Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4): apesar de números melhores, analistas mantêm cautela e reduzem preço-alvo para ações

Custos elevados em um cenário de crescimento econômico mais baixo são obstáculos à rentabilidade das empresas

Mitchel Diniz

Preço das passagens aéreas foi um dos destaques de queda em abril

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Os números das companhias aéreas nos últimos trimestres podem até ter melhorado, mas as casas de análise continuam cautelosas em relação ao setor. XP e JP Morgan têm visões semelhantes sobre Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4), destacando um cenário ainda desafiador para ambas as empresas em 2023.

A XP manteve recomendação neutra para os dois papéis, mas reduziu o preço-alvo de ambos. Os analistas da casa observam que a lucratividade das aéreas listadas na B3 ainda não se recuperou totalmente.

Além da atividade econômica lenta, com um crescimento de apenas 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro previsto para este ano, a XP cita os custos significativamente mais altos. A estimativa é que as áreas lidem com o petróleo 44% mais caro em relação a 2019 e o dólar 34% mais alto, na mesma base de comparação.

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Os índices de alavancagem das permanecem elevados e as aéreas devem continuar queimando caixa em 2023, apesar das melhorias esperadas, disseram os analistas Pedro Bruno, Lucas Laghi e Matheus Sant’anna, em relatório.

“Observamos que o setor aéreo teve uma recuperação significativa de ASK [capacidade] desde a forte crise de demanda causada pelo COVID-19”, escreveram.

“No entanto, a indústria continua a enfrentar um importante desafio de custos implícito em preços cambiais e de petróleo significativamente mais elevados, o que, a nosso ver, implica um desafio à necessária recuperação da rentabilidade – especialmente em meio a um cenário de juros altos no Brasil.”

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Para os analistas da XP, disciplina da capacidade é o nome do jogo. A orientação das empresas indica crescimento total de ASK de 15% para Azul e de 23% para Gol. “Esperamos diferentes estratégias de alocação entre redes domésticas e internacionais”.

Na visão da XP, a Azul deve focar em restaurar presença internacional, enquanto a Gol se esforçará pare recuperar terreno no Brasil.

O cenário traçado pela equipe de análise para 2023 é mais saudável que o dos últimos anos. Mas as estimativas de margens, impactadas por custos elevados, ainda estão abaixo dos níveis pré-pandemia e não são suficientes para gerar fluxo de caixa livre.

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A XP tem preferência por AZUL4, por avaliar que o papel tem valuation mais atrativo, sendo negociado abaixo de sua média histórica. GOLL4, por sua vez, está menos descontada.

De qualquer forma, os dois papéis têm recomendação neutra e tiveram seus preços-alvos reduzidos. O de AZUL4 foi de R$ 30 para R$ 14 (potencial de valorização de 20,06% em relação ao fechamento da última sexta-feira).

Nome preferido da XP no setor aéreo brasileiro, a empresa tem maior exposição a hubs menos competitivo, o que confere maior poder de preficificação sobre os pares.

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“No entanto, temos preocupações importantes relacionadas à indústria, já que o setor aéreo é altamente dependente do cenário econômico doméstico, e nossa atual perspectiva macro nos impede de ter uma visão mais otimista no curto prazo”, ressalvam os analistas.

Eles também observam que a empresa trabalha com liquidez apertada e abaixo dos níveis históricos. O choque causado pela pandemia e um aumento acentuado dos combustíveis, com a guerra na Ucrânia, afetou a geração de fluxo de caixa.

Já o preço-alvo da XP para GOLL4 caiu de R$ 22 para R$ 9,10 por ação (upside de 15,19% em relação ao fechamento de sexta-feira). Os analistas destacam que o ASK da companhia continua abaixo dos níveis pré-pandemia, mas acreditam que essa lacuna deve começar a diminuir a partir deste ano.

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“Ganhos de eficiência, preços mais baratos dos combustíveis e yields mais elevados deverão trazer uma expansão da margem”, complementou a equipe de análise.

Azul também tem preferência do JPMorgan

Em relatório publicado na semana passada, o JPMorgan também atualizou suas estimativas para companhias aéreas da América Latina. Na avaliação do banco, o ambiente do setor tem “melhorado gradualmente”.

O JP cita um contínuo aumento de capacidade e uma queda de 30% nos preços do combustível de aviação na região, desde o pico alcançado no último mês de outubro.

“No entanto, mantemos uma visão relativamente cautelosa sobre as aéreas, comparando com outros segmentos que acompanhamos, pois acreditamos que o setor continua altamente exposto à volatilidade do câmbio e dos preços dos combustíveis”, escreveram os analistas Guilherme Mendes e Julia Orsi.

Mas as brasileiras ainda não são as top picks do JP. As preferidas do banco no momento são a mexicana Volaris e a panamenha Copa Airlines, ambas com classificação overweight, ou exposição acima da média do mercado (equivalente à compra).

“As operadoras latino-americanas ainda enfrentam um fardo pesado em termos de passivos, digerindo impactos causados pela pandemia de Covid-19. Isso ainda é mais visível para as operadoras brasileiras”, diz o relatório do JP.

A Azul, atualmente, tem classificação neutra pelo banco. Na avaliação dos analistas,  a empresa está em posição relativamente melhor em termos de concorrência no mercado doméstico brasileiro, dada sua exposição em rotas pouca explorada e que atendem a viajantes do setor industrial e agrícola.

“A Azul tem tem um balanço mais suave em relação aos seus pares locais”, destacam os analistas. “Mas ainda não fomos encorajados a lidar com os riscos macroeconômicos, relacionados, principalmente, aos preços dos combustíveis e ao câmbio”.

O preço-alvo do banco para AZUL4 é R$ 22,50, potencial de alta de 93% em relação ao fechamento da última sexta-feira (R$ 11,66).

Para o JP, o risco de liquidez é uma preocupação sobre as companhias aéreas brasileiras, mesmo acreditando que as empresas estão relativamente preparadas para enfrentá-lo no curto prazo.

Ainda assim, o banco manteve avaliação underweight (exposição abaixo da média do mercado, equivalente à venda) para as ações da Gol.

“Apesar das melhorias operacionais em trimestres recentes, vamos uma margem menor do que a de seus pares e um potencial de valorização limitado nos níveis atuais”, escreveram os analistas.

Por outro lado, o JPMorgan afirma que as iniciativas da gestão para melhorar seus balanços e reduzir custos, com uma postura mais cautelosa em relação à recuperação de capacidade, são bem-vindas.

O preço-alvo do banco para GOLL4 é de R$ 11,00, potencial de valorização de 39,2% em relação ao fechamento da última sexta-feira (R$ 7,90).

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados