contábil, a alavancagem encerrou 2022 rodando a 3,72 vezes. “Isso no nosso pior momento de alavancagem, sem a maturação de nossos ativos e nem a receita do carbono”, reforça o CEO da Orizon.

O BTG destacou que os números apresentados pela Orizon são considerados sólidos e também recomenda compra do papel. Na avaliação do banco, a empresa ainda tem espaço para novas aquisições e fusões neste ano, diante da alta fragmentação no setor que gere resíduos. Mesma avaliação faz o Credit Suisse.

M&As oportunísticos

Neste sentido, Milton Pilão Junior destaca que a companhia segue de olho em novas aquisições, mas elas serão “oportunísticas”. Na prática, a empresa olhará a formatação do projeto e buscará ativos que ofereçam menor uso do caixa. A expectativa é de que até cinco aquisições poderiam ser feitas nesta lógica.

Por fim, o CEO destaca que a Orizon entrou em 2023 capitalizada por uma emissão de R$ 400 milhões em debentures, em que R$ 210,8 milhões foram destinados à antecipação de dívidas e o restante será utilizado para financiar a expansão da companhia.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br