Assaí (ASAI3): após derrocada de 9% na véspera com “risco Casino”, JPMorgan e Morgan Stanley mantêm otimismo com ação

JPMorgan diz que queda da véspera do Assaí pode ser oportunidade de compra, apesar de risco de "overhang" no curto prazo; Morgan eleva preço-alvo

Lara Rizério

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Na véspera, o movimento das ações da companhia de atacarejo Assaí (ASAI3) chamou a atenção, com os ativos como destaque de queda do Ibovespa ao fecharem em baixa de 9,22%, a R$ 17,92, às vésperas da divulgação do resultado do terceiro trimestre de 2022 (3T22), na próxima quinta-feira (20).

No começo do pregão de terça, as ações ASAI3 renovaram máxima histórica, mas reverteram os ganhos. A queda foi motivada por problemas de crédito do seu controlador, o grupo francês Casino.

O grupo tem em andamento um plano de venda de ativos para reduzir sua dívida, com uma meta de alienar o equivalente a 4,5 bilhões de euros até o final do próximo ano. O Casino divulgou ontem que concluiu a venda de seu negócio de energia renovável GreenYellow para a Ardian, levantando 600 milhões de euros, líquidos de 165 milhões em reinvestimentos, aumentando as especulações sobre novos desinvestimentos.

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Cabe destacar que o risco de crédito medido pelo CDS 5 anos do Casino subiu para 12.970 pontos-base, ante 3.977 pontos-base há apenas duas semanas, segundo compilação da Bloomberg.

Recentemente, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s rebaixou o rating do grupo francês para CCC+. Para o JPMorgan, contudo, os motivos para o rebaixamento não foram uma novidade, uma vez que o ambiente operacional do grupo está ficando mais difícil, com geração negativa de fluxo de caixa na França e seus vencimentos de dívida nos próximos 12 a 18 meses provavelmente dependendo de vendas de ativos para financiar resgates.

Quanto às operações da América Latina, uma nova reorganização societária na região visaria facilitar os desinvestimentos de ativos, na opinião dos analistas do banco O Casino descreveu o grupo Éxito como um “negócio maduro” e disse que poderia monetizar pelo menos algumas de suas operações no continente em algum momento. O Casino confirmou que os rendimentos de qualquer desinvestimento na região seriam usados ​​para desalavancar o grupo.

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Os analistas do JP destacaram que têm recebido várias perguntas nas últimas semanas sobre a implicação disso para as subsidiárias da América Latina, pois a controladora terá três ativos disponíveis para monetizar quando o Grupo Exito for desmembrado até abril/maio de 2023.

Para o JP, o Assaí é a fonte de financiamento mais fácil/rápida para o Casino entre as três subsidiárias que cobre. A visão do analista de crédito do banco, Neill Keaney, é que a deterioração implícita dos covenants ( cláusulas restritivas presentes em contratos de dívida, como limites ao endividamento e ao pagamento de dividendos) no 3T22 após a operação com  a GreenYellow pode significar uma aceleração do processo de alienação das subsidiárias da América Latina.

“Se for esse o caso, seríamos compradores do [ativo do] Assaí, apesar do overhang (pressão sobre as ações, com excesso de papéis no mercado) no curto prazo”, avalia o JP. Os analistas apontam que a empresa tem um dos perfis de crescimento mais fortes de sua cobertura e deve imprimir uma taxa de crescimento anual composta (CAGR, na sigla em inglês) do lucro por ação nos próximos cinco anos de 18%. Além disso, a hipótese de o Casino reduzir sua participação na empresa (ou até mesmo sair) amenizaria as preocupações de governança em torno do caso, especialmente se isso se traduzir em uma redução de assentos no conselho.

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Os analistas do JP cortaram as estimativas do lucro por ação para 2023 para o Assaí em cerca de 4%, prevendo uma expansão orgânica um pouco menor em 2023. Contudo, o preço-alvo para dezembro de 2023 foi mantido em R$ 23,50 por ativo, oferecendo um potencial de valorização considerado atrativo pelo JP de cerca de 30%. A recomendação segue overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra).

Na noite da véspera, o Morgan Stanley publicou relatório em que elevou o preço-alvo para as ações da Assaí de R$ 22 para R$ 27, ou um potencial de alta de 50,7% em relação ao fechamento da véspera. A recomendação seguiu overweight.

Andrew Ruben, analista do banco, aponta que o sucesso da conversão de lojas é o principal fator para os resultados do Assai — e seu mapeamento aponta para um potencial de vendas das lojas convertidas significativamente acima da base principal do Assai.

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As lojas “cash & carry” (atacarejo) estão se tornando cada vez mais o formato de supermercado  dominante no Brasil, e o setor está passando por uma onda de consolidação, avalia Ruben.

O analista do banco lembra que, visando locais estratégicos, o Assaí anunciou a aquisição de cerca de 70 lojas do hipermercado Extra em outubro de 2021, e as conversões para a bandeira do grupo começaram recentemente.

“Adicionando mais de 40% à área de vendas do Assai (após a conclusão da conversão em meados de 2023), vemos a transação como transformacional, mas a visibilidade dessas lojas permanece baixa”, avalia.

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Ao fazer um mapeamento capturando cerca de 1.100 lojas de 20 marcas diferentes de empresas do setor de varejo de alimentos/atacarejo e cruzando com dados de população e PIB, o modelo do Morgan mostra que as lojas Extra estão localizadas em cidades com população 30% maior e PIB per capita 6% maior do que a presença do Assaí atualmente – criando espaço para produtividade de vendas significativamente maior do que a base principal do grupo.

Dessa forma, para 2024, primeiro ano completo pós-conversões, os analistas veem o crescimento do lucro por ação acelerando. Incorporando a maior produtividade do Extra convertido em seu modelo, as previsões de receita para o Assaí subiram 6% para os próximos dois anos.

Olhando para o curto prazo, com relação aos resultados do terceiro trimestre de 2022, a Genial Investimentos destacou que os números são bastante aguardados porque é a primeira temporada que consolidará as conversões das lojas Extra aos resultados operacionais da companhia.

Os analistas calculam que o cenário de inflação e deflação em um mesmo trimestre irá desacelerar o crescimento de receita da companhia, com o faturamento líquido somando R$ 14 bilhões, alta de 29,3% ano a ano.

Saiba mais: Confira o calendário de resultados do 3º trimestre de 2022 da Bolsa brasileira

A Genial também estima pressão no lucro operacional, com a margem Ebitda ajustada em 6,8% (-2,14 pontos percentuais), reflexo de investimento em preço, gastos com despesas pessoais e fraca diluição de vendas – volume de abertura das lojas de conversão aconteceu basicamente em setembro. Também esperam aumento nas despesas financeiras, dado o custo médio de dívida de CDI +1,5% com uma Selic a 13,75%.

(com Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.