Assaí (ASAI3): alta alavancagem ofusca operacional e ações desabam 8,5% após resultado do 1º tri

Gastos financeiros e queima de caixa pesaram no balanço, apesar de alta da receita e do Ebitda em meio a conversões

Vitor Azevedo

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As ações ordinárias do Assaí (ASAI3) registraram uma sessão de forte queda nesta sexta-feira (5), com os ativos fechando em baixa de 8,54%, a R$ 10,50, A queda acontece após a rede de supermercados ter, na véspera, divulgado seu resultado do primeiro trimestre, que foi considerado de “neutro para negativo” do lado operacional por analistas, mas com alguns pontos, principalmente de alavancagem, que levaram a uma forte queda dos papéis.

O grande impacto desse trimestre, conforme aponta a Genial, veio do alto nível de alavancagem, pressionando o resultado financeiro e trazendo o lucro líquido abaixo dos R$ 100 milhões pela primeira vez em mais de 3 anos. Com uma relação Dívida Líquida/Ebitda de 2,78 vezes, a alavancagem deste trimestre foi impactada pelo cronograma de pagamentos ao Extra e por outros investimentos relacionados ao plano de expansão.

“Acreditamos que, passados os pagamentos das lojas convertidas, as novas unidades devem impulsionar a geração de caixa operacional, aliviando o nível de alavancagem da companhia a partir do segundo semestre. Esperamos uma forte recuperação ao longo da segunda metade do ano”, avaliam os analistas da casa.

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Vale ressaltar, dizem os analistas, que outro montante de venda do controlador Casino ainda neste ano poderia pressionar as ações no curto prazo. O lock-up restringe a venda das ações por parte do grupo francês por 90 dias após a última oferta, que ocorreu em março. “Ainda assim, acreditamos que seria uma pressão de curto prazo sobre o papel, já que a companhia segue entregando uma boa performance operacional”, afirma.

“Acreditamos que o crescimento da receita e a margem Ebitda [Ebitda = lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, sobre receita] eram amplamente esperados, mas a perda de lucro líquido pode afetar o sentimento dos investidores”, avaliou o Bradesco BBI antes da abertura do mercado, já trazendo alguma indicação do que poderia afetar a ação no pregão desta data.

O Assaí trouxe uma receita de R$ 15,1 bilhões, alta de 31,9% no ano. O Ebitda foi de R$ 951 milhões, subindo 26,5% na mesma base, com a margem ficando em 6,3%, leve queda de 0,3 ponto percentual. O lucro líquido, contudo, recuou 66,4%, para R$ 72 milhões, com a companhia impactada por maiores despesas financeiras.

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“A desaceleração nas vendas nos dois maiores players brasileiros de atacarejo, contudo, confirmam um cenário competitivo mais difícil e ventos contrários à desaceleração da inflação de alimentos”, fala a equipe do Bradesco BBI, chefiada por Felipe Cassimiro.

Para o Itaú BBA, o pior fluxo de caixa e a alavancagem, em meio a uma taxa de juros mais elevada no Brasil, foi um ponto de atenção.

“Os resultados do Assaí ficaram em em linha com nossas expectativas, com um resultado final batendo 26% nosso consenso, devido à nossa premissa conservadora para os benefícios fiscais”, fala a equipe do banco, liderada por Thiago Macruz.

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Para o banco, a trajetória de crescimento da empresa continua alinhada com sua visão, mas houve uma venda nas mesmas lojas (SSS, na sigla em inglês) mais fraca. A pressão na margem Ebitda, para eles, parece razoável, considerando os investimentos do Assaí em sua expansão.

“O resultado financeiro mais pesado levou a uma queda de 59% do lucro líquido em relação ao ano anterior, para R$ 72 milhões”, aponta o BBA. “O índice de alavancagem [medido pela relação entre dívida e Ebitda] deve ser monitorado de perto. Embora a empresa reporte uma alavancagem de 2,8 vezes, ela seria maior se considerarmos as contas a pagar das lojas compradas do Extra e os recebíveis descontados”, explicam.

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Entre janeiro e março, o Assaí registrou um resultado financeiro negativo em R$ 428 milhões, alta de 111,9% no ano.

O Morgan Stanley, por fim, é um pouco mais otimista. O banco americano vê que o processo de abertura de lojas do grupo deve, de forma natural, diminuir a alavancagem no futuro.

“As vendas líquidas aumentaram 32% no ano, com 7,1% de comparação, enquanto o resultado da receita ficou 8% abaixo do nosso consenso, por conta de um ritmo de conversão mais lento no trimestre do que havíamos previsto”, falam os analistas Andrew Ruben e Alexandre Namioka. “O pico de conversões está atrasado, mas as curvas de maturidade de vendas e margem parecem seguir o planejado”.

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O Santander, por fim, afirma que os resultados do Assaí foram decentes, mas ofuscados pela despesa financeira e pela queima de caixa, que foi de R$ 362 milhões.

Executivos do Assaí de olho em cenário macroeconômico

Os diretores do Assaí, em teleconferência realizada na manhã de hoje, confirmaram que com a inflação mais baixa e o juros mais alto o cenário vem mudando um pouco para as empresas de atacarejo.

“Atacarejo tem potencial de atrair clientes, mas questão de renda, de olho na inflação, aumenta a nossa atratividade. As pessoas querem economizar”, falou Belmiro Gomes, diretor executivo (CEO) do grupo.

De acordo com ele, a depender de como as coisas se desenrolarem, as projeções para 2024 podem mudar – apesar de as para 2023 estarem mantidas.

“Dependendo da taxa de inflação, podemos ter um clima de incerteza. Será daqui para frente que teremos mais indicações. Na expansão orgânica, seremos mais cautelosos. Se o Copom tivesse iniciado o movimento de baixa da taxa, iniciamos nossa expansão”, disse o executivo. “Guidance de 2024 pode ser afetado e terá o componente de inflação. Vamos ver como será o segundo semestre”.

Ele lembrou que clientes continuam procurando o formato em busca de preços menores. Apesar dos índices de inflação estarem desaceleração, os preços estacionaram em patamares elevados. Do ponto de vista inflacionário menor, contudo, há uma diminuição do ganho. Clientes, por exemplo, deixam de montar estoques maiores.

“Não estamos cancelando nenhum projeto, mas queremos reduzir nível de alavancagem e vemos uma redução de expansão no mercado como um todo. Movimento, porém, não é de preocupação”, explica. “Há um custo de carregamento maior de dívida, pelo momento em que estamos. Vamos terminar as conversões, não há planos de interrompê-las. Isso cabe apenas nas aberturas”.

Quanto ao resultado financeiro, os executivos falaram que esperam algo semelhante no segundo trimestre àquilo registrado no primeiro e uma leve deterioração no segundo semestre.

Na alavancagem, do lado da dívida, o Assaí estuda algumas formas de melhorar o seu caixa, mas enfatizou que não há nada em vista quanto a uma oferta primária de ações. De qualquer forma, para os executivos, a abertura das novas lojas, e seu impacto no Ebitda, deve tirar alguma pressão desta frente.