B3 está preparada? Como os analistas veem a possível concorrência para a operadora da Bolsa

B3 adaptou seu modelo de negócios para enfrentar esse risco nos últimos anos, mas expectativa é de incerteza até que haja mais sinalizações sobre nova operadora

Lara Rizério

Publicidade

As ações da operadora da Bolsa brasileira B3 (B3SA3) sofreram um baque na sessão da última sexta-feira (1), em queda de 3,20% com as notícias (não confirmadas) de que o Mubadala Capital estaria prestes a abrir uma concorrente em 2025. O plano foi noticiado inicialmente pelo O Globo e teve confirmações da Bloomberg e Valor.

A nova empresa deverá ter sede no Rio de Janeiro e iniciar operações no segundo semestre do próximo ano, atuando em ações, derivativos, câmbio e outros. Além disso, segundo a matéria, Claudio Pracownik (ex-Ágora e Genial) será o CEO da empresa, o que ainda não foi divulgado. Posteriormente, o Valor Econômico também noticiou os planos da ATG de lançar uma exchange em 2025.

“Embora esperemos mais detalhes sobre a potencial nova Bolsa de valores, observamos que a concorrência é um risco bem conhecido para a B3, especialmente depois que o Mubadala Capital adquiriu uma participação majoritária no Americas Trading Group (ATG) em fevereiro de 2023”, aponta o Goldman Sachs.

Continua depois da publicidade

Na opinião dos analistas do banco, a B3 adaptou seu modelo de negócios para enfrentar esse risco nos últimos anos, por meio de fusões e aquisições em dados e análises, redução de preços e lançamento de novos produtos. “No entanto, pensamos que isto poderá criar alguma incerteza até que haja mais visibilidade sobre a potencial nova Bolsa, conforme indicado pela queda das ações na sexta”, avalia o banco, que tem recomendação neutra para B3SA3, com preço-alvo de R$ 14, ou potencial de valorização de 13% frente o fechamento de sexta.

Em breve análise, o Bradesco BBI aponta que o aumento das operações pode ser um desafio em meio às atuais condições de mercado de volumes moderados. “Mesmo assim, as preocupações dos investidores com o aumento da concorrência pela B3 devem pesar sobre a ação”, avalia.

O Goldman ainda fez um cenário comparativo com o do México para avaliar o impacto potencial de uma nova concorrência. A BIVA entrou no mercado mexicano em 2018 para competir com a BMV na maioria dos seus nichos de negócios. Embora o crescimento da receita tenha variado ao longo do tempo, o Goldman observa que o crescimento da receita antes da concorrência (9% de crescimento médio anual composto, ou CAGR, entre 2013 e 2018) foi relativamente semelhante ao período subsequente (8% entre 2018 e 2023 de CAGR). O volume médio diário de negociação (ADTV) da BMV ficou praticamente inalterado na última década, com o CAGR crescendo em 2% entre 2013-2018 e 1% entre 2018-2023. O valuation da empresa diminuiu marginalmente, mas o declínio ocorreu principalmente após 2021, apontam os analistas do banco.

Continua depois da publicidade

Olhando para o mercado em geral, Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, também ressalta que outros países possuem mais de uma bolsa, sendo o caso mais “famoso” o dos EUA, com a Nasdaq mais especializada em ações de tecnologia.

“Entendo que isso [mais de uma operadora da Bolsa] é bom para as corretoras, para os bancos, que tem mais opções que acabam puxando o preço para baixo de algumas operações, de algumas custódias. Para o consumidor final também, que acaba pagando menos com essa concorrência maior, levando em conta que atualmente a B3 tem um monopólio sobre as transações”, avalia, ponderando que é preciso aguardar os próximos passos e como funcionaram as operações, já que as empresas possuem hoje “toda a cartilha preparada para negociar na B3″. ” O que vai acontecer, qual vai ser a estratégia das companhias, se vai ter migração, se vai ter uma busca por diversos IPOs na outra Bolsa, tudo será respondido aos poucos”, finalizou.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.